O que ele pretende?

Mais tarde, Roberto deixou minhas coisas no meu quarto. Benjamin não veio me ver mais, e eu aproveitei o momento de paz. Não tinha certeza de quanto tempo eu deveria deixar durar minha mentira, mas não poderia ser por muito tempo.

Esperei três dias para dar sinal de que estava começando a melhorar, me mexendo aos poucos, e o médico me visitava quase todos os dias.

-Ela está melhor, provavelmente em duas semanas já estará completamente curada. Não perguntem sobre o que aconteceu, não sabemos como ela irá reagir. -Roberto concordou com o que o médico disse acenando com a cabeça.

(Hum… Duas semanas… Eu pretendia permanecer assim por menos dias, mas vou continuar quase por esse período de tempo.)

Foi um tédio ficar assim, não me preocupei muito com a escola, já que Roberto é o dono, provavelmente minhas faltas seriam justificadas.

Eu estava fingindo melhorar a cada dia que passava, e não demorou muito para que eu estivesse "curada".

Eu não tive trégua, Roberto me disse que eu deveria ir para a escola, assim eu poderia me sentir melhor. Para mim, enquanto todos estiverem por perto, não ficarei bem, mas o que posso fazer? A única opção que tenho é seguir o fluxo.

Dessa vez, eu saí sozinha antes que todos me vissem. Nem mesmo tomei café, o caminho era longo e eu só tinha visto através do carro, já que nunca andei da escola para casa.

Eu acabei encontrando Lorenzo no caminho, sorte ou destino?

-Você sumiu… Fiquei sabendo que você estava em estado de choque. -Ele ergueu a sobrancelha para mim e abriu a porta do carro.

-Sim, eu "estava".

-Deve ter sido tedioso não poder sair do quarto, aliás, como você se alimentava?

-Eu tive que ficar tomando mingau por dias, já que eu evitava me mexer. Foi torturante, mas eu não tive outra opção, Roberto contratou alguém só para cuidar de mim.

-Pffft, é tão engraçado imaginar você assim.

-Não vejo graça alguma!

-Voltando ao que importa… -O rosto de Lorenzo ficou sério de repente. -Lucius decidiu matar você de vez…

-Ah, sério? Eu já esperava por isso…

-Parece que Lucius percebeu que você é um "impasse".

-Sim, ele me vendeu porque precisava de dinheiro, e para que Roberto não fizesse algo com Dayse, mas agora que eles estão bem e seguros, eu estou atrapalhando o plano deles de roubar tudo. Mesmo eu sendo filha dele, Lucius não tem mais nada para fazer eu obedecer.

-Ele arrumou uma inimiga pior do que esperava…

-Ele é uma pessoa ruim, e eu estou me tornando como ele. Isso não me orgulha, mas se for para destruir esse homem e sua família, não me importo com mais nada!

-"Com mais nada", nem mesmo com você mesma… Fernanda, eu entendo que você sente que não tem mais razões para viver, mas não coloque sua vida em risco por essa vingança! Você se feriu apenas para parecer pior, e fez isso sem se importar se sentiria dor.

-Lorenzo, obrigada por me ajudar na minha vingança, mas fique fora disso! Você também está do meu lado por causa desta vingança, e eu tenho certeza de que você também daria sua vida para vingar sua família!

Os olhos dele mostraram a verdade, e ele acabou demonstrando uma expressão de tristeza clara.

-Pare aqui, obrigada pela carona! -Eu desci, e ele permaneceu pensativo, não perguntei nada e segui meu caminho.

Nós paramos não muito longe da escola, não quis entrar direto para a sala, resolvi ficar pelo pátio.

Observei os alunos que passavam, não conhecia ninguém ali. Eu não parava de pensar em como é a vida deles, será que é turbulenta assim também?

Esperei que faltasse cinco minutos para o período começar, e finalmente fui para a sala.

Mesmo saindo esse horário, ainda cheguei atrasada na sala, alguém estava sendo apresentado pela professora, e como eu esperava, era Lorenzo.

