NOSSO VERÃO
Nick – Vamos terminar! Ele está cansado, não fisicamente, mas emocionalmente. Seu relacionamento vem se desgastando já faz um tempo e agora tomou uma decisão.
James – Não precisamos terminar. Venha comigo! Se você se transferir, podemos morar juntos e...
Nick – Não vou pedir transferência. Acabei de me estabelecer aqui e estou com muitos projetos em andamento. Gosto daqui, gosto da minha equipe...
James – Mas e eu? E nós? Eu te amo!
Nick – James, você tomou essa decisão sozinho e agora espera que eu largue toda minha vida aqui para te acompanhar? Não é justo!
James – Mas é uma oportunidade única. Essa bolsa me permitirá realizar o doutorado em uma das melhores instituições do mundo. Eu ia te contar, não esperava que o resultado saísse tão rápido.
Nick – Fico feliz por você, mas não vou largar tudo para seguir o seu sonho.
James – Mas não precisamos terminar. Podemos namorar a distância e quando você tiver um tempo, pode ir me encontrar ou...
Nick – Viu?! Você espera que eu te siga, espera que eu vá até você... Sempre foi assim...
James – Não foi isso que eu quis dizer. Vou ficar preso com a pesquisa e não terei tempo livre...
Nick – Por isso devemos terminar. Assim você pode se dedicar completamente a sua pesquisa...
James – Mas eu te amo!
Nick – Eu também te amo e é melhor terminarmos assim, enquanto ainda há um amor.
James – Nick?!
Nick – Me avisa quando marcar seu voo. Adeus.
Nick sai do apartamento de James. Não quer chorar, mas não consegue evitar. Pensou muito sobre isso. Ele sempre foi assim, sempre tomou decisões sem considerá-lo, fazendo-o se encaixar em seus planos. Foi assim com o apartamento, foi assim com as férias, foi assim com tudo. Nick sempre se encaixou nos planos, mas nunca participou deles. Sabe que essa oportunidade é única para o futuro de James e nunca se imporia a isso, mas ficar sabendo que seu namorado irá se mudar para outro país daqui uma semana, o pegou de surpresa. Ele sai para a rua, que está vazia por conta da chuva que cai. Não se importa de se molhar, acha até bem-vindo, pois mascara suas lágrimas. Andando devagar, perdido em seus pensamentos, Nick esbarra em um homem. Esse o ampara, pois quase cai.
Nick – Desculpe! Nick ergue o olhar para o homem que ainda o segura e se assusta. “Não é possível!” Ele se desvencilha do rapaz rapidamente e sai, primeiro andando, mas depois passa a correr. Depois de uns minutos correndo na chuva, consegue um táxi. O motorista resmunga sobre como ele está encharcado, mas não dá ouvidos, apenas passa o endereço de sua casa. Nick afunda no banco de trás do carro, envolto em um redemoinho de pensamentos e emoções. “Não era ele, não pode ser ele! Mas...” Ele não quer acreditar que acabou de esbarrar em sua primeira paixão. Ainda assim, aquele homem era idêntico a imagem que guardava de Max. “Não era ele, não tem como! Já se passaram o que, dez anos?! Nunca o vi desde então... Nick, você está vendo fantasmas!” Ele balança a cabeça em negativa e passa a olhar para fora. Outra coisa que o incomodava, o apartamento de James é tão longe de sua casa, mas ele o escolheu por ficar mais perto do Campus onde queria estudar... No fim, fica muito mais longe... Em outro país.
