Em casa eu me perdia no relógio com o caderno aberto tentando ler a matéria, até o Jonata entrar em meu quarto e dar um tapa em mim. Me arrepiava de medo quando ele fazia aquilo, ele ria feito uma bruxa me olhando com aqueles olhos de demônios.
Então olhei assustado e tirei sua mão de mim, e fiz uma cara feia para ele, mostrando pra ele ir embora. Eu tinha medo dele, mas tentava não demonstrar, se ele fosse bruxo iria me enfeitiçar ou enfeitiçaria minha mãe com suas maldades.
_ Tá na hora do seu remédio, desmiolado! (Assim ele pegou a cartela e tirou os comprimido de lá, mais parecia que tinha remédio diferente e tinha mais que o normal).
_ Eu não sou desmiolado! Sou inteligente, minha mãe fala isso! (Eu o encarei sério).
_ Sua mãe tenta te agradar, agora beba isso rápido! (Ele apertou minha boca tentando enfiar os remédios).
_ Tem remédio diferente, o que é esse aí? (Eu tirei a mão dele da minha boca e mostrei aqueles dois a mais que estavam junto aos meus de costume).
_ É o que sua mãe mandou você tomar! Agora para de birra e engole logo! (Ele falava me olhando estranho e o encarei com medo).
_ Não, ela sempre me fala quando tem remédio diferente! Ela me mostra a embalagem e me diz pra quê que vou usar aquele remédio! Esse aqui é para minha epilepsia, esse é de crise de pânico, esse é para... (Assim eu mostrei pra ele os remédios que minha mãe tava acostumada me dar, mas parecia que ele não tinha gostado e me encarou friamente e eu fiquei quieto pois tava com medo).
_ Toma logo seu remédio e para de falar! (Ele enfiou os remédios a força em minha boca e meteu um copo d'água em seguida).
Assustado com aquele jeito que ele me deu o remédios, e a quantidade enorme e sem explicação, eu os cuspi, pois havia me engasgado. Então ele me encarou com muita raiva e me deu um tapa, e depois tirou o cinto.
Eu pedi desculpa, mas ele não quis me ouvir, me xingou de retardado e me deu vários açoites de cinto, igual o outro dia. Queimava aquilo, e era sempre na perna e nas minhas costas, doía muito e eu tremia de medo dele, pois sempre dava aqueles cortes ardidos e eu não conseguia andar direito de dor. Uma vez eu disse que ia contar pra minha mãe, então ele me ameaçou e disse que eu ia ficar sem a minha língua e minha mae nao acreditaria em mim e eu ficaria sozinho pois já estava sem meu pai. Eu fiquei apavorado com aquilo, então não dizia nada para ninguém.
_ Engole esse choro! Retardado estúpido, vai se trocar logo! Mijão! (Ele riu de mim por fazer xixi de medo).
Assim ele me puxou pro banheiro e mandou eu tomar banho pra trocar de roupa, como eu tinha medo de ficar em casa com ele. Eu me sentia sozinho e enraivado naquele lugar. Depois que tomei banho, passei a mão em meu cabelo e fechei os olhos irritado vendo a tesoura dentro da caixa, em um momento de fúria resolvi mudar minha vida.
Cortei tudo que me irritava, meu cabelo liso certinho de tigela me deixava ridículo, Maria Alice não gostava dele, eu também achava feio, e ela não me notava e todos riam de mim por causa disso, aquilo parecia cabelo de índio. Cortando o meu cabelo eu me encarava no espelho com ódio daqueles olhos fundos de olheiras horríveis, realmente eu era horrivel feito meu pai, eu não queria ser eu, como me odiava, me sentia tão sozinho e ninguém gostava de mim, o único que me seguia era o irlandês que nem eu sabia o que era nosso relacionamento, se era amizade ou não? E eu não entendia porquê ele me tratava diferente de seus amigos, como eu estava confuso e não entendia nada direito! Odiava minha cabeça, meus pensamentos estavam bagunçados, e eu não conseguia me concentrar e entender nada, como odiava ser eu e não ser normal como os outros!
Tentando vestir minha roupa eu quase gritei de dor, estava todo vermelho de novo, minhas pernas ardiam, minhas costas doíam muito, então encolhi na cama e coloquei a coberta em cima, e peguei meu celular, eu não aguentava me vestir, então coloquei somente um calção, e ouvi a campainha tocar.
