12

No dia seguinte, Raquel acordou cedo e resolveu dar uma volta pelo bairro para clarear a cabeça.

Enquanto caminhava, ela pensava na conversa que teve com Suzana e em suas suspeitas sobre o paradeiro de Rafael na noite anterior.

Ela sentia um misto de raiva e tristeza, questionando em seus pensamentos divagantes se seu casamento realmente acabou e se seu marido havia encontrado outra pessoa.

Raquel caminhou até um pequeno café elegante com flores e luzes piscantes. Ela decidiu entrar e pedir um café, esperando que isso a ajudasse a se sentir melhor.

Após sentar à mesa ao lado da vitrine transparente, Raquel notou um homem calvo passar pela calçada até a porta de entrada. Ele olhou em volta com seus olhos claros e penetrantes. As mesas estavam todas ocupadas.

A elegância e a forma de se vestir dele arrancaram dos lábios de Raquel um sorriso convidativo. O homem desconhecido tinha um sorriso encantador.

Ele retribuiu a expressão serena dela e se aproximou. Sob a mesa, Raquel roçava uma perna na outra, sentindo o calor subir dos seus pés a ponta de sua cabeça.

— Bom dia, senhorita, se importa se eu me juntar a você? — perguntou ele, sorrindo.

Raquel hesitou por um momento, sem saber se queria conversar com um estranho. Mas ela se sentiu atraída por ele e concordou com a cabeça.

— Fique à vontade.

— Obrigado. Você tem um sorriso lindo. Nada melhor do que seu belo sorriso para começar o dia — disse ele, lançando seu charme sobre ela.

— É mesmo? — perguntou Raquel, tentando disfarçar o interesse.

— A propósito, eu me chamo Lucas. E como se chama a bela senhorita?

— Senhora. O meu nome é Raquel e eu sou uma mulher casada.

— Seu marido é um homem de muita sorte. Imagino que ele deva fazer de tudo para realizar seus desejos mais secretos — disse Lucas, após beijar a mão dela.

— Talvez — respondeu Raquel, lançando a dúvida no ar.

Os dois conversaram por um bom tempo enquanto tomavam o delicioso café daquele pequeno estabelecimento requintado. As xícaras de café iam e vinham sem darem conta da quantidade que já tinham consumido.

Lucas era um empresário que acabara de se mudar para a cidade e, durante a conversa, descobriram que tinham muito em comum, como o amor por conhecer pessoas novas e viver experiências intensas.

Quando se preparavam para sair do café, Lucas pediu o telefone de Raquel e a convidou para jantar naquela noite. Apesar de hesitar por um momento, ela aceitou o convite, atraída pela possibilidade de viver uma nova experiência com alguém tão interessante.

Lucas sorriu, feliz com a resposta positiva de Raquel, e combinaram o horário e o local para o jantar. Ele a acompanhou até a porta do café e se despediram com um abraço caloroso.

— Até à noite — disse Lucas, beijando a mão dela novamente.

Ela sorriu e, sem dizer mais nada, retomou o percurso até a mansão. Seu andar de ex-modelo deixou o empresário recém-conhecido ainda mais encantado e atraído por seu corpo esbelto.

Ao chegar em casa, Raquel encontrou seu marido sentado à mesa do café da manhã, conversando ao telefone com o gerente do setor de finanças da empresa.

Ela pensou na raiva que sentiu na noite anterior pela ausência dele e por não saber a hora em que ele chegou, e isso a fez perder o lindo sorriso que carregou consigo no percurso entre a cafeteria e a mansão.

Embora Rafael não estivesse com uma boa aparência de sono, ele estava arrumado para ir ao trabalho. Ele encerrou a ligação e voltou a tomar o seu café favorito, evitando o contato visual com a sua esposa.

Sônia apareceu com uma bandeja de bolinhos de chuva e colocou sobre a mesa.

— Dona Raquel, bom dia! Vou preparar o seu café da manhã também.

— Não precisa, já estou satisfeita com o café que tomei há pouco na cafeteria próxima. Você pode voltar para a cozinha.

Raquel dispensou a empregada, pois desejava ter uma conversa a sós com o seu amorzinho.

— Sim, dona Raquel.

Assim que a empregada saiu da sala, Raquel se sentou à mesa, encarando seu marido com um olhar estreito e uma expressão tensa.

— Onde você estava ontem à noite? — perguntou ela com a voz séria.

— Tive uma reunião com um cliente — respondeu Rafael após um gole de seu café forte e amargo.

Raquel sentiu uma pulga atrás de sua orelha. Ela sentia que Rafael estava mentindo, porque ele era um péssimo mentiroso, e ela muito astuta lançou o desafio que validou sua suspeita.

Raquel olhou nos olhos de Rafael e perguntou:

— Você tem certeza que foi só uma reunião de trabalho?

Rafael parecia desconcertado e gaguejou um pouco antes de responder:

— Claro que sim. Por que está duvidando?

— Não estou. Mas acho estranho que você não tenha atendido as minhas ligações — disse Raquel, tentando manter a calma.

Rafael tentou se explicar mais uma vez, mas Raquel não estava convencida. Ela perguntou com um tom mais firme na voz:

— Você pode me mostrar o comprovante da reunião ou o número do seu cliente?

Rafael ficou em silêncio por um momento antes de responder:

— Eu não tenho o comprovante aqui comigo e não me lembro do número agora. Mas posso pegar para você depois.

