Eu não sei o que acontece ela me irrita só de olhar para mim

“Rodrigo”

Cheguei na porta e eles estavam trabalhando sem brigar, acho que já aconteceu uma evolução, saí em silêncio e deixei ambos limpando e preparando para retirar o dente da onça.

“Lola”

Deixamos tudo limpo e preparado, virei falar com Max e ele está me encarando, senti uma coisa dentro de mim, parece que meu corpo está todo aquecido.

Quando ia falar alguma coisa, Rodrigo apareceu.

-Está tudo pronto? Nossa! Ficou ótimo.

-Rodrigo prepara o sedativo que já vou lá ministrar.

Max começou a rir e falou:

-Essa quero ver, como você vai fazer? Vai pedir permissão para a onça ou acha que ela vai deixar de bom grado você aplicar um sedativo nela?

-Acabou, você me acha tão ignorante assim?

-Eu só quero que você veja que não está lidando com um cachorrinho, é uma onça selvagem.

-Sei que estou lidando com uma onça e sei o que fazer, pode deixar que não vai ser hoje que vou ser devorada por ela.

-Vou assistir de camarote a sua performance.

-Pois vou provar para você que sou competente, e você fique longe até ser chamado porque aqui você é só meu ajudante.

-Se eu pudesse, ficava mesmo bem longe, mas Rodrigo vai me matar se acontecer alguma coisa com a “bonequinha” dele.

Quando ouvi o apelido que não ouvia há muito tempo, saindo da boca do Max como se fosse um insulto, me senti mesmo insultada, virei para meu pai e disse:

-O que você foi falar de mim para esse cavalo xucro?

-Só disse para ele que você é muito especial para mim e para ele tentar ser seu amigo, só isso!

-E no meio dessa pequena frase contou para ele como você me chamava?

-Eu não sou um cavalo xucro, você que é nervosa e mal-educada.

-Tem razão Maxuel te chamar de cavalo xucro ofende o cavalo, você é bem pior, você é um…, um…

-Vai fala! O que eu sou?

-Você é um homem das cavernas, é isso que você é. Sem sensibilidade, sem educação, sem respeito por minha pessoa só porque sou mulher.

-Você está enganada, respeito muito as mulheres do campo, só acho que você com esse seu jeitinho frágil não vai conseguir viver aqui.

“Rodrigo”

-Sei que essa conversa ainda vai longe, mas temos um animal para operar, acho melhor vocês deixarem suas diferenças de lado só por algumas horas, pode ser?

Vi ambos me olharem e relaxar as expressões, são bons no que fazem e vou puxar esse lado deles, talvez assim parem de brigar.

-Vocês são profissionais, você Max lida com os animais há muito tempo e tem um conhecimento que Lola não tem.

-Se você acha ele tão competente porque precisa de mim aqui?

-Calma menina, eu não acabei de falar! Lola você tem uma profissão linda e já vi pelo jeito que olhou para aquela onça ferida que gosta dos animais, você tem muito conhecimento e pouca experiência se vocês pararem de brigar vão ser uma dupla imbatível.

Max com a experiência e você com o conhecimento.

-Seu discurso foi emocionante, mas prefiro adquirir conhecimento com minhas próprias experiências, e vamos logo que a onça nos espera.

“Max”

Vi Lola abaixar e desmanchar o nó da saia, e ir em direção ao viveiro. Ela me ofendeu com a história do cavalo ser melhor que eu, mas preciso dar um desconto, eu também não estou sendo educado, eu não sei porque, mas ela traz meu lado pior para fora.

Rodrigo me tira dos meus pensamentos.

-Vamos Max antes que Lola traga a onça na unha só para provar para você que consegue.

-Sua filha é geniosa, não tem controle sobre o que fala.

-E você tem? O que está acontecendo com você porque está sempre provocando Lola?

-Eu não sei, quando vejo já estou falando e discutindo com ela.

-Será que você não está interessado na minha filha?

-Claro que não! Eu só a conheço há pouco tempo e a única coisa que fizemos foi brigar.

-Talvez foi amor à primeira vista.

-Acho mais fácil eu me apaixonar por aquela onça do que por sua filha, e vamos parar com esse assunto.

-E Max, ela não é casada, vi você olhando para a aliança na mão dela.

“Max”

Nossa ele repara tudo, vou ter que tomar cuidado com Rodrigo, senão ele me casa com a filha dele e eu nem vou saber o que me atingiu.

-Viu errado, eu não estava olhando para a aliança, estava pensando se aquelas mãos tão delicadas vão conseguir lidar com uma onça. E ela pode não ser casada no papel, mas dentro dela ainda é, senão já tinha tirado aquela aliança do dedo.

-Posso te garantir que aquelas mãos delicadas dão conta de muita coisa.

Rodrigo não é um pai normal, ele deveria estar me afastando da Lola, mas parece querer me jogar para cima dela, se fosse em outra situação e ela não abrisse aquela boca talvez eu até trocasse alguns beijos com ela, mas sem chance.

Chegamos na jaula onde a onça está presa e Lola já está pronta para atirar.

Cheguei com tudo e com minha delicadeza tirei a espingarda da mão dela.

-Quem preparou a dose de anestésico para ela atirar?

Seu José o capataz da fazenda disse:

-Auxiliei nos cálculos e D. Lola fez o resto.

Vi que de novo havia feito merda, me virei e ela está com as mãos na cintura esperando eu me retratar e agora tem Rodrigo e seu José me olhando esquisito também.

-Tá bom, exagerei, mas vocês têm que entender que ela é inexperiente e poderia matar a onça.

-Se eu fosse irresponsável, coisa que não sou, pode me devolver a arma agora?

-Sou bom de mira, você não quer que eu atire?

-Me devolve a arma, Maxuel!

Vi Lola mirar e acertar no pescoço da onça, recarregar e atirar de novo, acertar quase no mesmo lugar nas do outro lado. Virar me entregar a arma.

-Tem muita coisa que você não sabe de mim, é melhor tomar cuidado. E agora, sim, chegou seu momento de brilhar, assim que ela dormir, use seus músculos e leve ela na sala de cirurgia, eu vou lá me preparar, e Max vê se não faz merda. 

Vi Lola indo em direção à sala, me virei e Rodrigo e o Capataz estão me olhando.

-O que foi? Vocês não achavam que eu ia pedir desculpas? Ela que é o intruso aqui e não eu.

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