KENDRA HAYES
Após uma tentativa falha, forço novamente meus olhos a abrirem e pisco um pouco frenética devido aos raios solares que adentram pela janela. As cortinas do meu quarto são escuras e pesadas, quando fechadas mal nota-se o ambiente externo, porém, no dia anterior por algum motivo não as fechei.
Estou deitada de costas, então viro para o lado ao sentir um aperto firme no meu quadril. Eu bebi, obviamente, e fiquei um pouco mais bebâda que de costume, mas lembro que este é o homem com quem conversei ontem no bar. Eu fiquei com ele, ele ficou comigo, nós ficámos juntos.
Nós transamos. Constato notando nossa total nudez, além do cobertor sobre os nossos corpos.
Franzo a testa e rapidamente arregalo os olhos.
Eu transei com um homem totalmente desconhecido, pela primeira vez. Tenho só 24 anos e é agora que se torna oficial como será minha vida daqui para frente.
Solidão.
Trabalho.
Bebidas.
Sexo.
E mais um pouco de solidão.
Sou tirada do meu devaneio, ao sentir o homem se remexer enquanto murmurra alguma coisa inaudível. Aproveito o momento e coço a garganta exageradamente, como forma de fazê-lo acordar.
Ele pisca algumas vezes e retira a mão de cima de mim, para esfregar os próprios olhos. Finalmente me encara, e não consigo evitar me sentir constrangida por esse momento.
― Bom dia ― profere com o tom de voz rouco, que por momentos parece tirar todo o meu foco. Pisco, com a testa franzida, como forma de espantar quaisquer pensamentos inconvenientes.
― Bom dia ― digo rapidamente e arrasto o cobertor para mim e me levanto da cama, enquanto me enrolo nele. Volto minha atenção para ele e sinto minhas bochechas corarem mesmo a sério. Ele sequer se moveu e por eu ter tirado o cobertor para mim, seu corpo está todo exposto. Fico alguns segundos extasiada com a visão, mas logo fico de costas para ele. ― Mil desculpas por isso.
E assim sigo apressada em direcção ao banheiro, mas antes que chegue sequer a porta, tropeço no imenso cobertor e solto um grito agudo e alto.
― Oh, merda ― ao longe o oiço xingar.
Merda. Era só o que me faltava.
Os braços do homem seguram minhas mãos e ele me ajuda a levantar. Já de pé sinto uma leve dor no braço direito.
― Você está bem? ― O tom de voz soa preocupado e em resposta eu gemo com uma carreta de dor, seguido de um sorriso forçado.
Gemo pelo roxo no meu braço e sorrio de vergonha.
― Sim, não é nada demais. ― digo por fim. ― Depois coloco gelo, obrigada.
Ele segura o braço dolorido em silêncio, o observa calmamente e eu apenas o encaro, como se essa não fosse uma situação estranha. Como se não fossêmos completos desconhecidos, totalmente nus.
O som de um celular, no caso meu, corta o silêncio fazendo com que em sintonia nos viremos para a origem.
―Hm ―desta vez ele é quem coça a garganta e com cuidado solta o meu braço, passa a mão no cabelo um pouco avoado e se afasta. ― eu vou me arrumar para ir embora, você pode tomar seu banho.
Aceno com a cabeça enquanto vou até a bolsa jogada no chão, próximo a porta do quarto, já que o som de chamada se mantém insistente.
― Alô! ― Atendo sem sequer olhar o nome.
― Srta. Kendra, bom dia! ― oiço do outro lado da linha a voz de Jane, minha assistente. ― tenho más notícias.
Franzo a testa e me prontifico a ouvir.
― Pode falar, Jane. ― Olho para o homem do canto dos olhos, e este já está ao menos de cuecas boxer. Amém.
― A reunião com a direção foi remarcada para às oito e meia. ― Explica e retiro o celular da orelha para verificar a hora. São seis e quarenta e um minutos, a reunião seria ás oito em ponto. — O novo acionista estará presente.
