...(Ontem, o amor era um jogo tão fácil de jogar/ Agora preciso de um lugar para me esconder/ Ah, eu acredito no ontem.) —Yesterday dos Beatles...
...˙❥˙Capítulo 7: Eu ainda te amo, Elena. E sempre vou amar....
A sala de espera do hospital tinha um cheiro estéril que se misturava com o aroma do café vindo de um canto. Eu estava sentado sozinho com meus pensamentos, enquanto minha mãe passava por uma série de exames. Charles havia ficado com Claire, minha filha, e eu só conseguia pensar no impacto que tudo isso teria sobre ela. Claire já havia perdido sua mãe, Elena, quando era muito pequena. Agora, a possibilidade de perder a avó, que era uma figura materna para ela, parecia cruel demais.
O médico de minha mãe, Dr. Mendes, se aproximou com um semblante sério.
— Hain — ele começou, sentando-se ao meu lado. — Os exames confirmaram a presença de um tumor cerebral. Compreendo ser um choque, mas precisamos discutir os próximos passos.
Engoli em seco, sentindo um nó se formar em minha garganta.
— E... e a cirurgia? — Perguntei, minha voz mal firmando.
Dr. Mendes suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— A cirurgia é uma opção, mas não está isenta de riscos. Considerando a localização e o tamanho do tumor, há complicações potenciais. Precisamos considerar cuidadosamente se é o melhor caminho.
Fechei os olhos por um momento, tentando absorver a informação.
— E se não fizermos a cirurgia? — perguntei, temendo a resposta.
— A outra opção seria tratamento paliativo, focando em manter a qualidade de vida dela pelo tempo que restar — explicou ele delicadamente. — Mas entendo ser uma decisão extremamente pessoal e difícil.
Pensei em Claire, em como ela havia se agarrado à avó nos últimos anos.
— Eu… preciso pensar, conversar com ela. Não posso tomar essa decisão sozinho.
— Claro, Hain. É importante que ela participe da decisão também. Darei a vocês algum tempo. Estarei por perto se precisar de mais informações ou ajuda — disse Dr. Mendes, levantando-se e colocando uma mão reconfortante em meu ombro antes de se afastar.
Fiquei ali, sentado, olhando para o vazio. A ideia de perder minha mãe era devastadora, mas a ideia de Claire enfrentar outra perda era igualmente dolorosa. Como explicar para uma criança de dez anos que sua avó talvez não estaria mais ali? Como suportar ver sua tristeza e confusão?
Depois de um tempo, fui até o quarto onde minha mãe estava hospedada. Ela parecia frágil na cama do hospital, mas seu sorriso ao me ver foi tão caloroso quanto sempre. Sentando-me ao seu lado, segurei sua mão.
— Mãe, precisamos conversar sobre algumas coisas — comecei, minha voz trêmula.
Ela apertou minha mão, assentindo.
— Eu sei, querido. Eu ouvi o que o médico disse. Estou assustada, mas também quero fazer o que for melhor para nós, especialmente para a Claire.
Falamos por longas horas, discutindo opções, medos e esperanças. Não chegamos a uma decisão definitiva naquele dia, mas foi reconfortante saber que estávamos enfrentando isso juntos. Ao sair do hospital, senti uma mistura de medo e determinação. Eu não sabia o que o futuro nos reservava, mas sabia que enfrentaríamos juntos, como uma família.
Deixei o hospital com a mente turbulenta, mas com o coração um pouco mais leve. Ao chegar em casa, Claire correu para me abraçar, e eu soube que, não importa o que acontecesse, nosso amor um pelo outro nos daria força. Agora era hora de ser forte para minha mãe e para minha filha, custasse o que custasse.
Naquele dia, o céu estava particularmente cinzento, como se até as nuvens compartilhassem do peso que eu sentia em meu coração ao voltar para a casa dos avós de Claire. Desde que Elena havia partido naquele trágico acidente, eu havia evitado este lugar — um lugar repleto de memórias dela, da nossa vida juntos.
Quando Claire e eu paramos na frente daquela porta de madeira, o silêncio entre nós era palpável. Ela segurava minha mão, sua pequena mão tremendo um pouco. Eu sabia que ela também sentia a magnitude do momento, a ansiedade misturada com a esperança de reconectar com suas raízes, com a parte da família que havia sido deixada para trás.
— HAIN? Claire?! — A voz de Amélia rompeu o silêncio, carregada de incredulidade e alegria. Ela abriu a porta e imediatamente abraçou Claire, que se desfez em lágrimas. Permaneci um passo atrás, observando o reencontro, sentindo uma mistura de alívio e dor. Andrew, o avô de Claire, apareceu logo em seguida, paralisado por um momento ao nos ver, antes de me puxar para um abraço apertado. — Hain, meu genro! Quanta saudades estávamos de vocês.
O calor de seu abraço me fez sentir como se parte do vazio em meu peito fosse preenchido. “Eu sempre seria o genro deles,” pensei, enquanto retribuía o abraço. Entramos na casa e cada canto trazia uma lembrança de Elena. Claire foi quase que imediatamente envolvida pelos braços amorosos de seu avô, que a levou para dentro, enquanto eu hesitava na entrada.
