CAPÍTULO TREZE

LEWIS LUTTRELL

Contemplação. Olhar demorado e atento, de repercussão interna. Minha mente insiste em contemplar cada característica, ao mínimo detalhe, do seu rosto. Até agora estou incrédulo, como se estivesse em sonhos nas nuvens.

Ela cedeu.

Foi o melhor momento de ontem. Ela me deixou entrar em sua vida e eu estou disposto a fazer valer cada momento.

Margot foi totalmente desnecessária com aqueles comentários para cima de Kendra, apenas para me afectar. Ela precisa entender sua posição na minha vida, de uma vez por todas, pois não foi o que combinamos.

Kendra ficou com tanta raiva e irritação que chegou a me ignorar. Ela não está errada, principalmente depois do que tivemos dias antes, ela ficou numa posição constrangedora graças a Margot.

Abaixo a temperatura do ar condicionado e ouço minha porta abrir, chamando minha atenção.

— Lewis. — Margot entra e diz com uma voz mais calma.

— Srta. Collins. — Respondo diferente, ela não merece que eu a trate com afeto agora. — Não pode entrar sem bater.

O silêncio domina a sala. Seu olhar se estreita sobre mim em desafio, que eu aceito.

— Algum problema? — Pergunto relembrando a conversa delas, ontem.

— Ah, Lewis, pare. — Ela diz revirando os olhos, como quem se divertiu com aquela atitude.

— Sério? Sua pele está tão vermelha, isso é normal? — Continuo.

— Eu já entendi, pare com isso. — Bufa, birrenta, enquanto se acomoda elegantemente no sofá, sem autorização.

— Pode se levantar, eu não quero você aqui. — Digo com seriedade.

— Você está sendo dramático, aquilo não foi nada demais. — Ela diz e acho que estou alucinando.

— Dramático? MARGOT, A MINHA VIDA PESSOAL NÃO É DA SUA CONTA, EU NÃO TENHO QUE AGUENTAR SUAS CRISES DE CIÚME. — Acabo gritando, perdendo o controle e me arrependendo de ter vindo com ela a esta cidade.

— ELA NÃO SERVE PRA VOCÊ. — Devolve, se levantando irritada.

— SE ELA NÃO, MUITO MENOS VOCÊ NÉ? — Já de pé também, ando pela sala enquanto passo a mão pelo meu cabelo e tento me acalmar.

Chego perto dela, junto as mãos em forma de explicação.

— Escute com atenção, Margot. Você vai parar com essas crises. Vai parar de se intrometer na minha vida. E não vai falar com ela sem a minha presença. — Digo tentando não explodir. — Na verdade, você nunca mais falará com ela.

— Em meio as suas exigências ridículas, você se esqueceu que nós trabalhamos juntas. — Ela diz quase encostando seu rosto no meu, quando dá passos em minha direcção.

— Pois bem. — Respiro fundo. — Se não fizer isso, a menos que tenha de falar com ela em reunião, pode procurar outro emprego ou arrumar as malas e voltar a Los Angeles.

— Você não faria isso. — Ela diz e sorrio de forma fria.

— Pague para ver. — Dou-lhe as costas indo até a imensa janela. — Agora, saia daqui.

— E ainda diz que eu estou louca, quando falo que ainda sente alguma coisa. — Ela murmurra e fecha a porta, se retirando com os pés batendo fortemente contra o chão.

Respiro fundo uma, duas, três vezes. Fui duro com ela, talvez demais, no entanto merecia ouvir. O combinado era apenas trabalhar juntos, mas é claro que isso jamais daria certo.

Eu preciso beber. Enquanto coloco o Whisky no copo em vidro escuro, penso em cada palavra por mim proferida, um fiapo de culpa nascendo, no entanto, abano a cabeça para afastar tudo e volto ao início da manhã, antes de Margot. Pretendia convidar Kendra para jantar.

