CAPÍTULO TRÊS

KENDRA HAYES

Sim, posso até ser solitária, mas há que admitir que a minha vida até que deu certo. Para a minha idade, estou um tanto realizada. Aos 26 anos tenho um grande cargo na empresa DELCOUR, Directora de projectos de uma das empresas de arquitectura e imobiliária mais renomadas de Seattle, é o sonho de muitas pessoas com o mínimo de ambição. Porquê? Isso pode ser totalmente por amor a carreira, mas de todo, garante uma vida privilegiada e muito luxo, bem, isso até ser despedida para que haja alguém melhor no seu lugar, o consolo é que dá para garantir uma boa reforma se for um bom gerente.

Caminho pelo longo piso do hall de entrada de DELCOUR, um edifício de 20 andares que alberga diversos escritórios para responder a necessidade de todos os trabalhadores. Todo preto e com acessórios prateados na parte externa, se mostrando assim uma linda obra de arte inclusive com o seu interior igualmente luxuoso. Oiço os meus saltos batendo contra o chão e a cada passo me perco um pouco mais em meus próprios pensamentos, foi uma manhã um pouco estranha e não tenho tanta certeza se aquilo devia ter acontecido, não é de meu feitio.

Eu prefiro e torço para jamais cruzar meu caminho com o de aquele homem, cujo o nome é Lewis, não saberia como lidar. Uma vozinha no meu subconsciente contraria essas afirmações com gritinhos, porque o homem é mesmo uma tentação.

Entro no elevador espelhado, quando as portas se fecham após eu colocar décimo nono andar, encaro meu reflexo e me foco em ajustar qualquer irregularidade no meu traje e cabelo, que para reuniões opto por dividi-lo na parte frontal exatamente pelo meio e prender, realça a minha expressão de seriedade e todo mundo sabe que as mulheres são por vezes mais respeitadas pela forma como se vestem e a postura.

As portas do elevador se abrem e mal saio, Jane, minha secretária, vem até mim com um triplo mocha latte com canela.

Em algum momento da vida me tornei dependente e desta então não me sinto como um ser humano normal se não tomar a minha dose básica de leite e café, ainda mais pela manhã.

— Obrigada. – Agradeço me dirigindo ao meu escritório, tenho pelo menos trinta minutos antes da reunião, tempo mais do que suficiente para me preparar para lidar com o novo acionista e CEO.

Odeio mudanças, ainda mais quando o chefe é que muda, os riscos são maiores pois ele se foca em adaptar as coisas para o seu próprio estilo.

Faltando 5 minutos para a reunião, Jane bate a porta e me informa que o novo acionista já se encontra na empresa, então pego meu material e me dirijo ao andar acima do meu.

Como em todo o prédio o chão é feito de mármore preto e é brilhante, paredes brancas com alguns detalhes adornados de cor prata e em partes estratégicas, este andar contém apenas um escritório espaçoso e deslumbrante e uma sala de reuniões. Ao adentrar na sala, a imensa mesa está preenchida pelos funcionários de alto cargo, saúdo a todos e me sento no lugar de sempre, restando apenas dois lugares para serem ocupados, o novo CEO, basicamente o dono da empresa uma vez que este possui a maior parte das acções, e talvez outra pessoa.

Burburinhos se escutam entre os presentes e eu estou igualmente trocando palavras, quando as portas se abrem e eu, tal como todos os outros nos viramos.

— Bom dia meus Senhores — uma voz grave e que ao mesmo tempo soa dócil se faz sentir na sala repentinamente silenciosa. Eu franzo a testa familiarizada com o tom e quando encaro a entidade que a emitiu, não reprimo o choque. Ele está acompanhado por uma mulher vestida elegantemente num conjunto vermelho chamativo, com detalhes brilhantes, os acessórios que a adornam são igualmente chamativos e dão realce ao seu rosto esculpido para a perfeição e ao tom de pele, levemente bronzeado, tal como de Lewis.

Será coincidência?