Talvez fosse algum amigo daquele cara mal, talvez ele havia mandado alguém pra me bater por eu ter cuspido os remédios sem querer! Eu estava com medo, eu engoliria eles se minha mãe tivesse dito que ia ter mais remédios, ou ele me desse de outro jeito e não daquele. Então senti medo e me encolhi mais na cama, sentia que eles iam abrir a porta e maltratar minha mãe por eu ser assim, como queria meu pai aqui eu ia dizer tudo pra ele!
Eu não escutava nada do lado de fora, depois ouvi a campainha de novo, mas Jonata não havia abrido a porta. Até eu ouvir alguém jogando pedrinhas na janela, eu sentia raiva daquilo, que pessoa ia jogar pedras na janela dos outros? Ainda mais com a janela aberta.
Então eu ouvi o Jonata gritando lá embaixo para a pessoa parar de jogar as pedras revoltado, então encolhido eu ouvi a pessoa respondendo para ele com uma linguagem meio embolada.
Aí Jonata ficou bravo, porquê a pessoa parecia nervosa ao falar com ele, pois estava muito embolado sua linguagem, até eu ouvir meu nome em meio aqueles embolos de fala.
Então Jonata mandou a pessoa subir, eu comecei a tremer, por que quem ia subir depois de falar meu nome? O que ia fazer comigo? Com certeza eu ia ser torturado e depois iam me matar! E no meio desses alvoroço de pensamentos eu fiquei mais infeliz e assustado, porquê eu não ia ver meu pai e nem me despedir da minha mãe!
Então eu ouvi a porta abrir, e escutei confusamente a voz de Jonata falando com a pessoa, parecia que eu já tinha ouvido aquela voz da pessoa antes, mas estava com tanto medo que não conseguia lembrar de quem era.
_ Eu vim entregar a caderneta de Murilo! Ele não pegou, pois saísse mais cedo da aula! (Era embolada aquela fala).
_ Ata, eu entrego ele! (Jonata falava com a pessoa).
_ Eu posso entregar a ele? Quero vê-lo, sou amigo dele! (A pessoa dizia mentira, eu não tinha amigos!).
_ Ele tá cansado, é melhor vê-lo outro dia! Ele é problemático, então ele teve que tomar remédio para acalmar, e deve tá dormindo agora! (Jonata era tão mentiroso quanto a pessoa que falava com ele).
_ Mais eu vim de longe para vê-lo! Deixe ao menos eu colocar seu caderno em seu quarto e ir embora! Eu sou o amigo dele! (O rapaz era insistente e parecia que eu tava tendo quase certeza que a voz era do irlandês!).
_ Olha, volta depois! O garoto é problemático e não quero que ele fica agitado por causa de um amiguinho de escola! Então vai embora! (Parecia que Jonata havia ficado nervoso).
_ Murilo não é assim! Ele é calmo! (Parecia que o rapaz contrapunha o Jonata, e me defendia).
Depois começaram a falar muitas coisas e eu escutava e me perdia no meio, tinha certeza que era Díoman lá, isso por incrível que pareça me deixou um pouco alegre! Eu não entendia o que eles falavam, mas o irlandês debatia com ele me defendendo.
Então depois de muita insistência, o irlandês entrou dentro da minha casa e foi no meu quarto, mas eu havia trancado a porta. Ele tentou abrir, mas eu tinha medo de Jonata estar com o irlandês, então não a abri.
_ Murilo, eu vim devolver sua anotações! Sou eu Díoman! (Eu sabia que era o irlandês).
Eu não o respondi, pois tinha medo daquilo tudo.
_ Eu quero te ver, mas a porta está trancada! Você está bem, Murilo? Está à dormir? (Ele bateu na porta e tentava abrir, sua voz era preocupante, então joguei a tesoura no chão para ele ver que eu tava acordado).
_ Estou preocupado, você está triste e vim te ver! Se quiser me ver abra a porta ou bata nela, para eu entender você! Uma vez para sim e duas para não! Você quer me ver? (Ele dizia suavemente e preocupado).
Então enrolado na coberta eu levantei e foi até a porta, sentia tanta dores no corpo que foi trêmulo, com a chave pendurada na maçaneta eu pensava em deixar ele entrar, mas sentia medo do que estava lá fora, então bati na porta uma vez.
_ Você está acordado! Estava pensando que estivesse a dormir, mas ouvi algo vindo daí de dentro! (Ele dizia empolgado aquilo).