-É um prazer estar com essa turma, meu nome é Rodolfo, e minha turma estava muito lotada, por isso alguns alunos foram divididos, como é meu último ano, espero que possamos nos dar bem logo! -Ele sorriu de orelha a orelha.

(Quando eu cheguei, não recebi apresentação… Essa é a diferença entre os mafiosos de verdade e eu? Sinto que a professora não gosta muito de mim.)

Lorenzo olhou para mim junto com a professora.

-Está atrasada, Carmono! -O olhar de desgosto da professora era claro.

(O que aconteceu enquanto eu estive fora?)

Me virei rapidamente, percebendo o rosto sorridente de Dayse, provavelmente ela espalhou o que aconteceu e inventou algumas coisas, pelo visto esse ano acabou de ficar pior. Já sentia a hostilidade de muitas pessoas, mas não pretendia ser humilhada ou incomodada.

Lorenzo também parece ter percebido a situação, e me olhou disfarçadamente.

A professora disse para ele se sentar junto a uma menina quase perto de Benjamin.

Eu finalmente saí da porta, e caminhei em direção ao fundo da sala. Dylan ficou me olhando sem entender, já que sentamos juntos.

(Pensou mesmo que eu ficaria perto de você depois de tudo? Ainda mais com a cara incomodada que você estava a segundos atrás.)

Eu olhei para as duas pessoas sentadas, analisando qual seria o melhor lugar para mim. Depois de decidir, eu joguei minhas coisas com tudo na mesa da garota, que pulou para trás no susto.

-Eu quero sentar nesse lugar, cai fora! -Não precisa que ela iria refutar.

-Fernanda! -Dylan se levantou e puxou minha mão.

-Me solta! -Meu tom foi áspero.

-O que deu em você? Por acaso não pensa que suas ações podem ter consequências? -Benjamin levantou e gritou do seu lugar.

Noah continuou sentado, mas me olhando.

-O que foi? Não era isso que vocês três queriam? Eu me transformei na vilã, ou melhor… Vocês me transformaram nisso! -Eu gritei bem alto.

A professora também se levantou e caminhou furiosamente até mim.

-Você não tem limites? Vá para a diretoria agora, Carmono! -Ela puxou meu outro braço.

Dylan ainda estava me segurando.

-Eu não vou!

-Quem acha que é para me desobedecer? -Ela ergueu a mão para me bater.

Eu soltei minha mão de Dylan, mas estava pronta para parar a mão dela, mas Lorenzo interferiu.

-Estamos em uma sala de aula, devemos nos acalmar!

-Você acabou de chegar aqui, não se intrometa!

-É assim que trata seus alunos?

Lorenzo estava furioso também.

-Somente pessoas como ela! Além de sem educação, tentou matar a própria irmã!

Ao ouvir isso, Lorenzo ergueu seu celular e aumentou o volume.

-Esse é o seu problema, Fernanda! É tão bruta, assim como sua mãe era. Essa é a razão que agora ela está queimando no inferno! -Era uma gravação daquele dia.

Dayse levantou- se com os olhos arregalados.

-Eu estava por perto nesse dia, acabei gravando um pouco do ocorrido. Essa não foi a garota que desapareceu e ficou em choque? Vai mesmo culpar ela por estar assim? Você nem mesmo escondeu sua hostilidade, professora, não acho que Roberto vá gostar dessa situação!

A professora ficou sem reação, e Lorenzo a empurrou levemente para longe. Ele fez o mesmo que eu, jogando a bolsa em cima da mesa da menina que estava ao lado da outra que coloquei para correr.

-Você aí… Eu quero esse lugar, então desapareça! -Ele usou um tom autoritário.

Ele se sentou, e eu fiz o mesmo.

A professora voltou ao seu lugar em silêncio, e Dayse não conseguiu esconder o quanto estava irritada.

Benjamin, Noah e Dylan não paravam de nos olhar.

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