Volte pra mim

...Madú...

Eu tinha vindo a Codrinal apenas uma vez na minha vida, foi na época da faculdade, fizemos uma excursão para assistir ao julgamento de um criminoso muito famoso na época. Foi um caso difícil, mas conseguiram condenar o meliante.

Não vi muita coisa da cidade, pois o meu foco estava no julgamento, mas eu lembro que era um lugar bem luxuoso, e a cara do verão.

Eu tava curtindo muito viver na mansão, mas sair de lá realmente me fez muito bem.

— Nossa! Essa cidade é muito linda! — Falei olhando a bela cidade litorânea.

— É, principalmente se comparar com Brésalen. Desculpa Madú, mas aquela cidade é horrorosa! — Mercedes falou rindo.

— É sim, e não precisa pedir desculpa. Odeio Brésalen.

— Se o chefe permitir, vou te levar pra sair mais vezes. A mansão é legal, mas ainda assim você tá trancada numa casa.

— Verdade, eu já estava ficando agoniada.

— Olha lá o shopping, vamos estourar a conta bancária do chefe. — Ela falou empolgada e tive que rir disso.

Chegamos no shopping e fui procurar pelas lojas de departamento, que é onde costumo comprar roupas. Mas a Mercedes me puxou e me levou pro andar onde só tinham lojas de grife.

— Achei que estava brincando quando disse que ia estourar o cartão do Chefe. — Falei constrangida.

— Pois não estava. Quando o Chefe chegar ele vai querer ver o que você comprou, e se ele ver que só te levei pra comprar roupa barata, ele vai tirar o meu couro. Vem, vamos comprar aqui. E esquece que essas roupas tem preço! — A Mercedes orienta a vendedora a não me mostrar o preço de nada, então decido relaxar e vou experimentando as coisas que eu gosto, o problema é que era tudo chique demais, curto demais, apertado demais. Sinceramente não faz o meu estilo. — Não gosta de roupa sexy né?

— Meu estilo fora do tribunal, ta mais pra calça jeans e camiseta, vestido folgadinho, bermudinha, essas coisas.

— Ta legal, eu sei onde te levar!

Encontramos uma loja que eu amei, tinha roupas do jeito que eu gostava, porém bem mais elegantes.

— Nossa, é perfeito! — Falei encantada.

— Sabia que ia gostar!

O dia no shopping foi super divertido, compramos bastante coisa, e sinceramente nem me atrevi a perguntar quanto gastamos com medo da resposta. Mas a Mercedes disse que tava tudo certo, então vou confiar nela. Só não quero que o Chefe me ache uma interesseira, afinal ele já vai me pagar o que deve e não precisava me dar mais nada.

Entregamos as sacolas aos seguranças e sentamos na praça de alimentação, esse é o momento perfeito pra eu perguntar sobre as outras garotas do Ciclo Fenin.

— Mercedes, me conta das outras garotas que o chefe trouxe pra cá. A Marisol me disse que uma se achou a dona da casa e a outra tentou conquistar ele. E porque o chefe não simplesmente arruma uma namorada? — Falei com expectativa, eu estava muito curiosa sobre isso.

— Verdade, bom, o chefe passou por uma situação traumática com a sua última namorada. Daí ele decidiu que não iria mais se apaixonar. Então só se envolve com mulheres que ele pode pagar, pois ele tem um certo preconceito com elas. — Ela fala isso e me sinto péssima, foi um choque de realidade pra mim. O chefe só me vê como um pedaço de carne que ele comprou. É bom saber disso!

— Entendi! — Falei séria.

— Bom, a primeira garota que ele trouxe era doida de pedra, muito bonita, sensual, mas maluca. Ela viu a mansão e achou que aquilo poderia ser dela. Começou a dar ordens, fazer o que queria e até tentou colocar a Marisol contra o Chefe. Imagina a mulher que praticamente criou ele.

— Caramba, mas e aí?

— O chefe se irritou e terminou o contrato antes do tempo. Engraçado foi que o Benj gostou da moça e contratou ela, aquele lá gosta de confusão.

— Ele podia fazer isso? Tipo não é estranho pro chefe? — Pelo visto o Benj realmente gosta de aprontar.

