CAPÍTULO VINTE

LEWIS LUTTRELL

Os dias voaram com o trabalho, mas não me afastei de Kendra nem por um momento. Tínhamos concordado em apenas ter aquelas noites, mas eu sempre podia fazer algo bom e genuíno para ela.

— Você serve a pipoca, já devem estar prontas — eu instruo — e eu vou tirar as opções de filmes.

Eu não tenho a certeza de como chegamos aqui, e especialmente que ela tenha concordado com isso, algo que vai contra todas as regras que Kendra havia estabelecido para nós, mas de qualquer forma, isto é, o de menos.

Vou apenas aproveitar nossa noite juntos, independentemente de como irá terminar. Porque uma coisa é facto, embora o sexo seja óptimo, partilhar momentos de vulnerabilidade e cuidar dela, faz com que tudo pareça algo mais, e Deus, não temos um mês sequer nesse acordo, mas eu já estou sentindo as coisas mudando entre nós e indo além de todas aquelas regras.

Adoro.

Sinto que, na verdade, Kendra quer que eu compartilhe mais de mim com ela. Que eu conte a ela sobre as coisas que me definiram, meus hobbies favoritos, medos, sonhos ou meus objetivos, e ela quer me dar o mesmo.

É diferente de qualquer outro relacionamento que eu já tive, e sim, nós não estávamos namorando, mas ela é a única mulher que já teve tempo para conhecer o cara que eu sou por baixo de tudo. Margot, em tempos foi uma boa parceira e tivemos igualmente um bom relacionamento, mas algumas das coisas eu tive que esconder dela e ser superficial, porque talvez ela não soubesse lidar totalmente com a minha vulnerabilidade, e muitos vezes tinha de impressiona-la, sendo apenas um garoto rico e com pais mais ricos ainda. Com Kendra, talvez eu possa finalmente ser apenas eu, Lewis.

— Eu não sei qual é o seu filme favorito — eu digo, pensativo, ao não saber em qual plataforma de streaming acessar.

K caminha até a sala com uma tigela grande de pipoca nas mãos. Ryan está na cidade e embore ele frequentasse muito a minha casa, até se estabelecer, decidiu alugar um apartamento e me dar algum espaço, uma vez que sabe do acordo entre eu e Kendra, quero dizer, não os detalhes, apenas que temos algo.

— Acho que no momento “como perder um homem em 10 dias”.

— Sério? — Faço uma careta.

— Parece muito cliché? Eu gosto de romances. O filme da semana passada deve ter mostrado isso. — Explica

— Não é por isso… — Eu balanço a minha cabeça. — Só acho engraçado você escolher um filme sobre uma garota rabugenta que faz um cara se apaixonar e depois comete todas praxes possíveis para se livrar dele. Você tentou se livrar de mim.

Ela estreita os olhos.

— Não fale mais nada. — Ela bufa, enchendo a boca de pipocas.

— Eu não ia dizer mais nada mesmo. — Dou de ombros. É realmente engraçado que ela parece ser anti-romântica e com aversão ao amor, mas também gosta de histórias de amor.

— Qual é o seu filme favorito? — K pergunta e quando olho para ela, a vejo meio sem graça, provavelmente por mostrar que quer saber mais de mim.

— Bem, eu gosto dos filmes da saga Need for Speed. — eu sorrio.

— Sério? Cresci vendo isso! Eles eram alguns dos favoritos da minha mãe, pelo menos até onde ela assistiu. Já vi todos eles uma dúzia de vezes. — Seu sorriso é radiante, embora no fim um pouco triste, quando pousa a tigela e se senta no braço do sofá.

Eu apago as luzes, pego os outros lanches, um cobertor e estendo mão para ela, que encara com relutância, mas a segura. Então a puxo para meus braços.

Kendra apenas fica hesitante e se vira para mim, seu rosto parece repleto de arrependimento e talvez algo mais. Talvez eu tenha exagerado, mas não falamos sobre isso.

Coloco play no filme “No strings Attached”, estrelado por Ashton Kutcher e Natalie Portman: de alguma forma, parecia algo sobre nós. Sexo sem compromisso, porque ela teme sofrer se houver algo a mais, só que com o tempo os sentimentos começam a florescer.

