O caminho

Era difícil ter que fazer isso, mais era necessário! Eu não aguentava mais ter que fingir que nada estava acontecendo, e extremamente chateado e irritado com aquela situação e me pronunciei!

Eu odiava o namorado da minha mãe, quando ela não estava por perto, ele me xingava de estúpido, burro, mancol, Zé Ninguém, e outros vários nomes! Sem contar que ele me batia toda hora e doía.

Eu me sentia entristecido com aquilo, eu não fazia nada a ele, e o pior momento foi quando ele veio morar conosco, isso já fazia três meses! Eu sempre era feito de capacho por aquele cara e era chamado de retardado o tempo inteiro, e as vezes ele dizia isso perto de minha mãe com forma de brincadeira. Ela nem percebia que ele me olhava feio e me odiava.

_ Você faltou três dias! O que houve com você docinho? Me senti só sem a sua presença gloriosa nesse lugar, me senti nas trevas sem poder sentir seu cheiro, seu olhar, seu...(Era aquele irlandês de novo).

_ Me deixa irlandês, não está acontecendo nada! (Encolhido em um canto do pátio eu tentava me esconder das pessoas, sentia que todos riam de mim, por ser diferente deles).

_ Nada? E por que não quer sair daí? Todos os dias agora você se encolhe aí, eu quero lhe ver, mas não caibo aí, para lhe ver! (Irlandês era insistente, e tentava me tirar de lá).

Eu sempre me escondia no buraquinho da arquibancada, quase ninguém cabia lá pois era muito pequeno, e eu era pequeno demais e cabia lá como se ele fosse feito para mim! Aquele buraquinho era feito especialmente para mim, pois lá eu escondia todos os meus sentimentos e me sentia seguro e não ia apanhar lá.

_ Me deixa em paz! Não vê que não quero papo hoje! Me erra, e vai caçar seus amigos! (Entristecido e com vergonha, mandei ele ir embora, não queria que ele visse minhas marcas no corpo).

Com certeza ele implicava comigo, e depois me zombava pelas costas como as outras pessoas. Eu ja tinha ouvido pela escola me chamarem de estúpido, asno e tolo! Eu só fingia não escutar, mas eu entendia o significado das palavras, e tentava esquecer isso como a maioria das coisas importantes que não deveria esquecer. Eu não queria que a escola risse de mim por apanhar em casa, como uma criança encrenqueira.

_ Biscoito? Seu favorito! Pega e come, não comeu nada hoje na escola! Come! (Assim o Díoman pegou os biscoitos de gotas de chocolate e me ofereceu).

_ Eu não quero, pode comer! (Assim eu saí do buraquinho e me levantei).

_ Eu dou o saco para você! Você ama e eu comprei para você! (Assim ele mexeu comigo e eu o ignorei e foi embora daquele lugar).

Andando até a sala de aula eu vi o telefone da secretaria e pensei em meu pai, eu não sabia o seu número, mas lembro de como ele ligava pra mim todos os dias antes da mãe trocar o número. Me dizia que eu era incrível, que me amava, e sempre elogiava meus riscos quando fazíamos juntos. Meu pai era arquiteto, mas no tempo livre ele desenhava pra eu colorir e eu fazia o mesmo pra ele! Amava ficar ouvindo suas músicas punk, e comer sua comida!

Eu gostava de brincar com ele e me sentia bem do seu lado. Como eu sentia falta dele, não queria somente seu dinheiro ou uma carta, eu queria ele! Como me aborrecia quando eu tentava falar com ele, mas minha mãe não deixava eu vê-lo, ela sempre diz que meu pai é um cara perdido.

Viajando no telefone da secretaria, me sentia sozinho no mundo estando do lado de minha mãe, estando na escola, estando com todos! Principalmente quando Maria Alice começou a namorar, me deixando sem esperanças para conquistá-la, e com aquele cara enfiado dentro de casa, me sentia inferior lá dentro, eu estava me sentindo um lixo solitário!

_ Não vai pra aula? O sinal já tocou! A professora deve estar nos esperando! (Eu nem tinha percebido que o irlandês estava do meu lado).

_ Díoman, me ajuda ver meu pai! (Eu olhava pro telefone pensando em meu pai, e falando aquilo com o irlandês).

_ Díoman? Nunca me chamou pelo nome! O que há com você docinho? Eu não sinto que você está bem! (Assim o irlandês pegou em minha mão e eu o encarei).

_ Eu quero ir embora! Não gosto daqui, ninguém gosta de mim! Eu odeio tudo isso aqui! Eu me odeio! (Então o empurrei e saí correndo).

