capítulo 4

Carlos chegou ao hospital na manhã seguinte, sentindo-se como se tivesse sido atropelado por um caminhão. Não havia dormido direito, estava tonto e com náuseas, e nem sequer conseguiu tomar café da manhã.

Ele sabia que tudo aquilo era resultado do estresse acumulado nos últimos dias. Carlos começou a atender seus pacientes, mas estava menos focado e até mesmo distraído. Durante uma pausa para o café, Nina se aproximou.

— Ei, você está bem hoje? Parece abatido e cansado. Aconteceu alguma coisa? — perguntou Nina, preocupada com o amigo.

— Estou bem, acho que são só os efeitos daquele dia. Tudo foi muito estressante — respondeu Carlos.

Por mais que confiasse em Nina, ele não iria contar sobre o que houve em sua casa e toda aquela confusão com mafiosos. Não podia correr o risco de envolvê-la também.

— Por que não pede uma licença? Você passou por muita coisa nos últimos meses. Precisa relaxar.

Carlos sabia que ela estava se referindo ao término com Lucas e, mais recentemente, ao incidente no hospital.

— Não precisa, Nina. Sei que está preocupada, mas só preciso que as coisas voltem ao meu controle de novo — explicou Carlos.

— As coisas saírem do controle, às vezes, não é um problema, doutor. Podem até acontecer coisas boas. — Nina tentou animá-lo.

Carlos não pensava daquela forma. Ele se perguntou que coisa boa havia acontecido desde que perdeu o controle de sua vida? Lucas o deixou, enfrentou dois mafiosos em uma madrugada, e sua rotina, humor e concentração estavam uma bagunça.

Já era por volta de dez e meia da manhã. Carlos havia acabado de atender mais um paciente e o acompanhou até a recepção. Enquanto assinava alguns documentos, um entregador se aproximou.

— Procuro pelo senhor Carlos Smith.

Carlos levantou o olhar e viu flores e bombons nas mãos do entregador.

— Sou eu — respondeu Carlos, pegando os pacotes e assinando.

Nina observava aquela cena e ouviu os burburinhos das enfermeiras na recepção.

— Olha só, recebendo flores e chocolates! Está namorando e não nos contou, doutor? Então, quem é o sortudo? Conte, nós queremos saber — disseram as enfermeiras, deixando Carlos vermelho enquanto tentava conter a animação delas.

— Calma aí, não estou namorando. Deve ser de algum paciente em agradecimento, só isso.

Carlos sorriu e olhou para o lado, vendo Lucas parado no corredor. Lucas desviou o olhar e se virou, indo embora. Carlos voltou sua atenção para as meninas e para os presentes que recebeu. Pegou o cartão nas flores e leu.

“Para o médico mais lindo dessa cidade. Andrey Marastrove.”

O sorriso no rosto de Carlos desapareceu ao ver aquele nome. Era possível que passaria a ser perseguido por aquele homem? Suspirou e olhou novamente para os presentes.

— Meninas, deixem as flores na recepção para enfeitar, e o chocolate vocês podem comer — disse, empurrando os presentes em direção a elas antes de sair para à sua sala.

Nenhuma das meninas entendeu a reação de Carlos, inclusive Nina, que também estava lá. Ela preferiu deixá-lo sozinho por enquanto, mas estava realmente preocupada.

Alguns minutos depois, na recepção, Lucas estava assinando alguns documentos quando um homem alto, forte e elegante apareceu com flores nas mãos. Dois homens que o acompanhavam ficaram mais afastados enquanto o homem bonito se aproximou do balcão, chamando a atenção das enfermeiras e de Lucas.

— Bom dia, podem me dizer onde fica o consultório do doutor Carlos Smith?

Lucas parou a caneta no ar e olhou para o homem. Nina, que também estava chegando ali, ouviu a pergunta e prontamente respondeu.

— Me acompanhe, por favor — disse Nina, sorrindo para as meninas da recepção.

— Misericórdia, que homem é aquele? Será que foi ele quem mandou as outras flores e agora veio fazer uma surpresa?

As meninas na recepção ficaram eufóricas, comentando diversas coisas. Lucas, que ainda estava ali, cerrou os dentes ao olhar para as costas do homem indo em direção ao consultório de Carlos. Ele largou a caneta e saiu da recepção, aparentando desgosto.

Depois que Lucas saiu, as meninas continuaram suas conversas, especulando que ele estava com inveja ou ciúmes pelo fato de Carlos ter seguido em frente.

Nina bateu na porta do consultório de Carlos e abriu, colocando só metade do corpo para dentro.

— Carlos, mais flores — disse Nina, sorrindo.

Carlos franziu a sobrancelha e se levantou irritado, indo até a porta.

— Eu não quero mais flores — disse, abrindo a porta completamente e ficando surpreso ao ver quem estava ali com as flores nas mãos.

— Alberto! — exclamou Carlos, surpreso.

Ele não esperava ver aquele homem de novo, ainda mais com flores e o procurando no hospital.

— Me desculpe, achei que gostasse de flores — disse Alberto, desculpando-se.

— Eu gosto, é só que…

Carlos não terminou de falar e olhou para Nina, que ainda estava ali com um sorriso bobo no rosto, olhando de um para o outro.