Quando ele se senta na ponta da mesa, de costas para uma imensa vista, e a mulher no seu lado esquerdo, nossos olhares se chocam inevitavelmente quando ele avalia rapidamente todos os rostos presentes, ele volta seu olhar para mim, surpresa expressa no seu rosto, entretanto a máscara demonstrando apenas um olhar sério e profissional.

Ótimo! Agora tenho mesmo de saber como lidar com ele. E olha que isso parece alguma brincadeira para me sacanear, o universo está usando as palavras do meu subconsciente para me castigar. Como engolir que quando eu me deixei levar pelas emoções do momento e transei com um homem totalmente desconhecido, acabei descobrindo que ele é meu novo chefe?

A reunião prossegue e em alguns momentos nossos olhares se cruzam, mas foco em manter a postura e a calma.

Sim, algo em mim sonhou em encontrar ele novamente por aí, mas isso acontecer no meu ambiente de trabalho e como meu chefe é o cúmulo.

Quando a reunião, que durou cerca de duas horas, chega ao fim, não reprimo a indignação e bufo enquanto arrumo a minha pasta.

— Srta. Hayes — Ele me chama e levanto o olhar.

Vestido formalmente, um terno preto sob medida, entretanto sem gravata, mas isso o fazia exalar charme e autoconfiança. Seu olhar se desvia para a mulher que agora sei se chamar Margot Collins — Directora dos serviços de design de interiores, um novo catálogo da empresa. — E acena, ela acaba por nos lançar um olhar perfurante e se retira.

— Sr. Luttrell — faço uma careta meio desgostosa — Meu chefe, uau.

Ele sorri envergonhado, embora ache que isso não vai de acordo com a postura.

— Nunca supus essa possibilidade — fala — que pudéssemos nos reencontrar no nosso local de trabalho, preferia que fosse em outras circunstâncias.

Não reprimo a surpresa por suas palavras. Então quer dizer que ele quis que tivéssemos outra interação, mas em outro local? Ok, já prevejo problemas.

— Eu preferia que nada acontecesse — Recupero a postura e fico séria, preciso esclarecer limites — Há encontros que devem ser apenas uma vez na vida, coisas que devem acontecer e ser esquecidas.

Lewis franze a testa e sinto seu corpo enrijecer, mas mantenho minhas palavras firmes:

— Se eu pudesse ter evitado o que aconteceu entre nós, o faria. Agradecia que o senhor enterrasse esse incidente e mantivéssemos as coisas extremamente profissionais.

Concluo na defensiva e me retiro da sala sem esperar uma resposta. Assim que estou no elevador sozinha, me permito respirar.

Ele devia ser o primeiro a ignorar esse assunto, pois é o meu chefe. De qualquer forma, eu não quero distracções no meu trabalho, é uma das coisas mais valiosas que tenho, me faz esperar algo do dia e me mantém viva.

Respiro fundo meio irritada e ao sair do elevador, Jane da sua mesa de secretaria percebe a minha aura e se mantém em silêncio, então em passos apressados entro no escritório, jogo a pasta na mesa e pego o celular logo me permitindo desabar no sofá do canto.

— Onde você está? — Pergunto assim que ela atende.

— Olá para você também. Estou bem, obrigada pela preocupação — responde irónica e continua — Estou em casa e sozinha, pode vir.

— Tem vinho aí?

— Tem sim. O que se passa? — seu tom rapidamente soa preocupado e até me sinto culpada por isso.

— É só um péssimo dia, mas estou bem. — Garanto e quase rio da minha afirmação, ainda são dez da manhã, como é possível tudo já estar errado? — Te vejo logo.

Me despeço e pego meus pertences para sair. É sábado, viemos apenas para a reunião que estava a dias sendo adiada, e hoje é um bom dia para passar com a minha garota e um pouco de vinho, porque afinal de contas não sou tão solitária como disse.

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Comments

Fatima Vieira

Fatima Vieira

q ironia

2025-01-31

2

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