― Certo, Jane. ― confirmo porque eu avisei a ela que chegaria um pouco mais cedo para rever alguns projectos. ― em breve estarei aí.
Troco mais algumas palavras com ela, e por fim encerro a chamada. Passo pelo homem, que já está quase que totalmente vestido, em direcção ao banheiro e desta vez com mais sutileza para evitar outra queda.
Assim que fecho a porta me apresso a entrar na box, tomo banho evitando molhar o cabelo e forçar o braço que me magoei. Quando termino me enrolo na toalha e saio do banheiro enquanto me seco com a outra. O quarto está vazio, então suspiro de alívio enquanto me apresso para estar pronta. Não tenho muito trabalho para escolher a roupa, então pego um conjunto preto de calça e blazer, uma blusa simples como de costume, eu me vestia assim basicamente todos os dias, de maneira formal e estruturada.
Saio do quarto com a bolsa pendurada no ombro enquanto prendo o cabelo num rabo de cavalo. Me assusto ao ver o homem na cozinha e me seguro para não dar um grito, novamente.
― Ainda aqui? ― pergunto de forma retórica, enquanto passo a mão no peito, para acalmar os batimentos acelerados do meu coração.
― Eu sei, eu sei ― se explica, erguendo aos mãos rendido. ― é estranho, mas você me pareceu apressada demais para fazer seu café da manhã, fiz essa simpatia. ― Aponta com as duas mãos as torradas recheadas num prato, o suco e café. Semicerro os olhos desconfiada e antes que eu possa proferir qualquer palavra, ele continua. ― Eu prometo que não te envenenei.
Ainda estranhando me aproximo mais da bancada da cozinha. Não sabia que casos de uma noite poderiam preparar refeições no dia seguinte.
― Então você costuma fazer essa simpatia com todas as mulheres com quem dorme? ― questiono o encarando melhor. Realmente, bonitinho é um insulto.
― Aqui, achei que iria precisar para a ressaca ― me estende um comprimido e copo de suco. Notando minhas suspeitas, se explica ― Achei na sua mini farmácia. E respondendo a sua questão, não, eu não faço isso para todas as mulheres, até porque não são muitas como você insinuou.
Pouso o copo após tomar o comprimido e espreito o relógio no meu pulso, sete e nove minutos.
― Não acredito muito nisso, mas não posso te contrariar. ― Ainda de pé, dou uma mordida na torrada e tenho de admitir que precisava mesmo comer alguma coisa. ― Não te conheço.
― Eu sou Lewis Luttrell ― se apresenta, como isso fosse me fazer saber tudo a seu respeito. Oh, posso mesmo saber, uma investigação básica poderia me permitir conhecer pelo menos a parte superficial. ― Posso saber para quem fiz café da manhã?
Fala com um sorriso aberto, perante esse acto me foco nos seus olhos, são castanhos e claros, a pele é um pouco bronzeada, como se por muito tivesse sido exposto ao sol de verão. Seattle, não tem muito do verão, na maior parte das vezes, o ambiente é frio, então, talvez ele tenha tido umas belas e longas férias, ou na maior das hipóteses, não é natural daqui.
― Kendra Hayes ― respondo e tomo um último gole do suco. ― Adoraria continuar esta conversa, mas preciso ir trabalhar.
O homem, que agora sei que é Lewis, dá a volta pelo balcão.
― É mesmo, eu também preciso ir. ― Pega o blazer no banco e aponta para a saída enquanto espreme os lábios numa linha recta, enquanto seu rosto forma uma carreta. Pego minha bolsa novamente e sigo até a porta, a abro e permito que ele saia primeiro para que eu a possa trancar.
Incrível que não tenha perguntado sobre trabalhar aos sábados. Bom, pelo menos não é tão curioso.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Fatima Vieira
é com ele a reunião pode ter certeza
2025-01-31
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