Capítulo 4

~ Martina

Olhe para mim agora, presa sozinha em uma sala de cirurgia, tentando a todo custo estancar a hemorragia interna para assim extrair o último projétil alojado no corpo do paciente, sob a ameaça não só de minha própria vida como a de toda a equipe do hospital. É tanta pressão que por vezes, me deparei prendendo a respiração durante o procedimento.

Já estava quase finalizando, dando os últimos pontos. Foi então que reparei na fisionomia do meu até então paciente. Se tratava de um homem de aparência severa, sua estatura era imensa comparado a mim, as mãos espalmadas eram o dobro das minhas. E o rosto era incrivelmente bonito, com feições robustas e bem delimitadas.

Passei algum tempo a observá-lo, tanto que até me perdi em meus pensamentos.

Checo mais uma vez seus batimentos, saturação, pressão, vejo que está tudo ok. Então respiro fundo e me encho de coragem para encarar aqueles homens a postos do lado de fora da sala.

- Co..con..Com licença. O paciente está estável, consegui reanimá-lo e logo após estanquei a hemorragia interna e retirei as balas alojadas no corpo dele. No momento ele está sob o efeito dos sedativos, provavelmente irá acordar amanhã.

Todos que estavam presentes no corredor pararam para ouvir a notícia, com feições de alívio e presteza.

- Ótimo, ouviram isso? nosso líder está vivo. - Disse aquele que aparentava ser o mais velho do grupo em alta voz.

Por estar muito cansada, tentei me retirar do local para tomar um ar e comer algo, foi quando seguraram meu braço fortemente, me fazendo cambalear.

- Aonde pensa que vai? - perguntou o mesmo homem.

- Por favor, preciso descansar um pouco. Estou há mais de 12 horas no mesmo plantão, chamarei uma enfermeira para cuidar dele durante sua recuperação. - falei com a voz rouca, embargada pelo cansaço que tomava meu corpo.

- Você não sai dessa sala enquanto ele não receber alta. Se já tratou do chefe até aqui, pode continuar acompanhando seu estado até o fim do tratamento.

Fiquei pasma com aquela declaração, realmente se tratava de um cárcere privado, o que minha vida havia se tornado?!? Realmente, sempre há como as coisas piorarem.

Apesar do cansaço, retornei ao meu posto cabisbaixa, com os olhos embaçados pelas lágrimas, pois não fazia ideia do que seria de mim se algo acontecesse com aquelas pessoas.

Desde os acontecimentos de mais cedo, havia perdido a noção das horas, quando olhei no relógio já passavam das 23:00 hrs, e o vento soprava frio pelas ruas de Berlim, dava pra sentir pela janela do quarto do paciente.

Um dos brutamontes trouxe comida, alguns produtos de higiene pessoal e por incrível que pareça, algumas peças confortáveis de roupas. Comi minha refeição sentada na janela do quarto andar, no hospital o qual eu era mantida prisioneira, forçada a tratar de um enfermo que certamente poderia ser um assassino sanguinário. Essa sena parece até uma história revisada na mente de um louco de pedra.

~ três dias depois ~

O paciente respondia bem aos medicamentos, nada de surpresas durante a madrugada. Já não estava mais sob o efeito de sedativos, apenas alguns medicamentos que amenizam a dor.

Após um breve banho, fui até ele para verificar novamente seus sinais vitais. Apesar de estar nessas condições, amava meu trabalho.

Quando me aproximo sobre ele para verificar os aparelhos, sinto uma mão enorme rapidamente envolver meu pescoço. O paciente estava acordado e seu olhar raivoso sobre mim, indicava que esse seria meu fim, já não conseguia mais falar para me justificar de toda aquela situação, devido à força que exercia sobre mim, ao ponto dos meus pé serem erguidos do chão. Nesse momento desesperador, apenas lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Tentava a todo custo me soltar dele, mas suas mãos eram muito fortes, já não sentia mais o ar pelos pulmões e fui perdendo aos poucos meus sentidos.

Meus olhos estavam turvos, parecia que o mundo havia ficado mais lento e esse parecia o sinal de que era o meu fim. Meu último sentido foi ouvir ao longe a porta sendo escancarada, no entanto, já era tarde demais para mim, a escuridão havia preenchido minha visão.

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