Minha cabeça estava esquisita e eu estava assustado e triste, entrei na sala de aula correndo e a professora estava dando a matéria, vendo isso ela gritou comigo, então peguei minha mochila e saí da sala desesperado. Quando saí bati de frente com o irlandês, e assustado o olhei e saí pelos corredores correndo, ouvindo a professora gritar meu nome.

Eu ia embora daquele lugar, ninguém gostava de mim. Eu queria ver meu pai, mas me privavam disso! Então eu peguei minha mochila e ia arremesá-la do outro lado do muro, eu iria desaparecer do mundo, e todos ficariam mais felizes sem ter um retardado do lado.

_ Murilo! Pare com isso, você vai se machucar! (Assim senti um abraço, e então em um momento melancólico eu coloquei a mão na cabeça e não entendia nada do que estava acontecendo).

_ Eu quero ir embora! Quero meu pai irlandês! Quero mora com ele! Ele me ama, as pessoas aqui não! (Então o encarei com os olhos fundos e tristes).

_ Não diga isso, Murilo! Eu gosto de você! A professora está preocupada te procurando pela escola! Vamos voltar para sala! (Aquele cara me encarava preocupado e passando a mão em meus cabelos).

Com um gesto de repúdio eu neguei aquela ideia, eu já havia me tornado o palhaço da sala com certeza, não queria ouvir risos sobre mim. Depois a professora me viu junto com irlandês, e depois de muito custo ela me mandou ir pra diretoria pois iria falar com minha mãe, e mandou o irlandês ir para sala.

Esperei sentando naquele lugar novamente, já estava acostumado ir para lá, até minha mãe chegar e conversar novamente com a diretora e a professora juntas. Quando acabaram de falar, minha mãe olhou pra mim chateada e mandou eu segui-la até o carro.

_ Murilo, eu já te disse que se você estiver com problemas pode contar para ela? Eu sou sua amiga, não sou? (Dentro do carro ela falava comigo calmamente e eu olhava para rua).

_ Hahan... (Eu respondi pra ela vendo as pessoas andando na rua).

_ Hahan o quê? Você fez isso pela quarta vez Murilo, em menos de 2 meses! O que está acontecendo? (Ela olhava séria e preocupada me cutucando).

_ Eu não quero ir para casa! (Eu não queria voltar para aquele lugar, sentia medo lá).

_ Murilo, o que está acontecendo? Olha para a mim, enquanto eu falo com você! (Ela me encarava e eu fiquei assustado).

_ Eu não quero ir pra casa! Quero ver meu pai! (Eu fiquei vermelho e me encolhi no banco do carro, com medo).

_ Isso de novo Murilo! Já conversamos sobre isso, e você já sabe onde a conversa vai parar! (Ela falava brava comigo).

Então a encarei triste, e quando o carro parou no sinal eu abri a porta, eu não ia voltar pra casa!

_ Murilo, o que você está fazendo? Fecha a porta meu filho, você vai se machucar! (Assustada ela olhava pra mim).

_ Eu não vou pra casa! (Então fechei a porta e saí correndo desesperado e com minha cabeça girando).

_ MURILO! Onde você está indo? Volta pra cá AGORA! (Minha mãe gritava atrás de mim, e quanto mais eu corria, mais raiva sentia dela).

As pessoas me encaravam sussurrando, pareciam que estavam rindo de mim! Me chamando de burro, retardo, idiota! Eu só era isso, um retardado!

Correndo eu entrei e me encolhi em um beco qualquer e tampei meu rosto, não aguentava mais ouvir tanta gente falando em minha cabeça, rindo de mim e me encarando, tudo girava.

_ O que foi isso? O que está acontecendo com você? (Minha mãe chegou perto de mim desesperada e depois sentou no chão do meu lado, quando viu que eu estava em crise).

Assim eu fiquei encolhido por muito tempo, sem entender o que estava acontecendo e a encarei chorando, eu me sentia mal e ela percebia isso, por isso ficou do meu lado o tempo todo me ajudando a me acalmar. E assim depois daquilo eu me levantei do chão, quando ela estendeu as mãos pra mim falando que estava tudo bem.

Em casa eu ouvia ela falando com aquele cara. Ele me dizia que eu era estúpido, mas na frente dela não! Ele era mal comigo, era mais assustador que o irlandês, principalmente quando encostava em mim! Não era como o irlandês, era bem diferente e ruim, eu sentia medo dele.

