CAP. 14 - REVELAÇÕES

Bia só teve paz, enquanto dormia. Ao abrir os olhos, o peso da angústia veio em seguida.

Primeiro motivo por descobrir ser esposa de Edu, segundo, por se sentir traída, já que claramente ele tinha uma amante.

Levantando-se, olhou para o relógio na parede. Naquele horário, com certeza Edu já chegou. Só não sabia por que Rita não a chamava. Possivelmente, ele não permitiu.

Decidida, passou a mão pelo longo cabelo e saiu do quarto. Era a hora de saber a verdade. Não sabia como começaria a falar sobre o assunto, mas tinha que enfrentar o medo.

Ao passar pelo escritório, percebeu a movimentação dele por lá. 

Embora tenha combinado com Rita para que a conversa fosse à sala, pelo visto isso não ia acontecer. Restava-lhe soltar os pulmões com toda força, caso precisasse dela. Com o coração aos saltos, preferiu não perder tempo.

Após bater, abriu a porta devagar. Edu estava sem camisa e com uma calça cinza de moletom. Aquele jeito descontraído, diferenciava-se do modo formal que ele normalmente se vestia.

Bia engoliu em seco e não conseguiu, inicialmente, articular alguma palavra. Ainda que estivesse magoada, era difícil resistir ao seu charme.

Sentado, entre a papelada, o rapaz ergueu uma das sobrancelhas, quando ela apareceu na sua frente. Passeou os olhos por todo o seu corpo até se deter no seu rosto. Era um olhar diferente. Como se não quisesse esquecer nenhum detalhe, prendeu-se nos olhos dela.

— Você está com os olhos inchados... Esteve chorando?

A voz era de preocupação. Se não fosse as lembranças do que soube pela manhã, até acreditaria que ele fosse inocente.

— Chorei sim, mas não importa...

Ele se levantou da cadeira e posicionou-se em frente a ela, encostando-se na escrivaninha. Bia deu um passo para trás, como medida de segurança.

— Claro que importa! Você está infeliz aqui, é isso?

Ela negou com a cabeça.

— Não se trata disso.

— Bom, então o que aconteceu? 

— É que preciso falar muito com você, mas antes...

Ele permaneceu calado, aguardando que ela continuasse. Bia falou com uma voz mansa, mas em tom acusatório:

— Tenho um recado. A sua secretária ligou para informar que a sua namorada já chegou ao Brasil...

Ele continuou quieto, um pouco surpreso, talvez. Bia não conseguia entender com precisão o motivo de não ter reagido negativamente.  Depois de um momento,  disse:

— Certo! Depois eu ligo...— Suspirou e passou a mão no cabelo impacientemente. — Ela não é exatamente a minha namorada, mas de qualquer forma, obrigado por avisar. Agora me conta... Por que ligou para mim? Por que estava chorando?

— Consegui recordar de alguns fatos.

— Isso é verdade? O quê exatamente?

O semblante dele mudou. Parecia tenso. Isso fez com que a raiva dela aumentasse. Levantou a voz:

— Por que não me falou antes que tinha uma namorada? — Não era exatamente isso que queria falar primeiro, mas queria entender porque ele estava tão calmo.

Surpreso de início, Edu apertou os lábios, como se quisesse rir do que ela disse.

— Ora, eu ia contar sobre Sāmia, mas... O que é isso mesmo? — Ele estreitou os olhos, e subitamente, fez um gesto como se estivesse entendendo: — Você por acaso está com ciúmes?

Ela explodiu:

— Mentiroso! Como pode estar com ela se... se...

— Escuta aqui, Bia, o que está acontecendo? Por que você acha que sou mentiroso?

Ele continuava a achar graça do inusitado comportamento dela, o que fez com que a garota ficasse revoltada.

— Você não pode fazer isso comigo! Não pode ter outra mulher, enquanto. … — A voz dela sumiu. Ele se aproximou mais ainda.

— Confesso que não estou entendendo... Fala logo, por favor!

— Hoje eu lembrei de você no dia do nosso casamento! Quero saber por que escondeu isso de mim!

Ao ouvir isso, ele ficou primeiramente surpreso. Um silêncio se fez e parecia que tudo havia parado.

Depois, Edu não se aguentou. Soltou uma sonora gargalhada.

Bia ficou perplexa. O que significava tudo aquilo? Não, ele não ia zombar dela de jeito nenhum!

De forma impulsiva, ela avançou para cima dele, muito furiosa. Com a inesperada reação dela, Edu momentaneamente, parou de rir. Desequilibrou-se um pouco, mas conseguiu contê-la em seus braços. Ela se debatia freneticamente, xingando-o. A todo custo queria se soltar, de modo a socar aquele peitoral fascinante, mas o rapaz era muito forte e a segurava com precisão.

— Vamos! Responda! solte-me!

Ele não soltou. Enquanto Bia se debatia, sentiu um desejo insano de beijá-la. Então, puxou-a mais para si.

— O que você pensa que está fazendo, gata selvagem? — A voz era sussurrante.

— Eu te odeio, seu mentiroso!

— Ah, é? Me odeia? Então vamos ver!

Estreitando-a no seu corpo, beijou-a com paixão. No início, ela tentou resistir, comprimindo os lábios, mas como percebia que o corpo a traía, não demorou muito,  abandonou-se, sem reservas, nos lábios dele.

A química que ligava os dois aumentou demasiadamente por se conterem nos últimos dias, porém pouco tempo depois,  Edu afastou-se.

O seu desejo era evidente, mas era a hora de contar a verdade. Infelizmente.

Ele quebrou o silêncio e segurou novamente os braços dela. Face a face, com o olhar já recomposto, sem emoção.

Agora não para beijá-la, mas para falar algo, que ela precisava ouvir a muito tempo.

— Não sou seu marido. Nunca fui. — Ela arregalava os olhos ao ouvir as duras palavras. — Você, na verdade, é casada com o meu irmão gêmeo: Edgar Colins!

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