Outra viagem

...Chefe...

Desde que discutimos na sala de cinema, ela ficou diferente comigo.

Eu me irritei, aquele filme que ela escolheu pra assistir, parecia a nossa história sendo contada. Uma moça pobre, a mãe doida pra casar as filhas com homens ricos, o cara rico pra caramba chega na cidade com o amigo.

Ele se apaixona pela moça pobre, mas ele sabe que não deve se casar com ela, afinal ela não é digna, ele tem que fazer um bom casamento, ambos estão apaixonados, mas são muito orgulhosos pra admitir.

Eu pensei que ela quisesse me dar um recado, de que mesmo com a nossa diferença social, nos amamos e devemos ficar juntos. Mas eu não quero isso. Já passei por isso uma vez e terminou com a Aline e o meu filho mortos.

Com isso acabei sendo grosseiro com a Madú e ela não voltou pro meu quarto, na hora pensei que ela poderia querer ir embora, e fui com raiva levar ela pro meu quarto, tava tão nervoso que derrubei a porta.

Ela continua aqui, não por mim, mas pela família dela. Eles precisam desse dinheiro, é por eles que ela tá fazendo isso.

Eu disse pra ela não criar expectativas, que não ficaríamos juntos quando o contrato acabasse, e assim ela fez, mas isso me machuca, ver ela distante mesmo estando tão perto.

No final, acho que sou eu quem está criando expectativas, não posso me enganar, eu estou apaixonado por ela. Não ficaremos juntos de qualquer forma, mas enquanto ela estiver aqui, quero ela por inteiro, apaixonada e dedicada a mim.

Saio, compro um vestido do jeito que ela gosta e decido ter a noite mais linda e especial com ela. A mulher que eu amo.

......................

...Madú...

Mais um mês se passou, em apenas 1 mês o contrato acaba, e eu nem sei como vai ser a minha vida sem o W. Eu o amo com todas as minhas forças.

De um tempo pra cá ele tem estado tão carinhoso e atencioso, tem sido impossível não sonhar em ter um futuro com ele. E se ele realmente se apaixonou por mim, e decidiu ficar comigo?

Seria possível? Eu queria tanto poder acreditar que sim, que ele me ama e que vai enfrentar os próprios medos e preconceitos pra ficar comigo. Mas a realidade parece outra.

Estava saindo do banho para ir dormir mais uma noite ao lado dele.

— Amanhã vou precisar viajar, vou sozinho dessa vez, o Benj vai ficar cuidando da casa e de você. — Ele comunicou.

— Viajar? — Falei chateada. — Você não disse que o Benj e o Hernando iam cuidar dos "consertos" mais difíceis e que ia ficar só com a papelada junto com a Mercedes?

— Disse, mas esse caso é especial, tenho que ver pessoalmente.

— Vai ficar fora quantos dias?

— Uma semana.

— Uma semana? — Repeti chateada.

— É que são 3 serviços e todos no exterior. São importantes, tenho que ir.

Só temos 1 mês juntos e ele vai sair por uma semana? Isso se for só uma semana mesmo, porque da última vez ele disse que ficaria 3 dias e passou 2 semanas fora. E ainda voltou machucado.

— Entendo! — Me limitei a responder.

— Quando voltar eu juro que só vou me dedicar a você e aproveitar todo o tempo que nos resta.

O tempo que nos resta, queria tanto ter a vida toda do seu lado!

— Tudo bem!

Ele me puxa na cama e dormimos abraçados, antes de dormir eu penso no quão ruim será essa semana sem ele comigo.

No dia seguinte.

— Boa viagem Chefe, vou cuidar de tudo por aqui, não se preocupe. — Benj falou se despedindo.

— Valeu Benj. — Ele se virou para mim, me puxou e me deu um beijo.

— Vê se não se descuida dessa vez! — Falei manhosa.

— Pode deixar, em 1 semana tô de volta. — Ele sai e eu só tenho vontade de chorar. Mas antes que eu possa fazer isso, o meu celular toca, é o Valter.

— Oie Valter. Como estão as coisas?

— Não muito boas Madú, o Valmir conseguiu que o maldito estuprador saísse da penitenciária e fosse pra prisão domiciliar até a data do novo julgamento.

— O que? Mas que merda é essa, ele foi sentenciado! — Falei com raiva.

— Eles tem dinheiro Madú, quem faz a lei são eles.

— Merda! Porra! Isso tá errado Valter! Como eu vou falar isso pra vítima?

— Ela já soube. E tá arrasada! — Caramba!

— Ai merda! Isso não vai ficar assim. A gente vai acabar com esse Valmir, ele vai se ver comigo.

— Não tem como você voltar antes Madú? A gente tá precisando muito de você.

— Não dá, ainda tenho muita coisa pra fazer aqui, e a minha família depende disso. Desculpa Valter. Mas daqui mesmo vou montando esse caso.

— Tudo bem. Vou fazer o que posso também. Se cuida Madú!

Droga, as leis nesse país são uma verdadeira piada.

— Problemas? — Benj se aproximou.

— Só uma estuprador condenado que está aos poucos se livrando da sentença.

— Merda! Esse é o pior tipo de computador. — Benj falou com raiva e fiquei pensativa sobre essa fala dele.

— Computador?

— É modo de falar, já que consertamos computadores quebrados. — Ele falou em tom de ironia, o que me deixou ainda mais intrigada.

— Como assim?

— Nada, esquece Madú. — O Benj sai e eu fico pensando no que ele falou, eu achei que essa história de computador fosse fachada, uma mentira deles, mas e se for um código pra o que eles realmente fazem?

Ligo pra Ana Tereza.

— Oie Madú, já ficou sabendo?

— Já sim Ana, mas preciso te pedir outra coisa. Pesquisa por empresa de conserto de computadores em Codrinal que comece com a letra W. Olha também esse endereço onde eu estou e me diz a quem essa propriedade pertence. Mas faz isso em sigilo!

— Pode deixar, é pro caso?

— Não, é algo pessoal. Por isso insisto que fique só entre nós duas

— Ok!

Agora eu quero descobrir o que o Chefe faz, é com isso que vou ocupar a minha semana, além do caso do estuprador. Assim o tempo vai passar mais rápido e vou sentir menos a falta dele.

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