_ Ele faz isso porquê quer chamar atenção Michelle! E agora descobriu um jeito e está fazendo isso direto! Aquele garoto é um mimado, e você vive passando a mão na cabeça dele! (Ele falava indignado com minha mãe).

_ Jonata eu já te disse que o Murilo é especial, ele não faz isso porquê quer! Meu filho deve estar com problemas e não quer me contar! Deve ter brigado com um colega da escola, e deve está se sentindo chateado! Eu já te contei como ele era pequeno, que não conversava com ninguém e vivia somente em seu mundo, e teve até consultas com fono por causa de ser antissocial e os outros problemas que ele tem! Então não quero ouvir você falando que meu filho é mimado! (Minha mãe falava suavemente com ele e parecia estar bem séria).

_ Mesmo assim, eu acho que você o mima demais! Por isso ele fica dando essas crises, você não sabe tomar conta dele direito, se fosse meu filho ele já tinha tomado jeito! Onde já se viu, já é um homem feito e ainda faz pirraça na rua! (Ele falava irritado com ela).

_ Olha aqui, você pode falar isso com os seus filhos! Mas com o meu não! Então não fale assim do Murilo, ou você pega suas coisas e some daqui! Porquê eu que sou a mãe dele e sei muito bem do que meu filho precisa nesse momento! E não aceito qualquer um falando do que deve ou não ser feito, entendeu? (Minha mãe dizia aquilo tão brava fria com ele, sem alterar a voz).

_ Calma amor, eu não quis lhe ofender! Eu só não entendo como você aguenta isso! Eu acho esquisito isso, ele já é um homem! Praticamente adulto e ainda faz coisas de criança! Isso é esquisito, eu não estou acostumado com isso! Ainda mais quando tento conversar com ele, e o garoto me ignora! Isso é falta de educação ele é esquisito! Não quis te ofender Michelle! (Assim ele abaixou o tom, e eu o escutava do outro lado da parede e novamente foi chamado de esquisito).

_ Você se acostuma, meu menino é um doce só não está acostumado com você ainda! Pensando bem, deve ser isso que ele está tendo crises! Ele deve estar confuso te vendo aqui, e não consegue assimilar as coisas direito e deve estar sentindo que vou abandoná-lo! Deve estar pensando que você vai substituir o Dantes e ele! (Eu me sentia assim mesmo, minha mãe só ficava com ele e nunca me ouvia, principalmente quando falava do pai, ela me ignorava completamente, gostava mais daquele cara do que de mim).

Eles continuaram conversando e eu me perdia na conversa, não entendia nada do que eles diziam, mas sabia que minha mãe só ouvia aquele estúpido. E ela sempre me deixava sozinho com ele, pois ela trabalha no hospital e eu quase não ficava com ela, como nesse dia.

_ Amor, já vou ir tá bom! Qualquer coisa, pode ligar para mim que vou tentar te atender, se não estiver cheio lá, tá bom? (Minha mãe falava e eu confirmava com a cabeça).

_ Obedece o Jonata, ele vai te dar seus remédios e você vai ficar bem! Não deixa de fazer o dever de casa como a professora te mandou! E fica quietinho para suas crises passar, porquê você está doente! Então não vai sair hoje para ir no curso, está me ouvindo? (Ela puxou meu rosto já que me distraía vendo seus brincos).

_ Hahan... (Eu a encarei confuso).

_ Hahan o quê? O quê que a mamãe falou? (Ela me perguntou séria).

_ Eu não sou criança! Não falo mamãe mais! (Ela só falava mamãe, as pessoas da escola riam quando ela falava assim comigo).

_ Tá bom meu homenzinho, mas o que eu disse pra você não fazer? (Ela me encarava e eu confuso a encarei).

_ Não sair, porquê tem doença lá fora e é perigoso tomar remédio...(Eu não havia entendido muito bem, mas sabia que ela tinha falado isso).

_ É Murilo, pelo menos você sabe que não é para sair! Então obedece o Jonata e toma seu remédio certo, porquê vou trabalhar e não posso ficar com você! Repete o que eu disse! (Ela me encarou séria).

_ Não é pra sair, tomar o remédio, e ser obediente! (Eu havia entendido, parecia que nem ela achava que eu era inteligente).

_ O Jonata vai te dar o remédio, então não o desobedece! (Ela me encarou).

_ Mas eu não quero tomar remédio com ele! Ele é mal! (Eu morro de medo daquele cara).

_ Murilo, para de gracinha e o respeita! Agora eu tenho que ir e depois te vejo amanhã! (Assim ela me encarou bem séria e se despediu).

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~Naomi~

~Naomi~

tadinho do Murilo 😭

2022-06-26

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