Extraindo o dente da onça

Rodrigo me falou:

-Chama mais dois homens para carregar a onça antes que você faça outra besteira.

-Mas Rodrigo!

-Cala a boca, Max, vai fazer sua parte.

Vi Rodrigo ir em direção à casa e não sei o que pensar, ele defende ela o tempo todo, eu sou sempre o errado.

seu José resolveu falar:

-Max, ele é pai dela e você é o filho que ele criou, acho que ele só queria que vocês se dessem bem.

-Não tem como me dar bem com a filha mimada dele.

-Ela não é mimada e você está esquisito, nem parece você. Sempre foi tão educado, amigável, as mulheres se derretem com seu sorriso, seja gentil, volte a ser o Max de antes e conquiste Lola.

-Eu não sei se quero, ela é diferente das mulheres daqui.

-E você, o poderoso Max está com medo de uma mulher.

-Não estou com medo, só não quero me envolver, porque quando ela perceber que isso aqui não é a vida que ela escolheu, ela vai embora e eu não quero ficar aqui sofrendo.

-Você já pensou na possibilidade dela não ir embora e você perdê-la por medo de sofrer lá na frente?

-Tenho certeza que ela vai embora, todas vão Jose, todas vão.

“José”

Fiquei olhando Max e não sei o que dizer porque se for olhar pela visão dele realmente todas vão embora, a minha foi, a do Rodrigo nem veio e a mãe dele foi, como que digo com certeza que Lola não vai?

-Max vivi os melhores anos da minha vida quando minha mulher estava comigo, depois de um tempo não deu certo, mas olhando para trás eu não abriria mão dos anos que passei com ela por nada, a felicidade é feita de momentos e se você não os viver com medo de acabar nunca vai ser feliz, pense nisso.

-Vou pensar, agora deixa eu levar a onça para a madame antes que ela volte aqui me xingando.

Peguei mais dois peões da fazenda e fomos levar onça na sala de cirurgia.

Quando chegamos na porta, Lola já estava com a roupa verde do centro cirúrgico e nos barrou na porta.

-Esperem, colocou um líquido em uma vasilha e nos fez pisar dentro, para evitar contaminação.

Falei para os peões:

-Podem ir mas, não fiquem longe, assim que a doutora acabar chamo vocês para levarmos a onça de volta a jaula.

Um dos peões pediu:

-Posso pedir uma coisa, D. Lola?

Vi Lola abrir um sorriso e fiquei com ciúmes porque ela nunca sorriu assim para mim.

-Como você se chama?

-Maycon.

-O que você quer Maycon?

-Eu e meus amigos queríamos assistir à cirurgia, nunca vimos tirar um dente de uma onça.

-Quantos amigos são?

-Acho que cinco.

-Pode trazê-los, não esquece de passar o pé no líquido.

“Max”

Vi Lola acariciar a onça e avaliar os pés queimados, o focinho machucado e assim que os rapazes chegaram ela começou, abriu a boca da onça e limpou os dentes, achou o que estava estragado, extraiu com uma destreza que poucos têm, o Maycon ficou perto de Lola o tempo todo eu não tive que fazer nada.

Quando Lola tirou o dente, Maycon ficou olhando.

-Posso ficar com ele doutora?

-Vou examiná-lo e depois te dou.

Ela acabou de dar os pontos na boca da onça, limpou tudo, refez os curativos dos pés.

-Levem ela para a jaula, coloquem de lado e tomem cuidado, está para acordar, eu vou acabar de arrumar aqui e já vou lá, não deixe ela sozinha, entenderam?

-Sim, senhora.

Max ficou calado o tempo todo, quem me auxiliou foi Maycon, eu me senti estranha, parece que ele quem tinha que ter me ajudado, mas ele não fez muita questão e já deixou bem claro que não quer ficar perto de mim.

Limpei tudo, coloquei os instrumentos para esterilizar e fui ver minha paciente, cheguei, os meninos já tinham voltado para seus serviços e Max estava ajoelhado em cima do calcanhar na porta da jaula.

Cheguei perto e disse:

-Pode ir fazer o seu serviço, eu cuido dela, acho que logo deve acordar.

-Vou ficar aqui.

Peguei dois tijolos de oito furos e coloquei um em cima do outro e me sentei, Max ficou me olhando.

-Eu não tenho essas habilidades, não consigo ficar ajoelhada em cima da perna.

-Quem sabe com o tempo você adquira algumas de nossas habilidades.

-Estou de boa, sou diferente e sei disso.

-Você é muito bonita do jeito que você é, me desculpa por ser grosso com você, eu não sei o que me dá.

-Eu também reagi exagerada, mas não vou pedir desculpas, você quem começou tirando suas conclusões precipitadas, me avaliando devido às roupas que visto e sei lá mais o quê.

-Quero tentar ser seu amigo, vamos tentar pelo Rodrigo?

-Não!

-Não! Como assim não?

-Não! Se você quisesse tentar por nós, eu até tentaria, mas pelo Rodrigo não vou tentar.

-Está vendo só, você já começou a me tirar do sério, Rodrigo é a melhor pessoa que conheci, me criou e me fez ir à escola, eu só não fiz faculdade porque não achei necessário, ele me ensinou tudo o que eu precisava saber.

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