Um pouco da verdade

Chegamos tarde em casa e entramos silenciosamente. Noah me levou diretamente para o meu quarto.

— Você está bem? Ele te machucou? — Noah me analisa.

— Estou sim, obrigada por se preocupar e… me desculpe pela minha atitude… —Eu o olhei diretamente nos olhos.

— Eu também tenho culpa nisso, então está tudo bem. — Ele se levantou para sair.

— Espera, pode ficar um pouco mais? Sinto que não conseguirei dormir tão cedo…

Ele acenou com a cabeça em resposta, e se sentou ao meu lado na cama.

— Você queria beijar a Dayse? Eu meio que percebi os olhares que você e Dylan deram para ela.

— Sendo sincero, eu realmente tive vontade de fazer isso, e mesmo sabendo que não aconteceria, tive esperança de que ela voltaria para mim caso isso acontecesse. — Ele estava com um olhar triste.

— Eu me pergunto o que se passava na cabeça dela para namorar quatro homens da mesma família de uma só vez… Acho que ela precisa de criatividade, se quiser enganar alguém, uma hora ou outra o circo iria se fechar.

— Dayse é traiçoeira como o pai, sendo sincero, eu não queria continuar amando ela, mas o jeito que as coisas aconteceram ainda mexe comigo.

— Tem quanto tempo que vocês descobriram a verdade?

— Não muito tempo, é bem recente. Seu pai ficou maluco sem saber o que fazer para que Dayse não fosse presa, ela já é maior de idade, como Lucius está falido, não conseguiria ajudar a filha. Pelo que eu soube, ele estava investigando sua mãe há algum tempo, ele pensou que você fosse filha do homem que te criou, mas ao saber sua idade, solicitou o DNA sem que você soubesse. Acho que em algum momento eles visitaram sua casa e mexeram nas suas coisas, especificamente, na sua escova de cabelo.

— Ah, isso é o mais lógico… Noah… seu pai realmente só me aceitou por eu não ser envolvida com a máfia, ou foi por que me pareço com Dayse? — Ele ficou incomodado com a minha pergunta, talvez achasse que aquilo fosse algo que eu não deveria ouvir.

— Em parte, foi isso também… ao ver sua foto, ele pensou que talvez você… — Ele procura palavras, sem saber ao certo como descrever.

— Conseguisse ser uma substituta para Dayse? Acho que Roberto se equivocou um pouco, aparência não é tudo, e realmente é como um insulto para mim ser parecida com ela, ou com o pai dela.

— Você realmente não gosta dele…

— Não mesmo, Lucius não me vê como filha, por que eu deveria ver ele como um pai?

— Eu te entendo bem… Aliás, Fernanda, posso te dar um conselho? — A expressão dele me fez acreditar que era algo importante.

— Sim, diga!

— Fique longe de Dylan… Como você é bem perceptiva, já deve ter entendido quais são as intenções dele. Não quero que você seja jogada no meio dessa tempestade entre meu irmão e ele.

— Infelizmente, no momento em que me casei com Benjamin, entrei na tempestade. Tudo que posso fazer é conseguir um lugar seguro para me proteger, já que nenhum deles o faria. Apesar de eu estar entre eles em meio a essa guerra de emoções, nenhum deles me emprestaria um guarda-chuva se estivesse chovendo, pois eu não sou ela, e nunca serei a pessoa que os dois amam.

Noah me olhou como se estivesse com pena.

— Não se preocupe, mesmo que eles não te emprestassem um guarda-chuva, eu daria o meu com prazer. — Ele sorriu.

Apesar de eu saber que aquilo era apenas um jeito dele me confortar, Noah não seria diferente, ele também me deixaria na chuva para que Dayse não se molhasse, afinal, nenhum deles se importa comigo de verdade. Uma substituta nunca será a original.

— Obrigada. — Eu sorri de volta.

Talvez Noah pensasse que eu me senti mal pelo que aconteceu. É certo que fiquei um pouco irritada, mas não me importo realmente. Benjamin não é nada para mim, as palavras e ações dele não me afetam de maneira alguma.

— Noah… por que você ama a Dayse?

Ele parou por um momento, ficando completamente imóvel, como se estivesse em transe.

— Ela… me ajudou em uma época difícil… lembra que eu disse que Ben era apaixonado por ela desde criança? Também é o mesmo para mim, nós nos conhecemos através das mesmas circunstâncias, e foi graças a ela que minha relação com ele não se tornou pior do que é hoje. — A minha pergunta parece ter relembrado memórias ruins dele.

Por essa razão, resolvi abraçá-lo. Noah não reagiu a princípio, mas depois relaxou. Não sei quanto tempo se passou, mas acabei dormindo, e no dia seguinte percebi que ele ainda estava ao meu lado. O observei por um tempo, ele parecia tranquilo enquanto dormia.

— Você é bem bonito, não havia reparado bem antes. — Acabei brincando com seu cabelo, e puxei minha mão ao reparar no meu ato inconsciente.

Noah abriu os olhos assim que retirei minha mão.

— Ah, me desculpe… Acabei dormindo aqui. — Ele bocejou enquanto me olhava com um olhar cansado.

— A culpa é minha, eu que te fiz ficar aqui por mais tempo… De qualquer forma, obrigada pela conversa, me ajudou bastante! — Ele se levantou e bagunçou meu cabelo.

Mais tarde, ele voltou para o seu quarto, e nós dois nos arrumamos para ir à escola.

Benjamin não dormiu em casa, e nem mesmo veio aqui no dia seguinte. Como era esperado, ele estava com Dayse, Noah também pensou nisso e tenho certeza que o deixou mais desanimado. Quando chegamos na escola, infelizmente Dylan estava me esperando com seu sorriso característico, ele não me deixou em paz por um segundo sequer.

Benjamin e Dayse não foram para escola nesse dia, era realmente um alívio para mim, já que eu ainda estava irritada com Benjamin. Noah olhou para a porta tantas vezes que perdi a conta, provavelmente esperando que eles aparecessem. Eu estava reparando demais em nele sem perceber, mas sempre fui do tipo que observa tudo ao seu redor, então está tudo bem.

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