O contrato

...Madú...

Cinco dias depois eu recebi o bendito telefonema do Ciclo Fenin, estava no escritório, tinha acabado de encerrar uma reunião com a vítima para ajustar algumas pontas soltas do julgamento de amanhã.

Ainda tinha muita coisa pra revisar, eu quero ter a certeza de que não tem como esse desgraçado se safar do mal que fez para aquela garota. Mas esse telefonema me tirou completamente do foco.

— Alô!

— Madú, aqui é o Ciclo Fenin, meus parabéns você foi contratada. Venha aqui ainda hoje para assinar o contrato e receber as instruções finais antes de iniciar. — Minha nossa, eu consegui!

— O contrato é no prazo e valor que solicitei?

— Mas é claro!

— Nossa, obrigada, em algumas horas estarei aí.

Desligo e ligo pro Lú na mesma hora.

— Oie amiga.

— Consegui, fui contratada! — Eu estava uma mistura de alegria e desespero.

— Ai minha nossa! Perfeito amiga! — Lú comemorou!

— Lú, eu tô em crise, e se eu não conseguir? Eu não vou conseguir, eu achei que era forte, mas eu não tenho certeza. A minha família precisa de mim.

— Ai amiga, vem aqui pra casa.

Saio e vou direto pra casa do Lú.

— Como você ta? — Ele me olha preocupado.

— Em choque. Amigo você sabe tudo que eu passei naquele morro, foram 3 dias do maior inferno, imagina agora viver isso por 4 meses.

— Podemos pensar em outra forma de conseguir o dinheiro.

— Não tem outra forma. — Eu começo a chorar, choro descontroladamente. Faz muito tempo que eu não consigo chorar, eu até tentei, mas as lágrimas não vinham, então agora finalmente consigo deixar toda a emoção fluir.

— Ai amiga vem aqui deita no meu colo, isso chora, coloca tudo pra fora.

Não sei quanto tempo eu fiquei ali chorando no colo do Lú. Mas eu me sinto melhor agora, parece que tirei um peso das costas.

— O que vai fazer? — Ele me olhava aflito.

— Vou encarar. Vou lavar esse rosto e assinar esse contrato. Eu vou dar conta!

No Ciclo Fenin.

O contrato era simples, dizia basicamente que eu concordava em participar, que faria tudo o que me fosse solicitado pelo meu contratante em termos sexuais. E que eu não deveria sair do local onde ele determinasse pra mim até que o contrato estivesse finalizado.

Eu deveria tomar anticoncepcionais regularmente, e não deveria me relacionar com mais ninguém até o fim do contrato. Ao final tinha o valor que eu receberia no último dia de "serviço" 400 mil e a duração do contrato de 4 meses.

— Aqui diz que o contrato começa hoje? — Perguntei para a secretária.

— Sim.

— Então, já devo ir hoje a casa do contratante?

— Se ele quiser, sim, hoje ou amanhã. Algum problema?

— Sim, amanhã tenho algo muito importante, não posso faltar. — Merda, não posso perder o julgamento. — É logo pela manhã, quando terminar ele pode me levar sem problema.

— Vou informar sobre isso, mas se assinar vai depender da boa vontade dele. E então?

— Eu sou boa de persuasão, ele vai ter que me liberar. — Assino o contrato, pego os meus exames e os do meu contratante, além de várias injeções anticoncepcionais.

Eu deveria esperar ele entrar em contato e encontrá-lo no local marcado.

Fui pra casa e arrumei as minhas malas com a ajuda da Sofia.

— Vixe, mulher você não tem uma lingerie que preste, e essas suas roupas hein, só terno de tribunal e roupa velha. — Sophia torcia a cara analisando o meu guarda roupa. — Vem, vou ligar pro Lú e vamos ao shopping.

— Não temos grana pra gastar.

— Mas precisamos, assim o cara vai é desistir desse contrato.

No shopping, Sofia e Lú escolheram algumas lingeries, roupas de banho, umas camisolas, e roupas pro dia a dia.

— Essas roupas não são suficientes pra 4 meses. — Falei observando as sacolas.

— Vou separar algumas roupas minhas pra acrescentar. —A Sofia vai pro quarto dela. E o meu telefone toca, um número oculto. Deve ser ele.

— Alô! — Atendi nervosa.

— Madú? — Minha nossa, a voz dele me deu arrepios, uma voz grave e sedutora. Que doida, eu to aqui toda derretida só dele falar o meu nome!

— Eu mesma. Quem fala?

— O seu contratante. — Faço sinal pro Lú dizendo que é ele.

— Ahh, olá! — Caramba, eu não sabia o que dizer.