— Ele só fez porque o chefe concordou. — Mercedes deu risada e depois continuou. — A segunda foi pior que a primeira, ela era bem bonita também, parecia ser uma boa pessoa até, mas logo na primeira semana ela mostrou as garras. Tentou conquistar o chefe, se disse apaixonada e quando viu que o chefe não ia dar bola pra ela, inventou uma gravidez.

— Gravidez? Mas temos as injeções, que são exigidas no Ciclo Fenin.

— Pois, mas ela deu um jeito de não tomar, e criou essa intriga. Mas o chefe foi esperto, descobriu a farsa, e mandou ela de volta. Daí ele jurou que nunca mais traria ninguém do Ciclo Fenin. E do nada você apareceu aqui.

— Nossa, que história!

— Madú, você está apaixonada pelo chefe? — Mercedes me olhava séria e com expectativa.

— Eu? — Caramba, eu respirei fundo e pensei rápido numa resposta. — Olha Mercedes, eu odeio Brésalen, mas sei bem que essa mansão não é minha, e não vou inventar gravidez ou coisa parecida. Quando acabar o contrato eu volto pra minha antiga vida. E não sou uma prostituta, nada contra é óbvio, mas eu só estou fazendo isso pela minha família. Então daqui a 3 meses eu volto a ser a Madú que defendia mulheres que sofrem violência. E no que depender de mim, o chefe nunca mais vai ouvir falar da minha pessoa, pode ter certeza disso.

— Bom, eu na verdade espero que vocês se acertem, de coração. — Ela diz isso e fico surpresa. Mas não vou me iludir.

— Impossível Mercedes, mas nós podemos continuar amigas, se você quiser é claro!

— Óbvio mulher!

Voltamos para a mansão e já estava anoitecendo. Jantamos e resolvi ir deitar no quarto do Chefe, quem sabe lá eu iria conseguir dormir.

A Mercedes se ofereceu pra dormir comigo, mas eu recusei. Eu achei que tinha superado meus medos e ia conseguir dormir tranquila, mas na real eu só conseguia dormir bem com o W ao meu lado.

Não era possível que eu estivesse me apaixonando por ele. Eu devo estar ficando louca, mas que droga.

Eu tenho que tirar isso da minha cabeça, pois eu sei que ele nunca vai gostar de mim como eu gosto dele. Ele despreza pessoas como eu, e devo me colocar no meu lugar.

Novamente não vou conseguir dormir, e acabo me sentindo mal a noite, reviro na cama, sinto o meu coração doer, o sono não vem e quando fecho os olhos as imagens dos momentos ruins que vivi vem a minha mente.

Ando pelo quarto, abro o guarda-roupa e visto uma camisa do W, o cheiro dele me acalma, sento na cama e fico meditando até que o dia amanhece.

Hoje me levanto empolgada, visto uma das roupas que compramos, faço uma maquiagem "acordei bonita" como diz o Lú. E desci mega contente achando que ele havia chegado.

Mas pra minha surpresa o Benj estava sozinho, olho pra todos os lados e não vejo o W em nenhum lugar, e pelas expressões do Benj, Hernando e Mercedes, algo não parece certo.

— Onde tá o Chefe? — Falei nervosa.

— Oie Parça, então houve um problema e o chefe teve que ficar pra resolver, eu só vim avisar e a Mercedes vai encontrar com ele por lá. — Benj falou encabulado.

— Que tipo de problema? — Agora eu fiquei ainda mais nervosa.

— Ele se descuidou Madú, mas vai ficar tudo bem.

Se descuidou, ele me disse que aquelas cicatrizes eram de descuido. Ai caramba ele tá ferido.

—Tem certeza que ele tá bem? —Digo isso segurando o Benj pelos ombros.

— É claro, ele ta bem, só vai precisar do apoio da Mercedes pra terminar o conserto do computador.

— Ta tudo bem Madú, em alguns dias estamos de volta, eu te prometo. — Mercedes falou tentando me acalmar.

— Ok!

Volto pro quarto dele e me desespero, e se ele morrer? O que eu faço, eu sei que não há um futuro pra nós, mas ainda assim quero ter a certeza de que ele está bem e seguro.

Parece que meu mundo voltou a desmoronar, deito na cama e choro muito. Eu só quero que isso passe e que ele volte pra mim.

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