Biscoitos

Provavelmente eu estava mais cansada do que imaginava, já que acabei dormindo bastante. Quando acordei, Lorenzo estava me observando.

— Você dormiu bem… — Ele sorriu. — Vou buscar seu café.

— Tudo bem.

Alguns minutos depois ele voltou com uma pequena bandeja, havia café, torrada e alguns biscoitos.

— Eles têm uma aparência diferente, onde comprou esses biscoitos? — Eu já estava mordendo.

— Eu que fiz.

— Não tem veneno nisso, certo?

— Claro que não!

— Quando você teve tempo de fazer biscoitos?

— Você sabe quanto tempo dormiu? Aliás, acredito que não percebeu, mas tem uma cozinha bem pequena aqui, e eu visito esse lugar com frequência, então sempre tem ingredientes.

— Hum… Sabe, é bem gostoso! Mas você precisa melhorar um pouco a aparência deles. Posso te ajudar nisso algum dia.

— Por que não hoje?

— Temos que voltar, se lembra?

— Não necessariamente agora, eu fui até o acampamento mais cedo, e ninguém ao menos notou que você sumiu. Terá algumas atividades agora a tarde, mas a chamada será feita quando todos estiverem voltando ao ônibus. Nesse momento vão perceber sua falta.

— E a sua também, não acham que irão desconfiar?

— Já resolvi isso, meu tio vai ligar para eles dizendo que já voltei. Ele é de grande ajuda em momentos assim, e também deseja vingança pelo que Roberto fez.

— Ele não tem desejo pelos seus negócios?

— Não, meu tio não gosta de estar envolvido nisso, ele tem uma esposa que ama muito, e não quer coloca-lá em risco.

— Entendo, então vamos apenas continuar aqui até quanto tempo?

— Seria bom até amanhã, não acha?

— Sério? Não estou afim.

— Fernanda, apenas ouça o que digo, se você voltar hoje, vai ser o mesmo que nada.

— Certo, já entendi.

— Então, vamos fazer biscoitos?

— Sim…

Lorenzo me disse que era uma hora, eu dormi bastante mesmo, talvez por conta do estresse. Não fiquei decepcionada em saber que eles não perceberam que desapareci, mesmo que Benjamin e eu deveríamos ficar juntos na barraca.

— Qual tipo de biscoitos você gosta? — Não sei se Lorenzo achava que eu estava afetada, mas ele parecia querer me animar.

— Na verdade, não tenho um gosto específico.

— Então vamos fazer o mesmo de antes, mas agora com sua ajuda!

Colocamos a mão na massa, eu achei interessante ver Lorenzo na cozinha. Nunca imaginei alguém como ele fazendo isso.

— O que está olhando tanto?

— Apenas é divertido ver você fazendo isso. Sendo sincera, você não me parece ser alguém que faz seus próprios biscoitos.

— Faço muito mais do que isso, mesmo ainda pequeno, meus pais me ensinaram muitas coisas, e depois que eles morreram, meu tio continuou fazendo isso por mim.

— Eles devem ter sido boas pessoas.

— Realmente eram, e eu sinto falta deles…

Lorenzo ficou triste, mesmo tentando disfarçar, pude perceber isso. Para mudar o clima, peguei um pouco do chocolate derretido e passei no rosto dele.

— Ei! — Ele tenta fazer o mesmo em mim, mas eu corri.

Lorenzo veio atrás de mim, e eu continuei correndo dele. Estávamos nos divertindo muito, e ele acabou me alcançando.

— Parada aí! — Ele puxou meu braço, e eu acabei batendo de cara no seu peito.

— Essa doeu…

Ele passou o chocolate no meu nariz.

— Vingança! — Ele sorriu, depois ficou olhando para mim.

Lorenzo estava praticamente me abraçando.

— Já está apaixonado por mim?

— Eu? Claro que não!

— Então por que não me soltou ainda? E você estava olhando demais para mim!

Ao perceber, ele me soltou e caminhou até a cozinha. Eu o segui…

— Os biscoitos queimaram… — Ele tirou a bandeja do forno, estava igual pedra.

— Como a gente não reparou no fedor de queimado?

— Também não sei…

Ainda bem que tínhamos mais massa, então colocamos o restante dos biscoitos para assar e jogamos fora os queimados. Meu celular ficou nas minhas coisas, então nem tinha noção do horário. Quando os biscoitos ficaram prontos, Lorenzo e eu sentamos outra vez em frente a lareira, mas dessa vez ele pegou alguns jogos de tabuleiro.

— Você gosta de jogos hein… tem bastante.

— Eu gosto, mas não tenho ninguém para jogar comigo.

— Por que não chama seus capangas?

— Não é bom quando eles estão aqui contra a própria vontade, e também todos me acham assustador. A verdade é que nenhum deles me conhece de verdade.

(Lorenzo é tão solitário assim? Não tem nem mesmo um amigo?)

— Vamos jogar esse! — Aponto para um que nunca vi.

— Tem certeza? É bem difícil…

— Está tudo bem, gosto de um desafio!

Ele ganhou a primeira rodada, e eu três seguidas após aprender a jogar. Lorenzo queria revanche, mas acabamos escolhendo outro jogo. Horas se passaram, já estava escuro. Lorenzo e eu fomos dormir, mas diferente do dia anterior, eu dormi pouco tempo propositalmente, para parecer mais cansada quando chegasse meu momento de voltar.

Lorenzo me acordou tarde aquele dia. Me recusei a tomar café, e também pedi que ele me ajudasse a parecer suja. Enquanto estávamos voltando, passei minhas roupas nos galhos e joguei terra nela. Eu realmente exagerei, mas não importava. Lorenzo ficou um pouco irritado por eu arranhar meus braços para parecer machucada, mas isso não importava para mim. Já sofri dores piores do que pequenos arranhões, e ele sabe disso.

Ele me levou para um lugar um pouco longe de onde todos estavam, e colocou algumas pistas para que pudessem me encontrar, ele rasgou um pedaço pequeno na minha blusa e colocou presa em um galho, sujei um dos meus sapatos e entreguei para ele, que deixou em algum lugar. Depois de uma hora, escutei passos, comecei a chorar falsamente, e joguei terra no meu cabelo e no rosto. Digna de ser atriz, posso dizer…

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