Esperando

...Madú...

Apesar do meu empenho em trabalhar pesado durante a semana inteira, o tempo não passou tão rápido quanto eu imaginei que passaria, principalmente as noites nas quais eu não conseguia dormir.

Passava as manhãs e tarde com o Valter e às vezes com o Solano ao telefone, discutindo sobre os casos que tínhamos, em especial o caso do estuprador.

A noite, ficava vez ou outra batendo papo com o Benj, às vezes até ficava com ele na casa da piscina, ouvindo música, vendo filmes, que ele escolhia, pois, escolher os filmes só me trouxe problemas até então, isso quando ele não trazia garotas pra mansão.

E na madrugada eu lia e relia os casos para o julgamento, analisava as provas, meditava, andava pela casa, enfim, as madrugadas eram as piores.

Parecia que a madrugada tinha mais horas do que o dia inteiro. E era justamente aí que a saudade do Chefe apertava, e me via em desespero em pensar que se estar longe dele por uma semana já era tão ruim, imagina saber que nunca mais o veria.

O W nunca me ligava, era sempre o Benj que me trazia notícias dele.

—Acabei de falar com o Chefe, ele terminou o segundo computador hoje, teve um pequeno atraso, então ele não vai voltar amanhã. — Benj veio todo encabulado me dar essa notícia. — Deve atrasar dois ou três dias.

— Ele tá bem, houve algum descuido? — Falei preocupada.

— Não, ele tá bem. Só que o computador estava num local diferente do que foi informado, então ele teve que procurar, enfim, houve atrasos.

— Entendi! — Na real, eu não entendia nada, mas sabia que não ia adiantar perguntar.

— Vou sair hoje a noite, tem uma festa de um amigo meu. O Chefe relutou um pouco, mas deixou que eu te levasse. Quer ir?

— Que tipo de festa é essa?

— Festa ué! Música alta, gente bonita, bebida e dança. E aí?

— Eu não tô em clima de festa! — Eu estava em clima de fossa.

— Na boa, tem sei lá quantos dias que você não dorme, tá trabalhando que nem doida, você tá triste. Uma festa vai te animar, esquecer um pouco do que tá te machucando. — Benj falou com carinho e ele tava certo.

— Tá bom, vamos nessa festa. Mas se eu não gostar, a gente volta. Pode ser?

— Já vi que vai estragar a minha festa. — Ele revirou os olhos. — Mas beleza. Assim que quiser me avisa que voltamos!

Confesso que fiquei ainda mais triste de saber que o Chefe ia atrasar a volta pra casa outra vez. Mas o Benj tá certo, preciso esquecer o que tá me machucando, e faz tempo que eu não danço.

Me arrumei, coloquei um top, um conjunto de colete e short de alfaiataria, sandália de salto não tão alto, uma maquiagem básica, que é só o que sei fazer, e um rabo de cavalo. Até que fiquei bonita.

— Você é mesmo muito peculiar. — O Benj falou assim que apareci na sala.

— Como assim?

— A maioria das garotas vai estar com micro vestidos ou micro shorts, bem justos e com muito brilho, pra se sentirem as mais lindas e desejadas da festa, e você tá aí linda e confiante num conjuntinho. Você é maravilhosa Madú.

— Eu gosto de estar bem comigo mesma. Nunca que ia me meter num vestido desses. Só usei isso no desfile do Ciclo Fenin, porque fui obrigada, e me achei ridícula.

— Você ta é certa Madú, tem ser autentica consigo mesma. — Marisol apareceu na sala. — E você é linda demais, se veste com elegância sem vulgaridade, eu amo as suas roupas.

— Obrigada Marisol.

Saímos.

A festa tava muito animada, até que não tinha tantas pessoas como eu imaginei. Como o Benj descreveu, só tinha gente bonita, e as garotas estavam bem sexies e cheias de brilho.

Andamos pelo salão e o Benj saiu cumprimentando a todos, ele me apresentou como uma amiga, senti olhares de alguns dos rapazes em minha direção, o que estranhei, pois, geralmente não costumo chamar atenção assim.

— E aí vai beber? — Benj perguntou apontando para o bar.

— Eu não gosto de álcool, então vê se tem algo aí pra mim.

— Beleza! — O Benj sai pra buscar bebida e eu fico num canto do salão, olho ao redor e acho um puff, e resolvo ir sentar.

— Boa noite princesa! — Um homem se aproxima e puxa conversa.

— Boa noite. — Respondi sem fazer contato visual.

— Eu sou Pedro e você?

— Maria. — Eu estava séria e não olhava pra ele, eu queria que ele saísse logo de perto de mim.

— Maria, nome forte, assim como imagino que você seja.

— Por que acha que eu sou forte?

— Algo em você me diz isso. Você não é como as outras garotas.

— Não, ela é especial, e ta acompanhada Pedro. — Benj aparece com dois copos na mão.

— Benj, não sabia que ela tava com você. Foi mal aí, não vou disputar pela sua garota. — O tal do Pedro falava rindo, me levantei e fiquei ao lado do Benj.

— Ela tá comigo na festa, mas não é minha garota. Ela é a garota do chefe, então deixa ela em paz, pro seu bem.

— Do chefe? E ele sabe que ela tá aqui? — Nesse momento o Pedro parou de rir e ficou tenso.

— É claro, eu não sou você, maluco. Cai fora!

— Até mais, Maria. E desculpa. — Pedro sai, e Benj me olha desconfiado.

— Maria?

— É o meu nome. E quem é esse?

— Seu nome é Maria? — Ele continua me olhando estranho.

— Maria Eduarda. Madú é apelido. — Falei impaciente. — Mas responde a minha pergunta.

— Ah é mesmo, advogada Maria Eduarda Teles, eu havia esquecido. — Benj falou rindo.

— Não vai mesmo me dizer quem é ele? — Falei brava, e o Benj revirou os olhos.

— O Pedro trabalha pro chefe, é linha frente, mas não é tão bom quanto eu e o Hernando. Ele faz serviços menores.

— Linhas de frente... — Falei pensativa. — Quantos linhas de frente o chefe tem?

— 4 linhas de frente, tem a Mercedes que ajuda o chefe com a papelada, e o pessoal da limpeza.

— Limpeza?

— Consertar computadores gera uma certa sujeira, então alguém precisa limpar.

— Ta... — Quando eu achava que estava conseguindo entender, na real, não estava entendendo nada.

— Vamos dançar, curiosa! — Ele me puxou para o meio do salão e começamos a dançar.

Até que foi bom sair de casa, me distrair um pouco, dancei bastante com o Benj, foi divertido.

De volta à mansão

— Obrigada Benj, foi muito divertido. — Falei contente.

— Eu disse que ia te fazer bem! Agora vou dormir até meio dia.

— Vai lá!

Já passavam das 4h da manhã, tomei banho e fiquei meditando no quarto do Chefe, tentando descansar a mente. Mas fiquei pensando nas informações que o Benj me passou na festa sobre os funcionários, fiquei encafifada com essa história de linha de frente, papelada e limpeza, preciso descobrir qual é dessa de computadores. Tomara que a Ana Tereza me dê notícias logo.

O dia amanheceu e fiquei trabalhando no caso como nos outros dias. Hoje o chefe estaria voltando pra casa, mas agora tenho mais dois ou três dias de espera. Odeio ter que esperar, mas pelo menos tenho a certeza de que ele volta.

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