Maria Eduarda mal conseguia levantar os pés do chão enquanto atravessava o corredor do seu apartamento. As palavras do médico ainda ecoavam em sua mente, fazendo seu corpo fraquejar a cada passo. Câncer terminal. Ela tentava se convencer de que não era real, de que aquilo era apenas um pesadelo do qual logo acordaria, mas a dor no peito e a sensação de perda iminente não eram sonhos. Quando entrou na porta de casa, o silêncio de sua moradia foi como um golpe. Não havia o barulho da televisão, nem a risada de Luna. A casa estava tranquila, mas para Maria, parecia um cenário congelado no tempo.
Ela encontrou Luna em seu quarto, deitada em seu berço, com a babá, Cleide, ajeitando as cobertas. Quando Luna viu sua mãe, abriu os olhos grandes e sorriu, o sorriso inocente de uma criança que ainda não entendia a fragilidade da vida. Maria Eduarda se aproximou devagar, as pernas tremendo, e, ao alcançar o berço, estendeu os braços e pegou a filha no colo. Luna, com seus 4 meses, parecia tão frágil e tão dependente dela, como se sua existência fosse feita de pequenas necessidades, de um amor que Maria sentia que, naquele momento, não poderia dar-lhe por muito mais tempo.
"Minha filhinha...", murmurou Maria, quase em um sussurro. Ela fechou os olhos e, antes que pudesse perceber, as lágrimas começaram a cair. Era uma dor intensa, uma dor que não podia ser expressa apenas em palavras. A mãe que sempre pensou que protegeria a filha do mundo, agora sabia que não teria tempo para fazer isso. Não teria tempo para ser a mãe que Luna precisava.
Ela se ajoelhou com Luna nos braços e a abraçou com força, como se quisesse fazer o amor que sentia por ela se transformar em algo tangível, algo que resistisse ao tempo. A filha estava tranquila, inocente, enquanto a mãe desabava em lágrimas silenciosas. Ela se afundava na dor daquilo que não podia mudar, e, por mais que tentasse, não conseguia ver uma saída. Luna não entenderia o que estava acontecendo, mas Maria sabia que, de alguma forma, teria que se despedir. Ela teria que aprender a deixá-la ir para o mundo, sozinha.
Cleide, com a preocupação estampada no rosto, se aproximou e colocou uma mão suave sobre o ombro de Maria, mas a ela não reagiu. Ela não conseguia mais fingir que tudo estava bem. Seu mundo, de alguma forma, havia se despedaçado.
No dia seguinte, Maria estava se arrumando, ainda com os olhos vermelhos, quando lembrou da orientação do médico: o centro oncológico. Ela precisava ir. Precisava entender o que estava por vir, o que poderia fazer para, ao menos, dar a Luna o máximo de sua presença antes que o tempo a separasse dela.
A sensação de caminhar pelas ruas de Nova York, como se tudo fosse normal, contrastava com o turbilhão de emoções dentro de Maria. A cada passo, o peso do diagnóstico parecia crescer mais e mais. O que farei agora? Quem vai contar a Luna sobre mim se eu morrer ? As perguntas a atormentavam, e ela não tinha respostas.
Ao chegar ao centro oncológico, ela foi recebida por uma recepcionista atenciosa, que a encaminhou para uma sala de espera. O ambiente estava cheio de pessoas com rostos marcados pela dor, como se cada um carregasse seu próprio fardo invisível. Maria se sentou, observando os outros pacientes, tentando esconder sua aflição. A sala de espera parecia um reflexo de sua própria vida agora: um lugar entre o desconhecido e o medo.
O tempo pareceu se arrastar até que o nome "Maria Eduarda" foi chamado. Ela se levantou, com o coração batendo forte no peito, e foi conduzida até uma sala onde um homem jovem, com uma expressão calma, aguardava por ela. O Dr. Lucas, médico oncológico, era alto, com cabelos castanhos e olhos que, embora sérios, transmitiam uma sensação de confiança. Ele estendeu a mão para cumprimentá-la, e Maria, ainda um pouco atordoada, apertou-a com um gesto mecânico.
"Maria Eduarda, eu sou o Dr. Lucas. Eu estive analisando os seus exames e, como discutido com o Dr. Alberto, precisamos conversar sobre o tratamento", ele disse, com uma voz suave, mas direta.
Maria respirou fundo, tentando se concentrar, mas sua mente estava um turbilhão. "Eu… eu não sei como vou lidar com isso, doutor", ela começou, com a voz embargada. "Eu tenho uma filha pequena. Ela precisa de mim. Não posso… não posso simplesmente começar um tratamento e… e não ver ela crescer."
Dr. Lucas a olhou por um momento, notando a dor em seus olhos, e, em seguida, falou com calma: "Maria, entendo sua preocupação. A primeira coisa que quero que você saiba é que você não está sozinha nesse processo. Vamos fazer tudo o que for possível para garantir que você tenha qualidade de vida durante o tratamento."
Ela olhou para ele, desconfiada, como se fosse difícil acreditar que existia uma forma de alívio, dado o diagnóstico que lhe fora dado. "E… quanto tempo eu tenho?" Ela hesitou, antes de perguntar. "Eu… eu não posso morrer agora. Tenho que ver minha filha crescer."
O Dr. Lucas balançou a cabeça, com um olhar compreensivo. "Nós não podemos prever com exatidão o tempo que você tem, mas o que podemos fazer é cuidar de você, controlar os sintomas e tentar, com todos os recursos que temos, prolongar sua vida da melhor forma possível. Eu sei que isso não responde todas as suas perguntas, mas a verdade é que, por agora, precisamos iniciar o tratamento paliativo. Ele vai ajudar a aliviar as dores e, com sorte, permitirá que você tenha mais tempo."
Maria olhou para ele, com os olhos lacrimejando. "Eu não estou pronta para começar isso agora. Preciso de um tempo, doutor. Preciso passar mais um pouco de tempo com minha filha. Ela ainda é muito pequena."
Dr. Lucas a olhou com um olhar firme, mas gentil. "Eu entendo perfeitamente, Maria. O tempo é precioso, e eu não vou apressá-la. O que vamos fazer é refazer alguns exames para termos certeza do diagnóstico e da melhor forma de tratar você. Quando estiver pronta, vamos iniciar o tratamento. Não precisa tomar decisões precipitadas agora."
Ela respirou aliviada, como se, ao menos por um momento, tivesse encontrado uma margem de esperança. Maria sabia que, apesar da gravidade da situação, ainda havia tempo para fazer o que mais amava: estar com Luna.
"Obrigada", ela disse, com a voz mais calma. "Eu só… eu só preciso de mais tempo."
"Você terá o tempo que precisar", respondeu Dr. Lucas, com um sorriso tranquilo, antes de a acompanhar até a saída.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Ana Parodi
que a Maria tenha um bom tratamento, é possa tardar sua morte
2025-03-13
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Erlete Rodrigues
ela não tem família ❓
2025-04-08
0
Maria Fatima
cadê o pai da criança ?
2025-03-10
0