Por que você está se intrometendo?

A aula continuou normalmente, mas a professora não olhou para onde estávamos nenhuma vez. Acho que depois de Lorenzo mencionar o nome de Roberto, ela percebeu com quem estava mexendo. Claro que não vou deixar isso barato, não sou do tipo que aceita ser pisada por ninguém.

Senti o olhar de Lorenzo em mim, então me virei. Ele não fez questão de disfarçar, e logo acabou escrevendo no seu caderno.

("Pensei que sua intenção era fazer ele te amar, e não ser odiada…")

Eu olhei para ele, que sorriu levemente.

("Uma coisa é fazer ele me amar, e outra é ser humilhada. Faz parte do meu plano, então fique tranquilo! Aliás, por que se transferiu para essa turma? Tenho certeza de que aquilo foi somente uma desculpa!")

Lorenzo olhou para os lados e depois escreveu uma resposta.

("Mantenha seus amigos por perto, e seus inimigos mais ainda! É aquele velho ditado!")

Eu olhei para Benjamin e Noah, que já haviam parado de nos olhar.

("Não tem medo de ser pego?'')

Ele nem parecia pensar muito.

("Por que eu deveria? Acho que você é muito mais perigosa do que eles… Se eu não interferisse, você iria bater na professora, certo? Vi o que você fez com Dayse, e sei que não aceita coisas assim, por isso preferi evitar que você a matasse.")

("Está exagerando, eu apenas ia devolver o tapa que ela pretendia me dar! No momento em que ela tentasse me tocar, ela receberia o que merece!")

Lorenzo riu.

("Sim, exatamente por isso eu interferi. Não quero que suje suas mãos com pessoas assim!")

("Por que mostrou aquela gravação? Eu conseguiria me virar sozinha, você sabe…")

Lorenzo se virou para mim e colocou a cabeça na mesa.

-Por que que odeio injustiças… -Ele sussurrou enquanto me olhava nos olhos.

Eu me virei, e continuei escrevendo a lição.

Algumas vezes os olhos de Benjamin se encontravam com os meus. No intervalo, Lorenzo saiu dizendo que precisava conversar com um dos ex-colegas dele.

Eu já esperava que ele fosse ficar na minha cola o dia todo, pois pelo menos ele tem bom senso, então acabei saindo sozinha.

Estava mais cheio os corredores, já que a maioria dos alunos estavam fora de suas salas. Enquanto passava por eles, percebi como era revigorante ser invisível aos olhos dessas pessoas. Mafiosos… Eu os odeio, Lorenzo também está incluso nesse meio, assim como é o mesmo para ele.

Eu sou irrelevante para todos, mas ele é alguém que me acha útil. Na verdade, até eu sei que Roberto pensa que minha presença não faz diferença, ele ainda me protege por ter uma pequena esperança que seu filho me veja com outros olhos, mas no fundo, até ele sabe que isso é impossível.

Eu estava perdida nos meus pensamentos que nem percebi que alguém estava atrás de mim. Fui jogada no chão com força, e quando olhei para trás, percebi que foi Dayse a culpada.

-Resolveu me intimidar agora? -Eu ri.

-Não é bem assim, apenas gosto de ver um pedaço de merda como você de joelhos aos meus pés! -Ela me olhou com nojo.

-Uma pena, eu não estou de joelhos para você, afinal eu caí praticamente sentada. -Me levantei, ainda sorrindo.

Por perceber que sua provocação não fez efeito, Dayse tentou bater no meu rosto.

-Você é fraca demais, se você não fosse mais velha, eu duvidaria sobre quem é a verdadeira filha de Lucius! Uma "bastarda" igual a mim, se parece mais com o pai do que sua filha legítima. -Segurei a mão dela, evitando que ela me batesse.

Ela estava prestes a explodir.

De repente, alguém me puxou com força. Antes de ver o rosto, já tinha certeza que era Benjamin.

-Não cansa de fazer mal para ela? -Ele me empurrou contra a parede, apertando minhas mãos com muita força.

(Mesmo depois de ouvir a gravação, ele ainda defende ela…)

-Eu preciso te ameaçar para que a deixe em paz? Eu não vou amar você, então não incomode mais ela! Você mesma disse que não é minha esposa apenas no papel, então deixe ela, que verdadeiramente é a "minha mulher" em paz!

-Paz? No momento em que vocês dois mexeram comigo, perderam isso que chamam de paz, pois será algo que nunca os darei! Você… Me trai abertamente, sempre procura ela ao invés de mim… (Hora do drama!) -Eu quase morri por sua culpa, e ainda sim a primeira pessoa que você procura sempre é ela!

Demonstrar meus sentimentos… Bom, estou fazendo isso, mas claro, eles não são verdadeiros.

-Eu… Odeio você! Perdi minha família, fui obrigada a casar com alguém que desde o começo nunca me tratou bem. Essa situação é tão desgastante, sabe por que eu fui tão bruta com você desde o começo? Porque desde a primeira vez em que nos vimos, você nunca demonstrou um pingo de compreensão ou afeto que eram verdadeiros.

(Lágrimas… Seria perfeito, certo?)

-Eu… Queria me dar bem com você, e te conhecer melhor… Eu gosto de você, mas também te odeio! Benjamin, você foi a pior coisa que me aconteceu em toda a minha vida, não sei porque ainda tento recuperar uma relação que nunca existiu amor.

Eu sou alguém sem sentimentos? Quando eu era criança, ouvi isso dos meus colegas. Os pais de alguns não gostavam que seus filhos fossem meus amigos. Sempre me perguntei a razão porque eu era assim, já que meus pais sempre foram pessoas calorosas. A resposta é: Lucius. O homem que me deu a vida, mas que também a destruiu, nesse momento eu tive mais certeza do que nunca, eu era exatamente igual a ele. Agora eu tenho mais um motivo para me odiar, essa personalidade repugnante, eu a odeio…

Minhas mãos estavam doendo, eu poderia me soltar se quisesse, já que eu aprendi a lutar um pouco com meu pai quando criança, mas como sempre, coloquei minha vingança a frente.

-Eu te odeio, Benjamin! Te odeio, te odeio, te odeio!

(Um clássico que nunca falha, falar que odeia alguém repetidamente…)

Minhas lágrimas estavam descendo, e a expressão de raiva que Benjamin tinha, estava se desfazendo.

-Solta ela! -Lorenzo apareceu do nada, empurrando Benjamin.

Olhei para os meus pulsos, estavam completamente vermelhos e doloridos.

Lorenzo veio até mim e pegou as minhas mãos com cuidado. Ele estava com raiva, e se virou para Benjamin.

-Você tem problemas? Mesmo que estejam casados, você não pode machucá-la assim!

(O que ele está fazendo? Ele deveria deixar eu resolver tudo sozinha!)

-Quem é você para se intrometer nos nossos assuntos? -Benjamin não escondeu sua hostilidade.

-Você é um babaca! Olhe para os pulsos dela, não percebeu que estava machucando? Não viu suas lágrimas? Você é pelo menos humano? -Lorenzo estava se controlando, pude perceber isso.

Antes que Benjamín desse reposta, Lorenzo me levou para longe dele.

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