Conversa com meu pai

“Lola”

Acompanhei meu pai, mas continuo indignada, como ele pode morar na casa? Quem é Max?

Entramos no escritório e meu pai ficou parado me olhando, comecei ficar incomodada.

-Posso te dar um abraço?

-Rodrigo, eu não vim para cá por vontade própria, minha mãe me obrigou, então vamos manter nossa relação estritamente profissional.

-Minha filha, como você está bonita, sua mãe sempre foi bonita, mas você conseguiu ganhar.

-Por favor, Rodrigo, eu não consigo te perdoar por ter me abandonado.

-Eu não te abandonei, tentei falar com você várias vezes e você me rejeitou, eu só deixei você fazer suas escolhas.

-Escolhas? Você veio embora e me deixou, não perguntou nenhuma vez como eu me sentia, eu te amava tanto, você era meu herói, minha fortaleza, aí você foi embora sem nem se despedir de mim, me ligou uma semana depois querendo falar comigo, achou mesmo que me ligar ia ser uma boa ideia?

-Filha, eu estava começando aqui, não dava para ir falar com você pessoalmente, mas senti sua falta todos esses anos.

“Lola”

Rodrigo me abraçou e chorou como se realmente tivesse sentido minha falta todos esses anos, mas se isso é verdade porque não me procurou,15 anos é muito tempo.

Acabei abraçando meu pai, eu também senti falta desse abraço, mas não vou amolecer assim tão fácil.

Saí do abraço dele, enxuguei meus olhos e perguntei:

-Porque o seu peão mora na casa? Não tem alojamento para funcionários aqui?

-Max é mais que um funcionário, ele é como meu filho, vive na casa e vocês têm que aprender a conviver.

-Quer dizer que além de me abandonar o senhor colocou um qualquer no meu lugar.

-Eu não coloquei ninguém no seu lugar, eu achei Max aqui na casa sozinho e resolvi criá-lo, o que você faria em meu lugar?

-Você tem razão, ele só é mais um dos bichos que você salvou.

-Você está muito ácida, precisa mudar e parar de ofender as pessoas.

-Eu que estou ofendendo todo mundo, eu sou sempre a errada, cansei de ser a boazinha, a que todos pisam, agora vou mandar de volta todas as ofensas, doa a quem doer.

-Vai tomar um banho e colocar uma roupa mais confortável, preciso que você veja um animal.

-Porque? Minha roupa não serve?

-Filha, acho melhor você colocar uma calça, aqui tem muitos insetos e podem picar suas pernas.

-O senhor pode por favor parar de me chamar de filha?

-Não, não posso e pode ir se acostumando.

-Agora sei porque seu filho é tão grosseiro, aprendeu com você.

-É isso, a fruta nunca cai muito longe do pé.

-Isso é uma indireta para mim?

-Eu só falei uma frase que me lembrei, mas se a carapuça serviu, fazer o quê?

-Não serviu, eu não sou nenhum pouco parecida com você.

Saí do escritório batendo a porta porque as palavras da minha mãe ainda martelam na minha cabeça, você é mais parecida com ele do que imagina.

“Rodrigo”

Peguei o telefone para avisar Vilma que Lola chegou bem, mas mudei de ideia, deixa ela sentir o peso do que é não ter notícias de um filho.

Minha menina, doce, está amarga e magoada, mas vou consertar isso, preciso ter uma conversa séria com Max, esse é outro que me deve uma explicação: como que ele conseguiu maltratar uma mulher sem nem saber quem ela era? Ele não é assim, é doce, amoroso, brincalhão, porque se estranharam desse jeito eu podia jurar que iam ser bons amigos. Talvez é porque ela está revoltada lá com o ex-marido dela, ainda vou avaliar a situação.

Saí para o quintal e dá para ouvir as onças esturrando, ontem o Ibama me trouxe uma e deixei ela fechada para avaliação, estou achando ela estranha, acho que sei o que ela tem, vamos ver se minha filha veterinária percebe.

Senti a presença dela antes que me chamasse, mas deixei ainda vou ouvir ela me chamar de pai de novo.

-Rodrigo, estou pronta.

Virei olhar e a minha filha está com uma saia longa preta, uma blusa de manga curta amarrada na cintura e os cabelos presos num rabo de cavalo e só Deus para entender uma pequena bolsa.

-Se você acha que assim está bom, quem sou eu para te contrariar.

-Pode ficar tranquilo que ninguém vai ver nada que eu não queria mostrar.

-Então vamos filha, ontem recebemos uma onça com as patas queimadas, houve um incêndio e ela se queimou.

-Já foi limpo as queimaduras?

-Sim, já, mas acho que tem mais alguma coisa errada com ela.

-Por quê?

-Ela não comeu nada desde que chegou.

-De repente ela está se sentindo acuada, com dor e em um lugar estranho com um monte de humanos em volta.

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