O Despertar nas Sombras

O cheiro de pedra úmida e sangue seco foi a primeira coisa que Lucian sentiu ao recobrar a consciência.

Seus olhos abriram devagar, pesados, e a escuridão ao redor parecia engolir tudo.

Ele não sabia onde estava.

Só sabia que seu corpo doía.

Cada músculo pulsava em agonia. Cada corte ardia como se estivesse em chamas.

Ele tentou se mover, mas seus pulsos estavam acorrentados.

A corrente puxou com um barulho metálico, e Lucian prendeu a respiração.

Tentou lembrar... O que aconteceu?

O baile. A dança com o príncipe dos ventos. O vulto misterioso. A perseguição.

E então—

Dor.

Um golpe certeiro em sua cabeça.

Depois, o vazio.

Lucian engoliu em seco e olhou ao redor.

A cela era feita de pedra bruta, com um teto tão alto que era impossível ver. Não havia janelas. Nenhuma saída visível.

A única iluminação vinha de tochas presas na parede, queimando com um fogo fraco e irregular.

Estávamos no subterrâneo... Bem fundo.

Foi então que ele ouviu um gemido baixo.

Lucian virou o rosto e viu alguém.

Um garoto, preso como ele.

Cabelos azulados grudados na testa suada. Pele pálida demais. Um corpo frágil e coberto de hematomas.

Os olhos do príncipe das águas se abriram lentamente.

Lucian observou quando o garoto piscou, tentando entender onde estava.

Então, seus olhares se encontraram.

Nenhum deles disse nada.

Não havia necessidade.

Ambos estavam machucados.

Ambos estavam sozinhos.

E ambos sabiam que, se não saíssem dali logo... não sairiam nunca.

Lucian foi o primeiro a quebrar o silêncio. Sua voz saiu rouca, como se não a usasse há dias.

— Você está vivo?

O outro garoto piscou algumas vezes, a mente ainda nebulosa.

— Acho que sim… — murmurou ele, a voz tão fraca quanto um sussurro.

Lucian soltou um suspiro cansado.

— Bom, pelo menos não sou o único.

O silêncio pairou por alguns segundos, até que o príncipe de fogo puxou as correntes, tentando se sentar melhor.

— Sou Lucian. Príncipe herdeiro do Reino do Fogo.

O outro garoto virou o rosto para ele. Seus olhos tinham tons profundos como o oceano.

— Nereus. Príncipe do Reino da Água.

Eles se encararam, a gravidade da situação pesando no ar.

Lucian foi o primeiro a desviar o olhar, observando o ambiente ao redor.

— Você sabe onde estamos?

Nereus respirou fundo antes de responder.

— Não. Só lembro de… estar na cidade. Vi uma figura encapuzada, tentei segui-la, e então—

Ele engoliu em seco.

— Fui atacado.

Lucian assentiu devagar.

— O mesmo aconteceu comigo. Alguém roubou a Runa do Fogo… tentei impedir, mas fui pego de surpresa.

Nereus franziu a testa.

— Runa do Fogo?

Lucian arqueou uma sobrancelha.

— Você não sabe?

— Não. Mas… — Nereus hesitou. — No meu reino, a Runa da Água também desapareceu.

Lucian sentiu um arrepio na espinha.

— Isso não pode ser coincidência.

Nereus abaixou a cabeça, murmurando:

— Se roubaram duas, então provavelmente vão atrás das outras…

Lucian cerrou os punhos.

— Precisamos sair daqui.

— Concordo — Nereus suspirou. — Mas… como?

Lucian levantou o olhar para as correntes nos pulsos.

— Ainda não sei. Mas se tem uma coisa que eu sei sobre fogo…

Ele puxou as correntes novamente, um sorriso determinado surgindo em seu rosto.

— É que ele nunca se apaga tão fácil.

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