Será que ela aceitaria? Claro, ela me aceita mais agora e estamos bem, até me mandou um email com “precisamos conversar sobre alguns detalhes”. Na verdade, parece um problema, essas palavras são meio assustadoras.

Ryan, preciso falar com ele. Disco seu número no meu celular.

— Está sentindo minha falta? — Ele diz ao atender e reviro os olhos, uma gota de arrependimento me tomando.

— Ryan — Digo tentando interrompe-lo.

— Tenha calma, estou só despedindo aqui, em breve estarei aí — Seu tom fica manso.

— Preciso fazer uma pergunta. — Tomo o resto do whisky. E entendo seu silêncio como um “prossiga” — Eu quero levar a Kendra para sair.

— Quer a minha opinião ou a minha aceitação? — Pergunta e o oiço se contorcer do outro lado da linha.

— A primeira opção. — Digo num tom tranquilo. — Não quero estragar tudo.

— Imagino que já estejam bem, o assunto de Margot resolvido e… — Interrompo.

— Ela não é mais um problema. — Garanto rápido e Ryan acaba rindo.

— Você está brincando ou realmente acha isso? — Reviro os olhos. — Eu te avisei que era péssima ideia dar uma chance de convivência para Margot, ela é imatura e muito obcecada por ti.

— Tá bom. Talvez você tivesse razão e ela quis estar envolvida nisso apenas para me reconquistar. — Concordo — Mas acho que a coloquei nos eixos.

— Se você diz, tudo bem. — Diz por fim. — Um jantar é um bom começo.

— Vou leva-la a um lugar calmo — Afirmo — Assim poderemos conversar e poderemos dar o passo de nos conhecermos, se ela quiser.

— Tudo bem, é uma ideia válida. — Assinala — Procure saber o gosto musical dela, é com isso que conquista uma verdadeira musa.

Rio com isso, mas concordo refletindo sobre o significado dela. A música descreve com poesia o sentimento de uma pessoa, é declaração de amor contagiante e conecta corações.

— Darei um jeito nisso e... — começo a dizer, mas oiço outra pessoa bater na porta. Dou permissão para entrar.

— Sr. Luttrell, posso falar com... — Kendra.

— Lewis — A interrompo e assim que fecha a porta faz uma feição de ironia pra mim.

— Isso é desnecessário. — Afirma se aproximando com cautela, as mãos cruzadas na frente. — E eu vim justamente para falar sobre isso.

Peço um minuto e coloco o celular ao ouvido novamente. — Ryan, ligo mais tarde.

Encerro a Chamada.

— Oh, se está ocupado eu posso ignorar a ansiedade e voltar mais tarde. — Kendra diz rapidamente, se voltando para a porta. — Eu não quero atrapalhar.

— Está tudo bem. — A fixo — Não estava atrapalhando nada.

Com isso, sinto o silêncio percorrer a sala e percebo seu corpo tensionar em nervosismo.

— O seu cabelo está solto — Noto — Está diferente, mas igualmente bonita.

— Eu fico sem saber o que dizer com isso. — Ruboriza e caminha até em frente a minha mesa.

— Elogio? — Estreito o olhar.

— Bajulação. — Acabo rindo do seu jeito, ontem estava uma fera e hoje está toda ruborizada de vergonha, isso me dá a esperança das suas muralhas cederem.

Indico o sofá para que ela se sente. — Estou pronto para ouvi-la.

— Talvez devêssemos ter essa coisa que você tanto insiste.

Kendra mexe nos anéis em seus dedos, o nervosismo evidente.

— Penso o mesmo — Respondo rapidamente. Ela é a mulher mais linda que eu já vi, e sinto que precisamos um do outro.

— Rápido. Quer alimentar alguma fantasia de pegar a funcionária? — Seu olhar é afiado, embora o tom seja de gozo.

— Podemos fingir que não é o contrário — eu sorri. — Mas vejamos, eu te conheci fora do trabalho e te adorei da mesma forma, mal consigo pensar na possibilidade de nunca ter te encontrado, nem aqui na empresa e nem lá fora.