— Afinal de contas, o que é tudo isso? — Kendra sussurra em meio ao filme.

— Só queria fazer algo bonito para ti. — Ela inclinou a cabeça para mim. Será que exagerei mesmo? — É demais? — Olho em volta, meu sorriso ficando tímido e ao mesmo tempo desesperado.

— Não é — Ela balança a cabeça, enquanto morde o lábio, ainda um pouco sem palavras enquanto eu a puxo mais para mim. De conchinha. — É só que.... Acho que alguém nunca fez algo assim por mim, o jeito como você me trata, desde aquela manhã na minha cozinha.

Eu tento ignorar o que sinto dentro do meu peito com essas palavras, mas tudo que faço é dar um sorriso aberto a ela. Sempre estarei lá para ela.

— Então, você gostou, K?

— Oh, Sim. — Não esboça nenhuma emoção no rosto.

— Venha aqui — eu digo, passando a mão por cima da cintura.

— Isso meio que parece um encontro. — Ela suspira, parecendo atordoada. — Fizemos as regras por uma razão.

— Eu não importo, fodam-se as regras. — Beijo sua nuca. — Eu só gosto de estar com você.

Ela suspira novamente, porém, agora coloca meu braço como um travesseiro e se ajusta a mim, deixando seu corpo mais aconchegado ao meu. Eu resisto a tentação de beijar seu pescoço e inalar seu cheiro, porque sei que isso a fará se afastar.

Quando o filme acaba, odeio a sensação de perda, por saber que tenho de deixá-la ir.

— Eu deveria ir — ela sussurra em meio a escuridão, então se vira para mim e me beija. Eu retribuo, mas antes que possa prolongar, ela se afasta. — Obrigada por esta noite, gostei.

— Bem, você pode ficar. — eu digo, cuidadoso e com medo de estragar as coisas com o meu desespero inegável. Eu não tinha acordado na cama ao lado dela desde aquele primeiro dia, quando éramos apenas desconhecidos, e está me matando o quanto eu quero que isso aconteça, que desta vez ela não fuja de mim e se tranque no banheiro.

Kendra, já de pé, para por um momento — pensativa — antes de balançar a cabeça.

— Não posso. Não podemos… — Sua voz é baixa, mas tão séria quanto pode.

— Porquê, K? Nós somos adultos.

— Você sabe o que eu quero dizer, Lewis. — Seu tom parece implorar por compreensão.

— Você sabe que mais cedo ou mais tarde, terá de ceder, certo?

— Sobre o que?

— Sermos mais do que isso.

Ela revira os olhos e cruza os braços.

— Eu cedi quando combinamos isso tudo. — Seu tom é alto agora — Não é suficiente eu esteja dormindo com você, Lewis? Ser mais do que isso significa me entregar e estar vulnerável, eu te disse que não estava procurando uma história de amor.

—O que tem de errado nisso? Estamos tendo bons momentos e eu sei que você gosta. — Levanto e me aproximo. — Você gosta de mim e sabe muito bem que eu gosto de ti, isso não é apenas sobre sexo.

— Não. — Kendra dá alguns passos para trás.

— Sim. Eu ainda não sei qual é o problema de não aceitar que eu goste de ti, tão pouco o facto de que você está gostando de mim, mas está me matando você não ser honesta. — Afirmo. — Tanto comigo, quanto contigo mesma.

— Boa noite, Lewis. — Sussura e então ela pega nos seus pertences, indo embora.

— Adeus — eu finalmente murmuro, observando-a sair. Quando a porta se fecha tento juntar os pedaços de mim, que desmoronam sempre que tenho de deixa-la ir e aceitar o que ela me oferece.

Eu sei muito bem sobre a linha que ela quer traçar entre nós, mas não dará certo e sei também que ela sente tudo o que também se passa no meu peito, nada disso foi sobre sexo, apenas desfrutamos da companhia um do outro sem nenhuma necessidade. Tivemos uma boa noite, eu a segurei em meus braços, ela me deixou abraçá-la e toca-la.

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Comments

Fatima Vieira

Fatima Vieira

complicada ela

2025-02-01

2

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