Na Mira Do Amor
Carlos já estava exausto depois de tantas horas de cirurgia. Era desgastante lidar com a pressão de salvar a vida de um paciente, especialmente tendo que compartilhar a sala de cirurgia com seu ex-namorado, Lucas, que estava ao lado de seu novo parceiro.
Carlos era um excelente médico e cirurgião. Ele havia tentado várias vezes mudar de hospital para evitar encontrar Lucas, que também era médico e se exibia pelos corredores com seu novo namorado, também médico. No entanto, Carlos sempre acabava desistindo da mudança quando seus colegas imploravam para que ele ficasse.
Após várias horas, a cirurgia finalmente terminou.
— Finalize, por favor — pediu Carlos a um assistente.
Carlos entregou a parte de sutura a um membro da equipe e desejou sair dali o mais rápido possível. Ele saiu da sala de cirurgia, encontrando os familiares do paciente.
— Correu tudo bem com a cirurgia. Ele será mantido na UTI por aproximadamente vinte e quatro horas e depois será encaminhado ao quarto — explicou ele aos familiares.
Enquanto se despedia da família do paciente, Carlos viu Lucas e seu namorado saindo da sala também. Ele acenou educadamente para os familiares do paciente e, em seguida, dirigiu-se a outra sala para trocar de roupa.
Carlos seguiu atrás dos dois, observando discretamente os sorrisos que trocavam e os toques ocasionais no braço um do outro. Ele se perguntava por que se torturava tanto.
— Fica observando aquilo por quê? Você é masoquista? — A voz de sua amiga enfermeira, Nina, o tirou de seus pensamentos.
Carlos, confuso, respondeu:
— O quê?
Nina se aproximou e explicou, sorrindo:
— Você parece masoquista, por que fica observando aqueles dois?
Carlos suspirou.
— Não sei, Nina. Não consigo evitar.
— Se você não fosse gay, eu me candidataria a fazer você esquecê-lo. Sabe o que você precisa? Arrumar um homem musculoso, bem… você sabe o que, para esquecer esse idiota rapidinho.
Carlos riu levemente, apreciando o esforço de Nina em tentar animá-lo.
— Quem sabe, Nina? Talvez você esteja certa — respondeu ele, sentindo-se um pouco mais leve com a conversa.
Nina não tinha papas na língua e havia tentado de todas as formas fazer seu amigo superar seu ex. Carlos balançou a cabeça sorrindo e, mais uma vez, olhou para os dois que dobraram o corredor, relembrando as palavras de Lucas.
“Eu tentei, mas você é passivo demais para mim. Não estou falando de nossas posições, mas você é obediente demais, não se arrisca, não faz nada impulsivo. Sou diferente, quero alguém que tenha pulso firme, que seja mais agressivo, por assim dizer. Você é um ótimo homem, mas não é o tipo de homem que procuro. Não adianta ficar com você só para não te fazer sofrer terminando. Mas tenho que pensar em mim também. Me desculpe.”
As palavras que Lucas disse antes de sair de sua casa, após Carlos descobrir a traição, continuavam ecoando em sua mente. Seria ele tão previsível assim? Obediente demais e talvez monótono na cama? Não gostar de correr riscos e preferir manter tudo sob controle era realmente algo ruim?
Carlos refletia sobre isso enquanto observava Lucas e seu namorado. Ele se perguntou se realmente precisava mudar sua personalidade para agradar alguém, ou se deveria buscar alguém que o aceitasse exatamente como ele era.
Carlos estava ansioso para trocar de roupa e voltar para casa; seu turno havia terminado, e ele só desejava tomar um banho relaxante. Despediu-se de Nina e foi para o vestiário, onde trocou de roupa. Depois, voltou ao seu escritório para pegar seus pertences antes de sair. Já era meia-noite e ele havia realizado várias cirurgias naquele dia. Ao se dirigir para a recepção, percebeu uma movimentação estranha.
Carlos ouviu gritos e notou que homens armados haviam entrado no local, trazendo consigo três homens baleados. Eles apontaram uma arma para Nina e perguntaram onde o médico estava. Carlos percebeu que sua tranquila noite estava arruinada.
— Eu sou médico — disse ele, chamando a atenção dos homens e afastando-os de sua amiga. Estava apreensivo, mas não podia demonstrar seu medo.
Nina lançou um olhar preocupado para Carlos, mas ele manteve a calma e se aproximou dos feridos. Os homens armados estavam claramente nervosos, e Carlos sabia que qualquer movimento em falso poderia ser perigoso.
Um dos homens se aproximou, apontou a arma para Carlos e ordenou que salvasse a vida do homem diante dele. Carlos lutava para manter a calma. O homem à sua frente pediu que chamassem outros médicos. Nesse momento, Lucas e seu namorado também apareceram na recepção, atraídos pelos barulhos, e tiveram armas apontadas para suas cabeças.
