O Grande Traidor

O Cativeiro dos Príncipes

A caverna estava mergulhada na penumbra, iluminada apenas pelo brilho sinistro das runas espalhadas pelo chão e pelas paredes. As marcas ancestrais pulsavam, absorvendo a energia que os príncipes haviam sido forçados a fornecer por dias.

Malrik, o homem misterioso, não dizia nada.

Ele simplesmente agiu.

Primeiro, Nereus.

Malrik puxou o príncipe da água pelos cabelos, tirando-o à força do fundo do lago escuro. O garoto arfou, engolindo o ar desesperadamente, o corpo tremendo de frio e exaustão. Sua pele azulada estava quase translúcida, e sua magia mal respondia mais.

Depois, Lucian.

O fogo ao redor da fornalha se apagou abruptamente. Lucian caiu de joelhos, o corpo fumegando, os músculos rígidos pelo esforço de manter sua temperatura elevada. Seu olhar era de ódio, mas ele não tinha forças para reagir.

Aedric veio em seguida.

As correntes de pedra que o seguravam se quebraram, e seu corpo desabou no chão, pesado. Suas mãos tremiam, seu coração pulsava devagar. Estava fraco. Demais. Ele era um guerreiro, mas nunca imaginou que um dia fosse usado como uma bateria viva.

Por último, Zephyr.

O príncipe do ar ainda tentava lutar, mesmo enfraquecido. Mas Malrik não teve paciência.

— Cale a boca, pirralho.

E, com um único soco, jogou Zephyr dentro da cela ao lado dos outros.

A porta de ferro se fechou com um estrondo.

Os quatro príncipes estavam finalmente juntos… mas como prisioneiros.

Silêncio.

O som de passos.

E então, ele entrou.

Aelric.

Cena 2: O Traidor

— Mas que cena lamentável.

A voz de Aelric preenchia a caverna.

Seus olhos tinham um brilho cruel. Seu sorriso era arrogante, satisfeito.

Zephyr foi o primeiro a reagir.

— Irmão…?

Aelric soltou uma risada curta.

— Você realmente demorou para perceber, Zephyr. Mas não se preocupe, eu já esperava isso de você.

Lucian tentou se levantar, mas seus joelhos falharam.

— Seu desgraçado… O que diabos você quer com as runas?!

Aelric se virou para ele, sem pressa.

— O que qualquer pessoa inteligente faria.

Ele gesticulou levemente com a mão, e as quatro runas começaram a brilhar, flutuando no centro da caverna. A energia delas era esmagadora.

— Juntas, elas criam um fluxo infinito de poder. — Aelric continuou, observando as runas como se fossem jóias preciosas. — Mas, para despertar seu verdadeiro potencial… é preciso algo mais. Algo que as lendas sempre mencionaram, mas ninguém nunca teve coragem de tentar.

Ele olhou para os príncipes.

— Um sacrifício de sangue.

Nereus prendeu a respiração.

Aedric cerrou os punhos.

Zephyr sentiu o estômago revirar.

— Você vai nos matar? — Zephyr perguntou, a voz vacilante.

Aelric sorriu.

— Não só isso.

Ele ergueu a mão, e a energia negra ao redor das runas pulsou, vibrando com um poder desconhecido.

— Depois do sacrifício, eu terei acesso à Magia Negra. A magia proibida. A única que pode reescrever as regras desse mundo.

Ele se virou para os príncipes, olhando diretamente para Zephyr.

— E quando isso acontecer… eu serei o único governante verdadeiro.

Silêncio.

E então… o terror finalmente se instalou.

O Choro Silencioso

A caverna estava silenciosa, exceto pelo som suave da respiração ofegante dos príncipes. O brilho das runas lançava sombras oscilantes nas paredes úmidas, tornando o ambiente ainda mais sufocante.

Nereus não queria morrer.

Ele nunca foi forte. Nunca foi como Lucian, que sempre manteve a cabeça erguida, ou como Zephyr, que parecia destemido mesmo em momentos de perigo. Ele era frágil. Sempre foi.

E agora, seu corpo estava tão fraco que até chorar parecia difícil.

As lágrimas quentes deslizaram por seu rosto enquanto ele se arrastava para perto de Aedric. Ele sabia que não havia mais segredo a ser guardado. Se iam morrer ali, que ao menos fosse nos braços um do outro.

Aedric, mesmo tão exausto quanto os outros, não hesitou.

Assim que sentiu Nereus se encostar a ele, o envolveu com força, como se pudesse protegê-lo da própria morte.

— Eu tô com medo… — Nereus sussurrou, com a voz embargada.

Aedric segurou sua nuca, os dedos se entrelaçando nos cabelos molhados do ômega.

— Eu sei… — Ele encostou a testa na dele, fechando os olhos. — Mas eu tô aqui. Sempre estive.

Nereus soluçou baixinho. O calor do alfa ao seu redor era reconfortante, mas ao mesmo tempo ele sabia que isso não mudava nada. Estavam presos. E a morte estava cada vez mais próxima.

O Silêncio de Lucian e Zephyr

Lucian não chorou.

Mas ele estava cansado.

Cansado de lutar. Cansado de sentir o corpo queimando, de ver tudo escurecendo ao seu redor.

Ele não conseguia pensar. Ninguém conseguia.

Sem forças para se manter sentado, ele simplesmente se encostou no corpo de Zephyr.

No mesmo instante, um arrepio percorreu sua pele. O frescor que emanava do alfa era diferente de tudo que sentira até agora.

Gelado.

Mas era bom.

— ...Isso é estranho. — Lucian murmurou, quase sem perceber.

Zephyr arqueou a sobrancelha, mas não afastou o ômega.

— O quê?