_ Deixe-me lhe ver! Estou preocupado com você! (Ele dizia um pouco mais animado).
E eu assustado com o mundo lá fora, então fiquei próximo a porta e sussurrei para ele bem baixo.
_ Você tá com alguém aí fora? (Eu dizia com medo e com a voz trêmula).
_ Não, por quê? Sua voz está estranha! Está havendo alguma coisa? (Ele falava e parecia desesperado).
Então eu fiquei pensativo se ia deixá-lo entrar ou não? Eu tava em pânico e queria alguém do meu lado! E desesperado eu passei a mão na chave e a encarei muito confuso, minha cabeça estava a mil.
_ Murilo, deixe-me entrar! Você quer me contar algo? Alguma coisa tá acontecendo contigo, e você está com medo? Eu não irei te fazer mal! Sou o seu amigo, o irlandês! (Ele dizia calmamente pra mim).
E assustado eu confiei nele, abri a porta com os olhos assustados, tinha medo dele mentir pra mim! E quando abri eu vi que não tinha ninguém lá só ele.
_ O que?...(Ele me olhou pasmado, então o puxei com raiva).
_ Eu quero o meu pai! (Eu disse isso fechando a porta).
Eu não queria que batessem nele também, como faziam comigo, apesar dele ser estranho e louco, o irlandês tentava ser normal.
_ Por que você está assim? O que aconteceu meu docinho? (Ele apontou pro meu cabelo todo repicado pela tesoura e depois olhou pro chão todo cheio de cabelo).
Com medo dele me xingar também, me encolhi no chão, eu não deveria ter o feito entrar e ficar perto de mim. O irlandês ia brigar comigo, por ser esquisito. Então encolhido, tentava catar meu cabelo em pânico e segurar minha cabeça já que ela girava muito, e eu não havia tomado meus remédios.
_ Tá tudo bem! Pode contar pra mim, o que está acontecendo! Se não quiser contar eu não vou insistir! (Assim o irlandês sentou do meu lado e me encarou, e o encarei de volta).
Como estava retraído perto dele, o irlandês tentou pegar a coberta e se cobrir também junto a mim, mas eu a puxei de volta. Não queria que ele visse e risse de mim por tá todo marcado, assim como todo mundo.
_ Eu posso por minha cabeça em seu ombro? (Assim ele pegava algo em sua mochila falando comigo).
_ Hahan... (Eu o encarava atento).
_ Eu trouxe para nós! Você rejeitou de manhã, então trouxe de novo! É o seu favorito! Você quer? (Ele me mostrava o pacote de biscoito de gota de chocolate me oferecendo).
Eu o olhei assustado e não disse nada. Então ele não insistiu e colocou a cabeça em meu ombro e abriu o biscoito. Depois ele colocou um em minha boca delicadamente, e colocou outro na minha mão e sorriu para mim, comendo também e começou dizer algumas coisas aleatórias.
Eu amo esses biscoitos, mas tinha acontecido tanta coisa, eu tinha apanhado por ser mal, não queria apanhar de novo, por fazer sujeira ou comer o biscoito de forma errada. Pra piorar eu deixei um pedaço do biscoito cair e cobri o rosto com medo de apanhar novamente.
_ Esta tudo bem! Eu também deixei cair, olha só! Somos dois desastrados, agora temos que tirar eles do chão! (Assim Díoman pegou as minhas mãos e as abaixou, me deixando eu vê-lo).
Como ele sorria pra mim, e mostrava que aquilo não era nada demais. Ele pegava o pedaço e me encarava sorrindo, catando os biscoitos o irlandês achou um comprimido no chão e ficou encarando fixamente pra ele.
_ É meu! Eu não conseguia tomar e cuspi no chão! (Eu o cutuquei para ele me ver).
_ Por que? É muito ruim? (Ele sorriu pra mim simpaticamente).
_ Não! Jonata colocou muitos remédios pra mim tomar! Eram vários, mas minha mãe só me dá 4! Aí eu engasguei com tantos e eles caíram no chão! Não foi por maldade, eu juro! (Eu o encarava assustado).
_ Quantos remédios ele te deu? (Assim o irlandês me encarou preocupado).
Então mostrei com as minhas mãos quantos ele me deu, e assim ele se aproximou de mim, aí eu fiquei com medo de novo. Então pegou em minha mão, e fez um carinho em meu cabelo repicado, me encarando preocupado.
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Atualizado até capítulo 142
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