Carlos não queria falar com eles, mas não tinha escolha.
— Cuidem desses dois pacientes, que eu vou atender a este — disse ele para Lucas e o namorado. Em seguida, voltou-se para o homem armado: — Levem os outros dois para onde os médicos indicarem e você me siga.
Carlos agiu rapidamente, sem esperar por perguntas do homem à sua frente. Virou-se e começou a caminhar, percebendo que o homem o seguia de perto. Enquanto caminhava, ele tentou pensar em um plano para garantir a segurança de todos.
— Coloque-o na maca — ordenou Carlos assim que entrou na sala de emergência, pegando luvas para examinar o paciente, enquanto dois outros homens armados na sala observavam atentamente.
Carlos abriu a camisa do homem deitado na maca. Era jovem, provavelmente da mesma idade que ele, e seu corpo estava coberto de tatuagens. O paciente estava consciente e demonstrava estar com muita dor.
— A bala não atravessou, preciso removê-la. Seria melhor levá-lo para a sala de cirurgia.
O homem na maca olhou Carlos de forma estranha e respondeu imediatamente:
— Doutor, não vai me deixar inconsciente. Apenas tire essa droga de bala do meu ombro aqui mesmo. Não é a primeira vez, eu aguento.
Carlos ficou surpreso ao ouvir o que o homem disse. Havia realmente alguém corajoso o suficiente para não querer ser anestesiado em um hospital e passar por um procedimento doloroso consciente?
— Isso vai doer muito. — Carlos ainda tentou convencê-lo.
O homem armado que estava próximo a ele se aproximou mais e foi direto:
— Não podemos correr o risco de alguém nos procurar e ele estar inconsciente. Você não tem ideia de quem está à sua frente, doutor. Então, apenas faça o seu trabalho e retire a bala, e não se atreva a deixá-lo morrer — ele disse, terminando a frase bem próximo ao ouvido de Carlos.
Carlos havia jurado salvar vidas, e não importava se era de um criminoso; ainda era uma vida. Ele pegou uma toalha e deu ao homem para morder quando a dor se tornasse insuportável.
— Morda isto quando a dor se tornar intensa — disse Carlos, entregando a toalha ao paciente.
Carlos reuniu tudo o que precisava, cortou a camisa do homem e começou a limpar a ferida para tentar localizar a bala. Em seguida, usou uma pinça para tentar remover o projétil, que estava alojado no ombro direito e não havia atingido nada perigoso.
— Segure-o para não atrapalhar o procedimento — disse Carlos ao brutamontes que o havia trazido.
Carlos continuou o procedimento por alguns minutos até conseguir extrair a bala. Fez todos os procedimentos necessários e instruiu sobre os curativos. O homem na maca, com a ajuda de seu subordinado, sentou-se de frente para Carlos e levou uma mão ao rosto do médico.
— Não vou esquecer o que fez hoje, doutor, e não vou esquecer esse rosto bonito.
O homem deu um sorriso de canto, embora estivesse claramente sentindo dor. Em seguida, ele se levantou com ajuda, perguntou onde poderia encontrar os outros dois homens baleados e saiu da sala, deixando Carlos paralisado pelo medo.
Carlos ficou parado por um momento, processando o que havia acontecido. Sentia um misto de alívio por ter salvado o paciente e de medo pelas implicações do que havia ouvido.
“Por favor, esqueça, não precisa se lembrar do meu rosto”, pensou Carlos.
Carlos tirou as luvas e a máscara, tentando acalmar seus batimentos cardíacos já acelerados pela adrenalina. Ele não sabia o que estava acontecendo na outra sala e estava preocupado com as outras pessoas no hospital. Embora não quisesse admitir, sua maior preocupação era Lucas.
Ele saiu da sala e se dirigiu na direção de onde os outros estavam. Ouvia vozes alteradas, e o homem, que anteriormente apontava uma arma para ele, segurava o namorado de Lucas pelo colarinho. Carlos imaginou que o outro homem não havia resistido. Lucas tentava intervir, mas foi empurrado por um dos outros homens armados.
— Seu amigo perdeu muito sangue. Pelo estado de suas roupas, imagino que não tenha sido apenas uma bala. Se a bala atingiu algum órgão vital, seria difícil salvá-lo — explicou Carlos.
Ele interveio, chamando a atenção do homem que havia atendido anteriormente. O homem se virou para ele e se aproximou.
— Você confia nas habilidades dele, doutor? — O criminoso fez a pergunta e se virou para encarar o homem que ainda estava sendo segurado.
Carlos, internamente, sentiu satisfação ao ver o homem sendo intimidado, mas sabia que não podia permitir que a situação se tornasse perigosa demais. Ele estava ciente de que aqueles homens poderiam matá-lo ali mesmo e não queria ser responsável por isso. Carlos encarou o homem e, em seguida, olhou para Lucas.
