UM DESEJO PROIBIDO

Bia estava pálida, ao ouvir dos lábios de Edu que ele tinha um irmão gêmeo.  O seu marido!

— Mas não entendo... Isso não pode ser verdade... Isso deve ser uma brincadeira de mau gosto!

Bia balançava a cabeça, inconformada.

Edu virou-se, afastando-se dela.

— Sente- se, Bia! Vou preparar uma bebida para nós dois.

— Não,  obrigada! Quero estar bem sóbria para saber que diabo de história é essa.

— Certo. É melhor mesmo.

Ela se sentou no sofá.  Após pegar a bebida, Edu sentou- se a sua frente, numa distância segura, embora o seu desejo fosse outro ao vê-la tão confusa. Queria tanto abraçá-la...

— Lamento ter que informá-la desse jeito.  Agora eu entendo que devia ter falado antes... Eu sinto muito.

— Como posso acreditar em você? Oh, meu Deus, que confusão! Por favor, tem alguma prova... uma foto sua e … dele? Não sei o que dizer!

— Bia, não tenho nenhuma foto! Quer dizer, há sim. Mas não aqui. Não comigo. Eu e o meu irmão vivemos muito tempo separados. Moro em São Paulo, já Edgar, por um tempo morava próximo à minha mãe no Rio de Janeiro. Ultimamente vivia por várias cidades do país.  O histórico dele é... Como posso dizer... reprovável! Envolveu-se com o tráfico de drogas desde a adolescência...

Edu tomou a bebida de um gole só e continuou a falar:

— Ele sempre deu trabalho para minha mãe.  Já foi preso por alguns crimes e vez ou outra, tive que pagar as dívidas que ele contraía com agiotas, mas dessa vez, foi longe demais! Falsificou os meus documentos e ainda envolveu você em tudo isso.

— Céus, se isso for verdade... Se sou casada com o seu irmão... Eu vivo no mundo do crime também?

— Não.  Creio que isso seja improvável. Uns dias antes do seu casamento, Edgar entrou em contato com a minha mãe.  Ele lhe dissera que queria mudar porque encontrara a  mulher da vida dele: você. Pela primeira vez ele estava feliz e a minha mãe sempre sonhou com isso. Imagino que você seja de boa família, se não Edgar não agiria assim!

Lágrimas rolavam pela face de Bia. Um emaranhado de emoções tomando conta dela. Cada vez mais, com essas revelações,  sentia-se mais indefesa.

Ele suspirou longamente. O seu semblante era triste.

— Assim que soube do acidente, cheguei aqui no primeiro voo.  Fui com os investigadores ao local do acidente. Foi lá, numa mata, bem distante do carro, que encontrei você, mas nenhum sinal de Edgar até agora. O carro do acidente estava no meu nome, já sabe o motivo. Tive que resolver a bagunça que o meu irmão causou.

— A sua mãe... Ela já sabe?

— Sim! Falo com ela todos os dias. Edgar era seu filho querido, apesar de tudo.

Ela ficou pensando sobre a sua própria situação.

— E é por isso que estou aqui? — As palavras eram um misto de decepção e tristeza. — Sou a peça chave para descobrir o paradeiro do seu irmão?

Edu não a encarou. Ficou olhando para o copo vazio. Até que levantou a cabeça e disse:

— Não...Não é apenas isso. Existem evidências que vocês foram perseguidos. Os investigadores estão trabalhando nisso,  mas há suspeitos, soltos por aí.  Você está aqui como uma medida de segurança. Não sabemos quem são e nem do que são capazes... Enquanto isso, o meu irmão está desaparecido, mas ele... O seu marido pode estar vivo!

Bia cobriu a face com as mãos. Tentava absorver as últimas palavras de Edu. Sim, Edgar era seu marido e podia a qualquer momento vir até ela.

Edu, percebendo o silêncio dela,  continuou:

— É  por isso, Bia...  Que entre nós...— Ele parou por um instante, como se fosse dolorido ter que falar: — Não podemos ter algo que possa atrapalhar o seu casamento...— Ele tornou a encher o copo de bebida. Bebeu um gole e ficou cabisbaixo.—  Sou seu cunhado e preciso continuar sendo só isso.

Bia fechou os olhos, de coração partido. Não queria mais ouvir nada.  Levantou-se e disse a Edu, com voz embargada:

— Você tem razão! Somos cunhados! — Enxugou as lágrimas com a pontinha dos dedos. — Perdoe-me por pensar mal de você. Agora preciso ficar sozinha. Obrigada por ter me contado a verdade. Acho que por mais dolorosa que seja, agora posso respirar aliviada.

Ele se levantou para tocá-la, mas ela desviou-se e falou baixinho:

— Por favor, deixe-me em paz... Boa noite!

Ela correu para seu quarto. Desabou num choro sofrido, lamentando-se por si mesma. O que fazer agora se apesar de ser esposa de Edgar, estava se  apaixonando por Edu! Aquilo era loucura!

No escritório,  Edu continuava com o copo de bebida, não se importando com as consequências. Arrependido, repreendia-se por esconder que ela havia se casado com Edgar. O pior, é que naquele momento,  certamente ela estava se sentindo uma criminosa por beijar outro homem que não fosse o seu marido.

Que tolice! Como pôde cair no mesmo erro em poucos dias, sendo que a todo o momento dizia a si mesmo, que Bia não podia ser sua?

Aquele tormento tinha que acabar. Tê-la tão perto estava cada vez mais tentador.  Era seu dever encontrar Edgar para que finalmente Bia pudesse pelo menos ter um pouco mais de paz. E ele também.

Desde que ela entrou na sua vida, mesmo inconsciente num quarto de hospital, o seu sossego acabara. Não estava dando certo manter-se longe daquela mulher linda. Lembrava do corpo sedutor dela a todo o momento e saber que, na verdade era seu cunhado não estava sendo suficiente.

Não após tê-la nos seus braços e quase fazer amor com ela.

A sua vida sentimental sempre estivera sob controle. Não era à toa que tivera muitas namoradas. No entanto, nenhuma o atingiu de forma tão profunda. Nem mesmo Sâmia.

Tinha que ter uma solução para tudo aquilo. Não podia deixar que aquela mulher tomasse de conta do seu coração.  Lutaria com todas as forças para impedir que os seus sentimentos estragassem a chance do seu irmão mudar de vida e ser feliz.

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