Capítulo 9

~ Angelo

Acordo com o nascer do sol, tomo um banho bem gelado e após ficar pronto, me direciono ao escritório. Acima da mesa já está uma pilha de documentos, acredito serem as fichas da tal médica que solicitei à Gustavo na noite passada.

Sento e me debruço sobre o máximo de informações que continham àquelas folhas.

- Muito interessante, então seu nome é Martina, 24 anos, brasileira, solteira, médica no hospital Florine a um ano e meio...

Dentre aqueles documentos, o que mais chamou atenção de Angelo foram os dados sobre a família de Martina, certamente ele guardaria aquelas informações, pois poderiam ser pertinentes futuramente.

Algo interno em seu subconsciente o alertava sobre aquela moça, não seria certo simplesmente deixá-la retornar à sua rotina como se nada tivesse acontecido. Por essa razão, colocou alguns homens para vigiá-la durante os próximos dias.

Ligou o monitor à sua frente para ter certeza se os sistemas estavam funcionando corretamente. Nas imagens, Martina estava aparentemente prestes a sair de casa, o que deixou Angelo em alerta, então marcou o horário de sua saída. E assim fez, continuamente durante a próxima semana, se aprofundando mais sobre a vida da moça, descobrindo cada detalhe de seu passado, cada passo que ela dava era monitorado e transmitido a Angelo em relatório. Martina virou sua obsessão particular.

~ Martina

Essa semana passou rápido, tentei colocar minha vida em ordem, fiz compras, cuidei do meu corpo, aparei a grama e podei as flores do meu jardim, colhi os frutos e vegetais de minha pequena horta, tudo que correspondesse à rotina de uma jovem senhora.

Entretanto, já estava cansada dessa rotina monótona, meu corpo clamava por trabalho, adrenalina em ajudar alguém em estado crítico de saúde, o sentimento de ver pessoas recebendo alta... Por sorte, amanhã retornarei ao trabalho, o que me deixava muito feliz e animada.

Porém, havia algo que me incomodava mais do que a monotonia. Os últimos dias foram marcados por um intenso sentimento de estar sendo observada. As vezes chegava até ver vultos pela janela, andando na rua, como se fosse um fantasma me acompanhando por onde ia. Já não saia mais a noite, não me sentia segura após sofrer aquela espécie de sequestro maluco.

Acordo cedo no outro dia, faço minha higiene pessoal, tomo um belo café da manhã e vou em direção ao hospital, no caminho deixei meu carro numa oficina para fazer revisão e segui o restante do caminho a pé. O sentimento de liberdade sempre me atraiu, visto que no passado era como se fosse um pássaro que teve as asas cortadas...

Chego ao hospital e começo a exercer minha função animadamente. Encontro Pietro algumas vezes pelos corredores do hospital, nos cumprimentamos e seguimos com os trabalhos.

Haviam muitos pacientes essa manhã, aparentemente estamos diante de um surto viral, pois os sintomas são semelhantes entre eles.

Já no fim do dia, sigo meu caminho a pé, andando pelas ruas, observando as pessoas que passavam próximas a mim. Em dado momento, percebi a presença de uma figura masculina atrás de mim, sinto que está me seguindo a um bom tempo. Nesse momento meu corpo já estava alerta, então decido apressar o passo para tentar desvencilhar do caminho desse maluco.

O cara começa a andar mais rápido, diante disso, passo a correr pelas ruas, já pouco movimentadas, devido estar escuro pelo início da noite, corri pelos becos e currutelas de Munique o mais rápido que conseguia, meu coração estava acelerado, e o cansaço se aproximava. Ele não desistia por nada, não parava, por mais que eu tentasse desviar de caminho, continuava no meu encalço. Foi quando, sem perceber, fiquei encurralada em um beco sem saída, o homem para à minha frente, logo atrás estaciona um carro preto. O homem avança em minha direção, eu tento resistir ao seu ataque, mas ele põe um pano sobre minha boca e nariz, então minha visão escurece.