Tudo está indo de acordo ao plano!

Me encolhi no canto perto de uma árvore esperando eles chegarem. Como o esperado, Benjamin apareceu, era provavelmente o peso da culpa.

— Fernanda? — Ele correu até mim, me segurando nos braços. — Você está bem?

Eu não dei nenhuma resposta, pois queria parecer traumatizada. Fiquei olhando fixamente para a frente, como se estivesse vendo apenas um ponto específico. Ele andou um por um certo tempo, e lá estavam Dylan e Noah.

— Como ela está? O que aconteceu? — Noah estava com uma expressão de culpa estampada na cara.

Continuei quieta sem me mexer.

— Eu não tenho certeza, ela não disse uma palavra, e não parou de olhar para frente.

— Vamos a levar para o carro.

Não imaginei que os três pudessem entrar de acordo, exceto se seja algo que favorecesse Dayse. Quando chegamos, Roberto estava andando de um lado para o outro, e quase pulou de susto ao me ver.

— O que aconteceu com ela? — Ele correu até mim, sem saber o que fazer.

— O médico chegou? — Benjamin disse, tirando o pai do estado de choque em que estava.

— Está no quarto dela… a empregada vai ajudá-la a tomar banho, levem-na e voltem para podermos conversar seriamente.

Tudo realmente estava correndo como no meu plano. Me segurei para não sorrir. O médico estava lá realmente, mas ele estava assustado, provavelmente meu estado era lamentável. A empregada pediu que o médico saísse por um tempo, assim ela me faria banho antes da consulta. Não gosto da ideia de ser tratada como criança, mas não tenho escolha se quiser que tudo ocorra bem.

Demorou mais do que eu pensava, provavelmente exagerei quando fiz tudo isso. Meu cabelo estava tão sujo que ela ficou muito tempo lavando. Depois de finalmente terminar, o médico voltou. Ele colocou vários curativos em mim, e me deu um remédio em comprimido que cuspi quando ele não percebeu. Ele me olhou várias vezes, tentando me fazer ter alguma reação, o médico saiu em busca de Roberto. E finalmente pude respirar por alguns minutos, minha atuação era tão boa que eu mesma quase acreditei que realmente estava doente.

— Venha… — A porta se abriu.

Roberto, Dylan, Noah e Benjamin entraram, o médico veio logo em seguida, e fez os mesmos testes em mim outra vez, tentando me fazer ter reação.

— O que ela tem? — Escutei apenas a voz de Roberto, já que eu estava olhando para baixo, não vi seu rosto.

— Ela parece ter sido algum trauma forte, se ela não melhorar, provavelmente terá que ir a um especialista!

Não sei o que aconteceu, mas de repente alguém saiu da sala.

— Me expliquem direto, o que vocês fizeram?

Percebi que quem saiu foi o médico.

— Pai, ela tentou machucar a Dayse…

Ao escutar isso, Roberto pareceu incomodado, mas se recompôs.

— Se ela fez isso, Dayse deve ter provocado primeiro!

— Não, ela disse que não fez…

— Benjamin! Você é mesmo um idiota! Dayse mentiu tanto, e ainda sim insiste que ela é sempre a vítima!

— Tio, ela tentou queimar o rosto do Dayse… — Dylan também acabou falando.

— E o que você tem a ver com isso? Dylan, o que vocês três disseram para Fernanda?

Deixei lágrimas derramarem do meu rosto, e quando eles notaram, Roberto veio até mim, e os outros ficaram em silêncio.

— Sinto muito por esses meninos ignorantes… eles não conhecem nada da vida, apenas acreditam cegamente naquela garota…

Ele tocou minha mão, depois minha testa.

— Ela está com febre… chamem o médico e depois saiam!

Roberto às vezes se mostrava carinhoso comigo, e eu era grata, mas não muda que ele matou a família de Lorenzo, e ainda o quer morto. Eu não posso me apegar a ninguém dessa família, pois pretendo ir embora ano que vem.

Depois que o médico voltou e me deu outro remédio, fiquei sozinha no quarto. Mesmo estando com febre, me recusei a tomar o remédio, eu sei que não deveria fazer coisas assim, mas estou disposta a tudo pela minha vingança. Eu estava esperando Benjamin, pois assim que ele entrasse no quarto dele, veria meu presente. Na verdade, demorou mais do que eu esperava.

Fiquei em alerta caso alguém aparecesse, e quando ele finalmente veio, demorou um pouco para falar.

— Vi seu presente… eu devolveria, mas você está assim. Você queria me entregar ontem no carro? Me desculpe por não ver…

Ele se abaixou, ficando no meu campo de visão.

— Fernanda… sei que não é sua culpa, mas não posso te amar, se continuar tentando se aproximar de mim, acabará sofrendo. Eu me sinto mal por como eu agi com você, mas Dayse é tudo que tenho, Noah e Roberto são minha família, mas graças a eles tenho muitas feridas.

(Um desabafo? Não estou a fim de escutar sobre sua “triste vida”, a minha é bem pior.)

Benjamin suspirou e ficou em silêncio por um tempo, eu já estava incomodada.

— Fernanda… Eu não queria dizer isso, mas tenho pena de você, por tudo o que aconteceu. Na verdade, eu vejo meu reflexo em você, eu também perdi minha mãe, mas por culpa do meu pai e da mãe de Noah. Estou irritado com você, e mais ainda comigo, porque sinto que a história está se repetindo. Minha mãe era a segunda esposa do meu pai, e ela ficou grávida primeiro, a mãe de Noah a odiava, e alguns anos depois ela matou a minha mãe, e se matou também… Entendo os seus sentimentos, mas não quero que Dayse sofra o mesmo, e ontem, quando você a atacou, eu me lembrei do passado.

Benjamin achava que eu mataria Dayse por ciúmes, eu senti vontade de rir, pois ele não parou para pensar que o contrário poderia acontecer. Se a mãe de Noah matou a dele, significa que Roberto dava mais atenção para ela… Ele não percebeu que está agindo igual ao pai?

— Pensando melhor, talvez devolver seja o certo… — Ele colocou o relógio ao meu lado na cama junto com a carta.

Eu decidi chorar falsamente, meu rosto sem expressão apenas olhando fixamente para o rosto da pessoa que estava abaixada na minha frente. Benjamin pareceu se sentir culpado, e sua expressão se tornou sombria. Ele saiu, me deixando sozinha, eu me olhei no espelho, percebendo como eu estava parecendo. Apenas algumas lágrimas descendo em um rosto com o olhar vazio, era perfeito… olhei para o presente que dei a ele, queria jogar isso fora, mas não posso fazer isso.

Odeio ter que ao menos fingir correr atrás dele, esse rancor e ódio, essa rejeição que ele tem por mim, se fosse em uma ocasião normal, nunca mais olharia no rosto dele.

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