Raquel sabia que aquela resposta era uma desculpa. Ela olhou fixamente nos olhos de Rafael e disse com firmeza:

— Você está mentindo para mim, Rafael. Eu sei que você não esteve em uma reunião de trabalho ontem à noite.

Rafael parecia surpreso com a acusação e tentou negar, mas Raquel tinha certeza do que estava falando.

— Suzana veio aqui em casa ontem à noite e me alertou sobre você confirmando um possível encontro.

— Sim, foi o encontro com um cliente.

— É mesmo? Só que o estranho é que foi você quem sugeriu para Suzana vir aqui em casa ontem à noite. Por acaso, queria que ela me distraísse para que eu não ficasse pensando muito na sua ausência? — questionou Raquel, com um olhar frio.

Rafael sentiu o café entalar na garganta e por pouco não se engasgou. Como sua esposa podia ser tão boa em adivinhar as coisas? Em identificar mentiras? Talvez porque fosse uma boa mentirosa, com facilidade em manipular as próprias expressões.

— Não seja absurda, Raquel. Eu nunca faria algo assim — respondeu Rafael, tentando manter a calma.

— Rafael, agora mais do que você, eu também quero o nosso divórcio o quanto antes. Mas não é só isso. Quero mais, muito mais, e você sabe muito bem disso — disse Raquel, com o dedo indicador erguido.

Rafael respirou fundo, sabendo o que estava por vir.

— Onde quer chegar me dizendo isso agora? — perguntou Rafael, com um tom irritado na voz.

— Eu sou sua esposa em comunhão de bens universal e tenho direito a tudo que é seu… tudinho. Quero uma pensão alimentícia adequada, o carro, metade das suas contas bancárias e até esta mansão.

Rafael cerrou os punhos e controlou o impulso de gritar. Ele sabia que Raquel sempre fora gananciosa, mas não imaginava que ela chegaria a esse ponto.

— Você está louca, Raquel. Eu não vou dar mais do que merece no divórcio, que deveria ser nada. O meu desejo é que você saia desta casa apenas com os poucos pertences que tinha antes de nos casarmos.

— Isso nunca! — gritou Raquel, inclinado seu corpo para frente e batendo a palma de sua mão na mesa. — Você não tem escolha, Rafael. Mesmo que deseje isso, no fim, tudo o que eu disse será meu, e você não ficará com muita coisa nessa história.

Raquel gargalhou, e isso elevou a fúria do marido. Ele cuspiu o café de um lado e lançou a xícara de porcelana para o outro lado da mesa, causando um barulho alto.

— Você me traiu Raquel, e vem me pedir essas coisas. Se te fiz a proposta do nosso divórcio, não foi nem porque o nosso amor acabou… Eu menti quanto a isso. A verdade é que ainda te amo apesar de tudo, mas esse amor eu vou ter que esquecê-lo ou enterrá-lo contra a minha própria vontade. Porque a sua traição, eu não vou perdoá-la nunca!

— Que traição? — indagou Raquel com expressão cínica e, como sempre, mentirosa. — Eu nunca te trai, Rafael. Você está louco se pensa algo assim a meu respeito.

— Não finja, Raquel. Eu já sei de tudo, porque eu mesmo vi com os meus próprios olhos a sua safadeza com o Ricardo, aquele canalha que ainda finge ser o meu melhor amigo de confiança.

Raquel arregalou os olhos, sentindo o medo tomar conta de si. Embora já suspeitasse disso, ela não esperava realmente que Rafael tivesse descoberto tudo. Sua intuição mais uma vez estava certa, mesmo que a tivesse ignorado.

— Você só pode estar enganado — argumentou Raquel com um tom trêmulo. — É isso, só pode ter sido um sonho ou um delírio.

— Acha que estou ficando louco?

— Não foi o que eu disse.

— Entendo — disse Rafael em tom sarcástico. — Fique sabendo, querida Raquel, que este louco aqui vai fazer de tudo para que você saia desta casa com uma mão na frente e outra atrás. Isso eu prometo.

Rafael se levantou da mesa e recolocou seu terno sobre sua camisa branca de mangas longas. Ajeitou a gravata e pegou sua pasta de trabalho na estante próxima.

— Espere, Rafael, ainda não terminamos a nossa conversa.

— É impossível conversar com você sem discutirmos.

— Volte aqui!

Rafael saiu irritado para o trabalho, deixando Raquel sentada à mesa, fingindo um choro para se passar de vítima diante dos olhos da empregada que veio correndo da cozinha averiguar o ocorrido.

— Dona Raquel, o que aconteceu? — perguntou Sônia, preocupada.

Raquel secou as lágrimas e respondeu, com um tom dramático:

— Meu marido e eu tivemos mais uma discussão. Rafael não me trata mais bem e não me dá o que mereço. Mas não vou mais permitir isso. Lutarei pelos meus direitos e mostrarei a ele quem manda aqui.

Sônia ficou sem saber o que dizer, mas ofereceu um ombro amigo para Raquel chorar lágrimas de crocodilo. A empregada não percebeu que sobre seu ombro sorria uma mulher cínica e mentirosa, imaginando que roupa provocante usaria à noite.

Raquel sabia que precisava de um tempo para pensar sobre o que fazer a seguir, mas por enquanto o jantar com o empresário Lucas seria uma distração bem-vinda, para espairecer a mente e aliviar a tensão do próprio corpo.

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