O escritório de Dr. Lucas era pequeno, mas organizado. Na parede, um quadro com fotos de seus pacientes sorrindo o lembrava do porquê de ter escolhido a profissão. A luz do sol entrava suavemente pela janela, iluminando os livros e papéis sobre sua mesa. Ele estava sentado em sua cadeira, revisando os exames de Maria Eduarda. Seu olhar sério contrastava com o calor humano que transmitia ao falar com os pacientes.
Lucas Nogueira tinha 35 anos. Ele sempre acreditou que, de alguma forma, sua missão era estar ali, no centro oncológico, lutando contra o que muitos chamavam de "inimigo invisível". Não era apenas um trabalho para ele; era um propósito de vida. E esse propósito tinha nome: Carolina.
Ele passou os dedos pelos cabelos enquanto lembrava da noiva, como fazia em momentos de reflexão. Carolina era tudo para ele: sua parceira, sua melhor amiga e a razão pela qual ele havia escolhido a oncologia. Eles estavam noivos quando ela recebeu o diagnóstico de câncer no ovário. A notícia foi como um terremoto que abalou o mundo perfeito que eles haviam planejado juntos. Lucas acompanhou cada passo da luta dela: as sessões de quimioterapia, as cirurgias, as esperanças renovadas e depois destruídas. Carolina lutou como uma guerreira, mas perdeu a batalha dois anos depois.
"Foi naquele momento que decidi que faria tudo o que pudesse para suavizar a dor de outros que enfrentassem isso", ele murmurou para si mesmo, enquanto olhava para a ficha de Maria Eduarda. "Carolina não teve escolha, mas talvez eu possa dar escolhas para outros."
Depois da morte de Carolina, Lucas nunca mais teve um relacionamento sério. Não era apenas o medo de perder outra pessoa para o câncer – embora esse temor o consumisse –, mas também o desejo de dedicar todo o seu tempo e energia para cuidar dos doentes. Ele acreditava que o câncer era uma guerra, mas não como as pessoas imaginavam. "É uma batalha que a pessoa trava contra si mesma", ele costumava dizer. "O corpo se volta contra você, e muitas vezes a luta termina em derrota. Meu papel é suavizar essa guerra, dar aos meus pacientes a chance de lutar, e, quem sabe, vencer."
Enquanto analisava os exames de Maria Eduarda, Lucas sentia um peso no peito. Ela era tão jovem, apenas 22 anos, com uma vida inteira pela frente. O que tornava tudo ainda mais doloroso era saber que ela tinha uma filha pequena. Uma criança de 4 meses que, se o diagnóstico estivesse correto, poderia perder a mãe antes mesmo de dizer suas primeiras palavras.
Ele se inclinou na cadeira, refletindo. Câncer terminal. A palavra "terminal" nunca vinha sozinha; carregava consigo uma sentença, uma ideia de fim. Para alguns, significava meses ou anos. Para outros, semanas. Era cruel, injusto, e Lucas sabia que cada paciente reagia de forma única.
“Eu preciso ter certeza,” ele sussurrou, pensando em Maria. “Não posso simplesmente aceitar isso sem revisar. Não é comum errar um diagnóstico, mas acontece. E se há uma chance, mesmo que mínima, de que ela possa ver a filha crescer, eu preciso dar isso a ela. Nem que seja só esperança.”
Ele lembrou de Carolina. Quando o oncologista dela deu o diagnóstico, não houve esperança. A sentença foi clara, e não havia nada que pudesse ser feito. Lucas sentiu que o chão havia se aberto sob seus pés naquele dia. "Eu nunca vou esquecer o olhar dela", pensou. "Ela precisava de um fio de esperança, algo que a fizesse acreditar que não era o fim, mas nem isso ela teve."
Foi por isso que ele decidiu, desde o início de sua carreira, que nunca deixaria um paciente sair de seu consultório sem algum tipo de esperança. Mesmo quando a situação era desesperadora, Lucas acreditava que as pessoas mereciam uma razão para continuar, por mais pequena que fosse.
Maria Eduarda era esse caso. Jovem, uma filha pequena, um futuro que poderia ser destruído antes mesmo de começar. Ele sabia que precisaria abordar tudo com muito cuidado. Na próxima consulta, ele explicaria tudo novamente: a gravidade da situação, as possibilidades do tratamento e a necessidade de refazer os exames. Não porque ele duvidasse da equipe que havia feito o diagnóstico inicial – eles eram bons, assertivos –, mas porque ele precisava ter certeza.
“Se for verdade, que seja confirmado”, pensou ele. “Mas se houver qualquer chance de erro, quero ser o primeiro a dar a ela uma notícia diferente.”
Lucas respirou fundo, tentando afastar o peso emocional que sempre carregava ao lidar com casos assim. Ele sabia que, para Maria Eduarda, essa era uma batalha que ela nunca escolheu lutar. Como todas as outras mães que conhecera, ela provavelmente estava mais preocupada com o bem-estar da filha do que com a própria vida.
“Ela precisa de tempo”, ele disse para si mesmo, levantando-se da cadeira. “E se eu puder dar a ela um pouco mais, nem que seja para segurar a filha por mais alguns meses ou anos, farei tudo o que estiver ao meu alcance.”
Quando Maria Eduarda retornasse ao consultório, ele a ouviria, explicaria tudo com cuidado novamente e deixaria claro que ele estava ao lado dela. Porque, no fundo, ele sabia que esperança, por menor que fosse, podia mudar tudo. E talvez, dessa vez, ele pudesse oferecer a alguém o que não conseguiu oferecer a Carolina: a chance de acreditar no amanhã.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
GAMER W (TITANS BR)
a dor de saber que está com essa doença deixa sem chão ao paciente e seus familiares e amigo, minha mãe faleceu dessa doença e sofreu 8 anos quando ela desistiu foi embora , eu sofri e sofro até hoje a perda dela dessa forma ela me faz muita falta
2025-04-18
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Maria Andrade
eu espero que o diagnóstico seja falso, vamos torcer
2025-04-09
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Erlete Rodrigues
ela consiga um tratamento que não seja tão grave estou torcendo por isso
2025-04-08
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