Conversando

-E você aceitou de boa?

-Tomei um susto, porque nunca imaginei que uma mulher linda como aquela iria olhar para mim, mas logo me recuperei e aceitei, namoramos um mês e casamos.

-E o que deu errado?

-Eu era professor na faculdade e dava algumas aulas particulares, nossa vida era boa, não tínhamos uma vida de luxo, mas dava para viver tranquilo e comer bem. Quando Vilma engravidou, foi um sonho se realizando, vi minha filha nascer e ela foi crescendo, cada dia mais, linda. Quando ela fez 14 anos, comecei a planejar a festa de 15 anos. Com o prazo de um ano, quando chegasse a data, eu já teria tudo pago. Como todo mês, saí mais cedo de casa, passei na lotérica onde eu pagava o boleto porque estava fazendo escondido de Vilma, então não dava para pagar pelo celular.

Saí da lotérica e fui direto para a faculdade, cheguei e, como era cedo, fui direto para minha sala, comecei a corrigir algumas provas.

 Ouvi uma gritaria do lado de fora da sala, eu saí na porta e vinham dois homens encapuzados atirando em todos que apareciam no caminho, eu passei a chave na porta e fiquei parado esperando eles passarem. Mexeram na porta, mas como estava trancada foram para a da frente tinha uns vinte alunos na sala eu só ouvia os tiros e os jovens gritando eu não podia ficar lá parado enquanto aqueles malucos matavam tantas pessoas inocentes.

Quebrei uma cadeira e com a perna na mão fui bem devagar até a sala, eles haviam colocado todos de joelhos um ao lado do outro e estavam segurando um rapaz em pé e falando para ele escolher quem morreria primeiro.

-Nossa, que história terrível, o que você fez?

-Entrei na sala e bati no maior bem na cabeça, que caiu desmaiado, o menor se virou para mim e atirou, eu não vi mais nada.

-Ele atirou em você?

-Sim, mas não era minha hora e ele acertou bem naquele pau que eu tinha nas mãos, mas com o impacto eu acertei com o pau na cabeça e desmaiei.

- E o que aconteceu depois?

-Eles me contaram que vendo como eu estava os defendendo, criaram coragem e atacaram o homem baixinho, o prendendo até a polícia chegar e a ambulância para me socorrer e alguns alunos que sobreviveram.

-O que isso tem a ver com sua separação?

-Tem tudo, Max, eu fui levado para o hospital e logo fui liberado, mas a cena da morte de pessoas próximas não me saía da cabeça.

Vilma tentou me ajudar, mas a única coisa que eu queria era ir embora daquele lugar e do perigo que coloquei na cabeça que estava correndo. Comprei o sítio em um impulso e, desse mesmo jeito, eu peguei minhas malas, vim embora e não sai mais daqui, tentei voltar e falar com Vilma, mas o que eu podia dizer?

Me dava palpitação só de estar na cidade, fiquei longe das mulheres da minha vida porque tinha medo de morrer, mas morro cada dia um louco por estar longe delas.

-Eu não sei o que dizer, mas saiba que estarei sempre aqui para o que você precisar.

Abracei Rodrigo porque de algum jeito fiquei mais ligado nele agora, esse tipo de trauma te paralisa, será que Lola lembra de tudo isso? Ou eles abafaram tanto que ela não percebeu a gravidade da situação?

Rodrigo parou de me abraçar e já voltou a ser o cara legal de sempre.

-Eu te amo, mas não quero me casar com você, trata de conquistar a Lola, mesmo eu sabendo que sou mais bonito.

-Desculpa ferir seu ego, mas Lola é muito mais bonita que você, e vou dar o meu melhor.

-Então, começa indo trabalhar e, na hora do almoço, traz Lola para almoçar porque ela esquece de comer quando está no meio dos animais.

-Pode deixar comigo.

“Rodrigo”

Contei para Max porque acho que assim ele vai conseguir me ajudar a manter Lola aqui, eu não vou suportar ver Lola indo embora, coloquei as cartas na mesa agora é esperar a jogada dos outros e vamos ver o que dá.

“Lola”

Fui ver as Harpias e a fêmea continua não querendo nada com o macho, ele até tenta, faz barulho para chamar a atenção dela, leva um graveto no bico para ela ver que ele quer fazer um ninho, na hora que jogaram os ratinhos ele caçou e levou na beira do viveiro, deixou lá e foi caçar outro para ele.

Maycon chegou e brincalhão disse:

-Martin não desiste, vive tentando levar comida para Iracema, mas ela não quer nem saber dele.

-Martin e Iracema? Quem deu os nomes?

-Fui eu, gosto de ler e o livro “Iracema” é um romance que não acaba bem, igual ao desses dois.

-Ainda pode dar certo! Talvez ela mude de ideia, de repente ela olha para ele e sente seus sentimentos mudarem.

-Tipo você e o Max?

-Eu não tenho nada com o Max, ele só é o filho adotivo do meu pai, só isso.

-Então se eu te paquerar ele não vai poder me matar?

Dei risada do jeito despojado dele, me parece um bom menino. É melhor mantê-lo longe, pois Max pode prejudicar a vida do rapaz.

-Maycon, acho melhor você não dar em cima de mim, eu não quero que você se prejudique por minha causa.

-Já vi que te perdi para o gostosão, todas se encantam pelo jeito grosseiro dele e por aqueles olhos azuis, acho que vou imitá-lo, quem sabe assim consigo pegar uma mulher primeiro que ele.

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