— Sim, confio. — Carlos disse com confiança.
O bandido à sua frente o encarou novamente e sorriu.
— Bom, doutor, se você está dizendo, vou considerar isso como uma fatalidade.
Ele se dirigiu aos seus homens, ordenando que soltassem o namorado de Lucas, e instruiu outros a cuidarem do homem falecido e do ferido para levá-los dali. Em seguida, voltou-se novamente para Carlos.
— Meu nome é Andrey Marastrove. Talvez você já tenha ouvido o meu sobrenome. E o seu, doutor?
Carlos engoliu em seco e desviou o olhar.
— Meu nome é Carlos.
Andrey sorriu e se virou, saindo dali com seus homens. Aos poucos, os funcionários e pacientes começaram a se mover. Alguns choravam, outros queriam sair dali o mais rápido possível.
Carlos apertou a testa, sentindo uma leve dor se instalando ali. Precisava voltar para casa e descansar. Pegou suas coisas e, daquela vez, saiu pelos fundos, indo em direção ao estacionamento.
Dirigindo na madrugada, Carlos observava as ruas desertas. Já passavam das duas da manhã, e seu único desejo era chegar em casa rapidamente. Ele pensava no nome mencionado pelo homem no hospital e lembrava-se de já ter ouvido falar do sobrenome Marastrove. Sabia que era uma família de mafiosos poderosa na região. Ele temia que atender o filho do chefe da família Marastrove pudesse trazer problemas.
Carlos chegou em frente ao portão de sua casa e apertou o botão do controle. Antes de mover o carro novamente, ouviu um baque no vidro. Olhou assustado e viu um homem armado.
“O que mais poderia acontecer nessa madrugada? Não bastava o que ocorreu no hospital e agora estou sendo assaltado”, pensou Carlos.
O homem fez um gesto com a arma, indicando que Carlos abaixasse o vidro. Carlos obedeceu, não querendo arriscar fazer algo que pudesse resultar em levar um tiro. Ele notou que a mão do homem estava ensanguentada, e a outra segurava o abdômen.
— Eu preciso entrar em sua casa. Se você cooperar, nada de ruim acontecerá. Entre devagar com o carro e feche o portão — disse o homem armado.
Carlos ficou perplexo. “Pensei que ele quisesse levar o carro. Por que ele precisa entrar na minha casa?” Ele pensou enquanto obedecia e entrava devagar, fechando o portão.
Ele olhou pelo retrovisor e percebeu que o homem havia sido baleado. Carlos pensou que deveria fazer o mesmo que no hospital, não apenas para tentar salvar sua vida, mas também a dele, afinal, era um médico e não podia fugir dessa responsabilidade.
Ele esperou o homem se aproximar do carro com dificuldade.
— Saia. Precisamos entrar. Eu preciso que você me faça um favor.
Carlos imaginou que o homem o mandaria ajudar com o ferimento. Ele saiu do carro, e o homem à sua frente quase caiu. Os reflexos de Carlos foram mais rápidos, e ele segurou o homem, ficando com o rosto próximo ao seu. Carlos não conseguiu manter o olhar nos olhos dele e abaixou o olhar para a barriga do homem.
— Guarde a arma e passe o braço pelo meu pescoço. Sou médico e posso ajudar. Não farei nada contra você. Se essa ferida não for tratada, você pode morrer. Você continua perdendo sangue.
O homem olhou para Carlos incrédulo, provavelmente pensando em quanta sorte teve ao abordar um médico. Com cuidado, ele abriu a porta de trás e pegou sua maleta no banco traseiro, sob o olhar atento do homem de pé ao seu lado. Em seguida, caminhou em direção à porta, e ouviu um gemido vindo do homem.
Carlos se virou e percebeu que o homem estava prestes a desmaiar. Agiu rapidamente, segurando-o e passando o braço ao redor dele. Com esse movimento, Carlos não pôde evitar que seus rostos ficassem bem próximos novamente.
Ambos se olharam, mas Carlos não conseguiu manter o contato visual com aqueles olhos. Ele desviou o olhar e continuou segurando o homem.
— Você tem olhos lindos — disse o homem, chamando a atenção de Carlos mais uma vez.
— Vamos entrar. Você está ficando fraco. — Carlos respondeu, ajustando o corpo do homem próximo ao seu e conduzindo-o em direção à porta.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Ligia Silva
iniy14/10/24 bora lá
2024-10-15
1
Maria Elisa Simões
Já comecei lendo e gastando muito da história essa vai ter um final feliz né Autora /Facepalm//Facepalm/
2024-08-20
4
littlebigheart
gostei
2024-07-26
5