Ela me olha, a expressão pensativa, enquanto cruza as pernas e passa a mão sobre a roupa.

— Apenas para valorizar a tensão entre nós, vamos ser companheiros de transa.

— Você está dizendo que devemos ser amigos com benefícios? — Fico um pouco desapontado, porém não demonstro.

— Não. Não amigos. Somos colegas de trabalho, lembra? — Claro. Mas se fosse só isso, ela não estaria aqui, não é apenas sobre a tensão/química entre nós. De qualquer modo, eu a deixarei fingir, deixarei que ela tente manter a autopreservação que ela acha que tem. — Então, temos de estabelecer termos básicos.

— Você quer dizer regras?

Kendra assente com a cabeça.

— Sim. Regras para que possamos manter as coisas casuais.

Eu poderia manter algo casual. Eu era óptimo em casual, a noite que tive com Kendra prova isso. Eu não pensei exatamente nisso de colegas com benefícios, mas aparentemente é melhor do que nada. Eu poderia ficar sem uma namorada, além disso, eu preciso me manter ocupado com o trabalho e quem é melhor do que Kendra, que praticamente trabalha no mesmo escritório?

— Quais são as regras?

Ela ergueu o dedo indicador enquanto os contava.

— Primeiro, nada de dormir juntos. Fazemos o que deve ser feito e depois vamos embora.

Ainda lembro de acordar ao lado dela, após aquela noite, foi… interessante. Mas deu para perceber o quanto a intimidade a tinha assustado, principalmente por sermos estranhos. Então assinto. — O que mais?

— Segundo, nos veremos apenas nos dias ímpares da semana. — Entendi o que ela estava dizendo. Provavelmente partia do pressuposto em que se estivermos nos vendo todas as noites, havia risco de apego e aparentemente, esse é um dos seus medos. — Sem encontros. — Continuou e não evitei fazer uma careta para isso, e ela explicou. — Eu não estou procurando por um romance. Não tenho tempo para saídas, jantares e tudo o que envolve estar em um relacionamento.

Ao proferir tais coisas, parece que despertou alguma vergonha. Me incomodou um pouco, eu realmente queria algo mais, e mesmo que sejamos casuais, eu ainda quero cuidar dela, ser um cavalheiro e fazer todas as coisas por ela.

— Tudo bem. Falta algo mais?

Ela levantou o terceiro dedo.

— Não podemos ter encontros e nem dar abraços ou presentes. — Encarei ela que apertou os lábios em linha recta, antes de continuar. — Nada de sentimentos.

— Tudo bem. — Balanço a cabeça, incapaz de mostrar o melhor dos sorrisos, mas ainda assim, tento sorrir. Eu já ia convidá-la para jantar, mas já se— Não quer que eu faça um contrato?

— Isso não é uma má ideia, na verdade. — Sua expressão é pensativa, na mesma medida que divertida.

Dou uma risada.

— Não, isso é demais e eu ainda tenho esperança.

— É só para não confundirmos e ultrapassarmos as linhas. Não tenha esperança.

— As linhas estarão seguras — Me levantei — Afinal de contas todos os termos estão estabelecidos…

— Óptimo, já temos a regra final. — Kendra estreitou os olhos para mim.

— Bem, querida, apenas não se apaixone por mim. Essa é a regra final. — Minto, pois espero que ela se apaixone imediatamente, na verdade acho que já está a acontecer.

— Nunca. — Ela bufou. Em seguida levantou-se com certa audácia, pegou meu telefone na mesa e, depois que o desbloqueei com a minha identificação facial, ela digitou o seu número e enviou uma mensagem para si mesma, garantindo que tenha o meu contacto também. Logo dirigiu-se a porta.  — Até hoje a noite, te mando uma mensagem.

Como não havíamos trocado números antes? Já a tinha tentado muitas vezes, então a ideia de não ter o número dela até agora era estranha.

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Fatima Vieira

Fatima Vieira

ela é doida

2025-02-01

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