Dylan

Quando cheguei ao meu quarto, tinha um uniforme e uma carta na minha cama.

— “Daqui a uma semana você começará a frequentar a escola, continuo resolvendo a situação da sua mãe, então se esforce para se adaptar e se dar bem com todos. Espero que tenha uma boa estadia aqui, assinado Roberto.”

(Sério que ele ainda opta por escrever cartas? Poderia apenas pegar o meu número, se bem que ele não o tem. Enfim, ainda bem que meu celular estava comigo quando fui trazida, seria muito mais chato.)

O uniforme é bem bonito, mas diferente do padrão das escolas que já frequentei.

— Parece que saiu de dentro de uma história… ou talvez eu tenha lido demais?

Após tomar um banho, encaro meu guarda-roupa.

— Ele disse que sou brega, mas as roupas que tenho agora foram dadas pelo pai dele.

Escolho uma peça e termino de me arrumar. Decidi encontrar Roberto para perguntar sobre aquela cláusula do contrato, tenho certeza de que não tinha antes.

— Por que ainda não consigo me acostumar com essa casa? — Ando tentando me lembrar do caminho para o escritório.

Paro ao ouvir a voz de Lucius.

— Eu não posso entregá-la. Aquela mulher fugiu de mim anos atrás e criou minha filha com outro homem!

(Haha… Como se ele se importasse comigo…)

— Ainda sim, acredito que seja melhor para a Fernanda ter algum familiar por perto, afinal sua outra filha tem vocês. — Ao dizer “filha”, Roberto fala com desprezo por ser sobre Dayse.

— Dayse é diferente, ela é minha herdeira legítima, precisa viver bem.

— Lucius, não me faça perder a paciência! Espero que tome a decisão certa e me entregue a Matilda!

Escuto passos, mas não faço questão de me esconder, queria que Lucius soubesse que estou determinada a recuperar minha mãe.

Ele aparece na minha frente.

— Pensei que você se comportaria para que sua mãe ficasse segura!

— Não sei por que, mas minha intuição me disse que você não iria deixar ela segura mesmo se eu fosse a pessoa mais obediente do mundo! Mas fique tranquilo, não coloquei nada a perder, já a sua “filhinha”, não é o mesmo caso.

— O que está dizendo?

— Ah, realmente eu nem deveria dizer isso, ela continua perseguindo o Benjamin por culpa sua. Sabe, se continuar usando suas duas filhas para conseguir dinheiro, acabará se dando mal. Pense bem, se algum deles descobrir o que você está planejando, pode acabar perdendo tudo, apesar de que não me importaria de ver você na lama mesmo que eu fosse expulsa daqui!

— Nem pense em fazer algo estúpido!

— Eu? Deveria olhar para si e para sua filha legítima, já que é a única que importa para você!

Entro no escritório de Roberto. Pelo rosto dele, não parece ter ouvido o que Lucius e eu conversamos, estávamos falando bem baixinho.

— Você encontrou com ele?

— Sim. Pela cara que ele estava, provavelmente se negou a entregar a minha mãe, certo?

— Lucius é difícil de lidar…

— Por que ainda é amigo dele?

Roberto pensa um pouco.

— Crescemos juntos, então ele sempre foi meu melhor amigo. Sendo sincero, não pensei que ele se afundaria tanto.

— Ainda sim, você não deveria ajudar ele, não depois de tudo.

— Não é exatamente culpa dele que Dayse agiu assim.

— No fundo, você sabe que ele esteve por trás dela… mesmo que defenda, não muda que Lucius se importa mais com o dinheiro do que com a amizade.

— Sei que Lucius esteve envolvido nos esquemas dela, mas prefiro não acreditar.

— Por que todos dessa família são assim?

— Assim como?

— Preferem acreditar na falsa integridade de uma pessoa que os enganou. Se Dayse no final não escolhesse o Benjamin, provavelmente a perdoaria pela tentativa de assassinato, certo?

Roberto parece meio pensativo.

— Não precisa me responder, na verdade, eu sei que mesmo sendo mafioso, você tem um bom coração. Mas Roberto, se continuar confiando em qualquer um cegamente, irá acabar morto de verdade.

Eu me levanto.

— Espere, preciso te entregar isso!

Ele coloca um celular ainda na caixa com um chip.

— Precisa de um novo, provavelmente o seu é antigo e também é melhor perder contato com seus antigos conhecidos. Me desculpe por isso, mas agora que está envolvida com a máfia, qualquer pessoa pode tentar se envolver com você por dinheiro.

— Deveria pensar nessas coisas também, não existe somente a Dayse de golpista no mundo.

Eu pego o celular e o chip e vou para o meu quarto. Desligo e guardo meu antigo celular.

— Adeus, velho parceiro!

Roberto nem mesmo precisava me dar um novo, afinal eu não tinha amigos, nem mesmo na escola.

— Certo… mas o que tem para fazer aqui?

Fiquei entediada e dei um passeio no jardim. Havia algumas partes que não vi que tinha.

— Esse lugar é mesmo enorme!

— Olá! — Alguém de repente pega minha mão e a beija.

— Quem é você? — Puxo de volta com toda força.

Ele me analisou de cima a baixo.

— Sabia que isso é desconfortável? Se puder parar, agradeço!

Ele continuou me observando, até que finalmente resolveu abrir a boca.

— Sou Dylan, prazer em conhecer você.

(Esse nome… ele é o primo de Benjamin que teve um caso com Dayse?)

— Me reconheceu? Fico feliz que já tenha ouvido falar de mim, vamos nos ver com frequência daqui para frente.

— Quem te iludiu?

— Oh… -Ele ri. — Estou dizendo que vamos estudar juntos! Você tem um palavreado divertido, Senhorita Carmono.

— Primeiro me chamou de Fernanda, e agora quer usar formalidades? E, aliás, esse sobrenome não me agrada!

Ele continuou rindo.

— Nós vemos na escola, Carmono! Nos daremos muito bem! — Ele manda beijinhos.

(Eca…)

— Fala sério, cara!

Ele acenou para mim e saiu.

(Terei que aguentar esse cara chato?)

Depois de encontrar Dylan, fiquei apenas por alguns minutos no jardim e voltei para dentro.

Fiquei no meu quarto o dia quase todo, uma empregada me disse que Roberto me pediu para que eu os acompanhasse à mesa.

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