— Soube que tem algo importante amanhã. Então assim que terminar manda uma mensagem pro número que vou te enviar e esteja sozinha com as suas malas aguardando no endereço que te enviarei. Entendeu?

— Certo, muito obrigada.

Ele desliga sem nem se despedir.

— E aí? — Lú me olhava ansioso.

— Ele vai me pegar amanhã, nem precisei pedir.

A Sofia volta e terminamos de arrumar as malas.

Passo a madrugada revisando o caso para o julgamento até que o dia amanhece.

— Bom dia amiga. Credo, vamos dar um jeito nessa cara de morta viva. — Lú vai me empurrando para o banheiro. — Vai tomar um banho que vou escolher o seu terno mais sexy, pois depois do julgamento você tem que ficar linda pro seu boy.

— Não tenho terno sexy, tá doido.

— Não mesmo —diz ele olhando minhas roupas e com cara de desdén. — Mas podemos dar um jeito. — O Lú escolhe uma camiseta com detalhes de renda e um terno rosa. — Esse aqui da pro gasto. Quando terminar o julgamento você retira esse blazer, fica só com a camiseta e essa calça até que não é feia. E usa esse scarpin branco. Vem vou fazer uma maquiagem tipo acordei linda e arrumar esse cabelo, vou fazer um coque bagunçado, mas depois do julgamento solta esse cabelo viu.

— Ok!

Na mesa do café da manhã

— Bom dia filha, você ta bonita.

— Obrigada pai. Eu arrumei o dinheiro pra pagar o Boto, mas pra isso vou ficar fora por uns 4 meses. E quando voltar não me perguntem o que eu fiz. Por favor!

— Tudo bem filha! Mas tome cuidado! — Minha mãe me abraçou.

— Eu que deveria estar fazendo isso Madú. Eu sou um péssimo pai.

— Ta tudo bem pai. — Dei um abraço nele. — O importante é que vamos ficar bem.

Tomo café, me despeço da minha família e sigo pro julgamento, o Lú vai comigo, pois ele vai ficar com o meu carro quando for encontrar o contratante.

O julgamento foi bem tenso, o advogado do réu é um homem sem nenhum escrúpulos, Valmir Miranda, ele costuma defender criminosos endinheirados, e sempre vence, mas hoje é diferente, eu vim preparada pra tudo.

Não deu outra, vencemos, a vítima estava super satisfeita de ver o desgraçado se desesperar com a sentença. E a cara de derrota do Valmir, aquilo não tinha preço.

— Meus parabéns, mas saiba que vamos recorrer. — Valmir me olhava com ódio.

— Pode recorrer cem vezes, estamos preparados. — Falei sorrindo.

— Você foi incrível Madú. — Solano veio me cumprimentar. — Perfeita demais. Parabéns, essa foi uma grande vitória.

— Isso mesmo você é a melhor que nós temos. — Valter me deu um abraço apertado. — Pode viajar tranquila, a gente cuida do resto.

— Valeu galera. Eu vou indo.

Pego o celular e mando mensagem pro número que o contratante me enviou.

......"Olá, acabei o meu compromisso, estou a caminho do nosso ponto de encontro"......

Saio com o Lú, confesso que estou um pouco nervosa, aliás muito nervosa, mas agora não tenho volta, preciso ir até o fim com isso.

Chegamos no ponto de encontro, o Lú ajudou a me arrumar e saí do carro carregando uma mala média e uma malinha de mão.

— Me liga todos os dias! — Lú falou me olhando com carinho.

— Pode deixar.

— Se cuida Madú.

Nos abraçamos e o Lú sai com o meu carro. Sinto o meu coração acelerar, estou a um passo de entrar numa crise de pânico, quando vejo um enorme carro se aproximar, era um BMW x1 do ano.

O carro para em minha frente, a porta se abre e um homem muito bonito sai do carro, e me olha sorridente, ele tem um jeito bem de moleque não sei por que, mas gostei dele, me sinto mais tranquila só de olhar pra ele, parece um amigo.

— Você é a Madú?

— Sou sim. — Respondi e ele abriu um sorriso ainda maior!

— Eu sou o Benjamim, mas pode chamar de Benj. Vou te levar pro chefe. Ele tava aqui em Brésalen até ontem, mas teve que ir pra resolver uns assuntos de trabalho. Então eu vou te levar. E cuidar de você.

— Como assim cuidar de mim?

— Cuidar ué, tratar que esteja bem e segura quando o chefe não estiver. Mas eu garanto que eu sou bem legal. — Que estranho, eu gostei dele, acho que vamos nos dar bem. Eu tava tão nervosa e esse sujeito com esse sorriso alegre conseguiu me acalmar, talvez não seja tão ruim assim. Quem sabe esse chefe dele é assim legal também. — E aí? Vamos?

— Vamos!

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