Ele pigarreou e fez um gesto para Alberto entrar em seu consultório. Alberto entrou, e Carlos fez um movimento com os olhos e a boca, indicando que Nina fosse embora dali. Carlos fechou a porta e foi em direção a Alberto.

— São para mim? — perguntou, encarando Alberto.

— Sim, mas parece que não gosta de receber flores — disse Alberto, com um pequeno sorriso no rosto.

— Depende de quem venha as flores — respondeu Carlos, estendendo a mão para pegá-las. Ele se virou e foi para o outro lado da mesa.

— Você recebeu flores recentemente, para dizer que não queria mais? — perguntou Alberto, tentando descobrir algo.

Carlos olhou para Alberto, suspirando, e estendeu a mão para que ele se sentasse. Ponderou se deveria contar, mas sabia que, se quisesse, Alberto poderia descobrir por conta própria. Já que ele estava perguntando diretamente, Carlos mordeu os lábios enquanto pensava, e Alberto observava atentamente esse movimento.

Carlos encarou Alberto novamente e respondeu à sua pergunta.

— Sim, achei que as flores fossem da mesma pessoa que me mandou algumas mais cedo. Andrey Marastrove.

Carlos observou a reação de Alberto enquanto respondia e notou que o outro se enrijeceu ao ouvir o nome de Andrey.

— Então você é amigo de Andrey Marastrove? — perguntou Alberto, como se não soubesse que eles já haviam se encontrado antes.

Carlos balançou negativamente a cabeça e se levantou.

— Não sou amigo daquele homem. Eu extraí uma bala dele na mesma madrugada em que extraí a sua. Suspeito que vocês dois tenham se enfrentado, não é?

Alberto se apoiou na cadeira para se levantar, ainda sentindo dores, onde foi baleado. Aproximou-se de Carlos e o olhou com seriedade.

— Sim, sofri uma emboscada naquele dia e fui eu quem atirou nele. Mas você deve ficar longe do Andrey. Ele é um sádico desgraçado que não se importa em ferir as pessoas.

Carlos notou um traço de preocupação nos olhos de Alberto.

— Não tenho intenção de ficar perto dele, mas pelo que vejo, ele não pensa da mesma forma — respondeu Carlos, suspirando.

Alberto deu mais um passo, aproximando-se de Carlos.

— Se ele descobrir que você salvou minha vida naquela noite, pode querer machucar você — disse Alberto, estendendo a mão para tocar o rosto de Carlos, mas recuou. — Eu não vou permitir que ele faça isso. Me dê seu celular.

Carlos entregou o celular um pouco receoso. Alberto salvou seu número e deu uma ordem.

— Me ligue se qualquer coisa acontecer, ou se o Andrey te incomodar novamente.

Alberto entregou o celular de volta a Carlos, que o pegou e observou o nome salvo. Olhou nos olhos de Alberto novamente e perguntou:

— Então vai me proteger?

— Mesmo que você não queira, eu vou — respondeu Alberto.

Os dois se encararam por um tempo, e Carlos corou um pouco. Desviou o olhar, agradecendo.

— Obrigado.

Carlos mordeu os lábios, e Alberto se aproximou mais, levando a mão novamente ao rosto de Carlos, mas daquela vez, sem recuar.

— Não morda os lábios desse jeito; você não sabe como fica quando faz isso — disse Alberto.

Carlos soltou os lábios, sentindo seu coração acelerar e todo o sangue subir para o rosto. Ele estava todo corado enquanto Alberto continuava a olhar nos seus olhos.

Alberto fez um movimento com a cabeça, como se fosse beijar Carlos, mas foi interrompido por algumas batidas na porta. Ele se afastou rapidamente, e Nina abriu a porta.

— Desculpe interromper, mas o diretor pediu que você fosse à sala dele — disse Nina, olhando para Carlos com um pedido de desculpas nos lábios, antes de fechar a porta novamente.

Alberto sorriu e comentou que já estava saindo. Lembrou Carlos para não esquecer de ligar se precisasse, se despediu e saiu da sala.

Carlos ficou na porta observando as costas do homem se afastando. Andrey e Alberto eram mafiosos, mas, por algum motivo, ele se sentia mais à vontade com Alberto do que com o outro. Havia algo sinistro que emanava de Andrey.

Enquanto observava Alberto saindo, Carlos sentiu sua visão embaçar e uma sensação de tortura intensa.

— Doutor Carlos, Carlos! — gritou Nina, ajoelhada ao lado de Carlos, enquanto Alberto olhava para trás, vendo Carlos caído no chão.

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Comments

Wanderleia Menezes

Wanderleia Menezes

Alberto é gentileza pura com quem merece a sua atenção
Já Andrey nossa só grosseria mesmo com aqueles que está por perto

2025-03-18

0

Wanderleia Menezes

Wanderleia Menezes

Credo dessa forma é melhor nem receber nada
Joga no lixo pode ser coisa ruim

2025-03-18

0

Adriele Araújo

Adriele Araújo

Aí Autora, Me Juga Mais Queria Os Três Juntos😭😭😭

2025-04-01

0

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