— Sinto muito de ter privado a Claire de ver e falar com vocês, desde que fomos embora — confessei mais tarde, enquanto me sentava no sofá, meu olhar perdido nas fotos que decoravam a lareira. Uma em particular me chamou a atenção: nós três, eu, Elena e nossa pequena Claire, sorrindo em um dia ensolarado. Claire tinha apenas um ano e meio de idade naquela foto. A saudade era uma lâmina afiada em meu peito.
Comecei a contar histórias de Elena e Claire, tentando manter a voz firme. Recordações de dias felizes, de risadas compartilhadas. Claire ouvia, às vezes sorrindo, às vezes com lágrimas nos olhos. Amélia e Andrew também compartilhavam suas memórias, e a sala se enchia de uma doce melancolia.
O quadro pendurado na parede da sala de estar dos meus sogros sempre teve um efeito hipnótico sobre mim. Era uma fotografia do nosso casamento, eu e Elena, imersos naquele momento mágico que selava a nossa união. Hoje, enquanto todos conversavam animadamente ao redor da mesa de jantar, meus olhos se perdiam mais uma vez naquela imagem, e uma enxurrada de memórias começava a inundar minha mente.
Lembro-me da manhã daquele dia, o sol mal havia nascido e eu já estava de pé, ansioso, nervoso, empolgado. Olhei para o espelho enquanto tentava ajustar a gravata, uma tarefa que parecia exigir mais habilidade naquele dia do que nunca.
— Você vai conseguir, Hain. Hoje é o dia mais feliz da sua vida — eu me disse, tentando acalmar os nervos.
A cerimônia foi ao ar livre, no jardim que Elena tanto amava na casa dos seus pais. Quando a vi ao longe, começando a caminhar na minha direção, tudo ao meu redor desapareceu. Ela estava deslumbrante, seu vestido branco fluía como se fosse parte do vento, e o sorriso dela… ah, o sorriso dela poderia iluminar a cidade inteira.
— Você está linda, Elena — sussurrei quando ela finalmente chegou ao meu lado no altar. Ela apertou minha mão, seus olhos brilhando com lágrimas de alegria.
— E você está tremendo — ela respondeu com uma risada suave, que me fez relaxar imediatamente.
— É porque estou diante do amor da minha vida. Como não tremer? — Eu disse, e vimos os convidados ao redor soltarem suspiros e risadas abafadas.
O padre começou a falar, mas confesso que minhas orelhas só captavam o som da voz de Elena quando dizíamos nossos votos.
— Prometo amar você, respeitar você, nos momentos de alegria e nos desafios, todos os dias da minha vida — ela disse com uma certeza que fez meu coração se encher de esperança e amor.
Após a cerimônia, enquanto todos se dirigiam para o espaço onde teríamos o jantar e a festa, Elena puxou meu braço delicadamente e me levou até um canto reservado do jardim.
— Quero um momento só nosso antes de nos juntarmos aos outros — ela disse, e então dançamos ali, ao som de nossos próprios passos e risadas, enquanto o sol se punha ao fundo.
Durante a festa, nosso primeiro brinde como marido e mulher foi algo que sempre guardarei com carinho.
— À minha esposa, a mulher que faz meu coração bater mais forte todos os dias — eu disse, erguendo a taça. Elena sorriu e, em resposta, disse:
— E ao meu marido, que me mostra diariamente o que é o verdadeiro amor — Os aplausos e assobios dos nossos amigos e familiares preencheram o ar.
A noite avançou entre risos, danças e muitos abraços. Meus amigos vieram me parabenizar, brincando sobre como eu havia conseguido conquistar uma mulher tão incrível.
— Ela que me conquistou — eu respondia, e todos riam. Elena conversava animadamente com suas amigas, todas encantadas com cada detalhe do casamento.
Quando a festa finalmente chegou ao fim, estávamos exaustos, mas imensamente felizes. Sentados no capô do carro, observando os últimos convidados partirem, Elena deitou sua cabeça em meu ombro.
— Foi um dia perfeito, não foi? — ela murmurou. — Foi o primeiro de muitos dias perfeitos, meu amor — respondi, e nos beijamos sob o céu estrelado.
Agora, anos depois, com ela não mais ao meu lado, essas memórias ganham um tom agridoce. A saudade dói, mas sou grato por cada segundo que compartilhamos. Passo os dedos pela fotografia, como se pudesse tocar aquela felicidade mais uma vez.
— Eu ainda te amo, Elena. E sempre vou amar — sussurro, e mesmo na quietude da casa dos meus sogros, sinto que de alguma forma, ela pode me ouvir.
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Atualizado até capítulo 59
Comments
Fafa
Nem quero imaginar como será a reação dele ao vê-la viva 😬😬😬
2024-06-13
2
ANA LUCIA VANDAM DE SOUZA
Nossa que triste 😢 imaginando a sena,achando que a esposa tinha falecido e encontra viva,e pra piorar casada com o amigo..misericórdia!
2023-04-21
5
Paty Helena
Que choque viu, e Helena não lembra deles que doideira autora. Estou amando sua história ❤️🌹
2022-10-16
3