Nick chega em casa e entra no banho. Quer “lavar” o frio e os pensamentos. Entra embaixo da água quente, deixando-a cair por alguns minutos. Não consegue esquecer a imagem daquele homem com quem esbarrou mais cedo e as lembranças de sua juventude o estão inundando. “Agora não é hora!” Ele tenta se concentrar apenas no banho e na sensação de conforto que a água quente traz. Após um longo tempo, Nick sai do banho e vai até seu escritório. Abrindo o armário sem pensar, pega o estojo de violão que guardou há tantos anos. Acariciando-o, abre e encontra seu velho violão, ainda intacto, apenas com as marcas daquela época, que Nick fez tanto para esquecer. Olhando para seu antigo tesouro, o gira, encontrando rapidamente a mensagem que não queria mais ver “Para o sempre nós! M.” Nick acaricia as palavras e uma pontada de dor e arrependimento o invade. Ele posiciona o violão em seu colo e dedilha, verificando as velhas cordas. Após uma breve afinação, começa a tocar uma balada suave, que não ouvia há dez anos. Nick fica mais algum tempo assim, brincando com as cordas, relembrando algumas das canções que ajudou a compor. A ferida ainda está lá, ainda dói e hoje é dia de deixá-la doer.
Nick se deita, ali no chão do escritório, e coloca o violão de lado. Ainda perdido em pensamentos e lembranças, alcança o celular, que não parou de vibrar desde que saiu da casa de James. Na tela, várias mensagens do namorado, pedindo que reconsidere a decisão. Ele solta o celular e fecha os olhos. “Estou tão cansado!” Nick acorda com o som da campainha. Olha o visor do celular e percebe que adormeceu ali mesmo. Segue até a porta e a abre, após ver que era James, pelo sistema de segurança. O namorado o abraça, mas ele não corresponde, apenas fica ali, parado. Depois de um tempo, James o solta e ele segue até a sala de estar, sendo acompanhado pelo outro. Se jogando no sofá, Nick encara James, que está parado a sua frente, com um olhar triste e culpado.
James – Fiquei preocupado, você não me respondeu.
Nick – Apenas peguei no sono depois de chegar.
James – Eu te amo!
Nick não diz nada, se levanta e vai ao escritório, apanhando o celular. James o segue e ao ver o violão, o pega do chão. Nick está absorto nas mensagens em seu celular e não percebe que o namorado está observando seu antigo instrumento.
James – Quem é M?
Nick olha para James, que está empunhando o violão e aguardando a resposta. Ele pega o violão, guardando-o no estojo e, ainda sem dizer nada, o coloca no armário.
James – Então?! Quem é M?
Nick – O que você quer James?
James – Não fuja da minha pergunta.
Nick – Não estou fugindo. Apenas não respondi. Ele encara o parceiro por um tempo. – É um antigo amigo da época da escola. O que você quer James?
James – Não vou mais! Vou ficar aqui com você. Posso tentar uma vaga novamente aqui.
Nick – Não faça isso!
James – Mas quero ficar com você!
Nick – Por isso mesmo, não faça isso. Você se arrependerá depois. Não quero ser motivo para seu arrependimento.
James – Mas...
Nick – Eu sei, também te amo! E se isso não mudar, estarei aqui quando você voltar. Mas não vou seguir você e não vou deixá-lo desistir por minha causa. Nick segue para a cozinha e pega duas cervejas. Oferece uma para James, se sentando no sofá.
James – Por que você está sendo assim?
Nick – Porque um de nós precisa! Nick se exalta e leva as mãos ao rosto. – Estou cansado James...
James se ajoelha em frente a Nick e retira suas mãos do rosto. – Me desculpe! Desculpe por colocá-lo nessa situação. Fui egoísta.
Nick nega com a cabeça. – Não, você não foi egoísta. É uma oportunidade muito importante para você. É só que... Nick fica em silêncio. Não quer entrar novamente nesse assunto. Já tomou sua decisão e não voltará atrás. Não é como se já não tivesse feito isso antes...
James abraça Nick. Dessa vez Nick retribui. Eles ficam assim por um longo tempo. Nick está mais calmo e acredita que tomou a decisão certa.
Nick – Tem algumas coisas suas que eu acho que você precisará.
James – Não quero! Pode ficar.
Nick – James! Venha, vamos pegar as suas roupas...
James – Por que você quer fazer isso agora?
Nick – Porque será difícil dizer adeus novamente. Nick se levanta e James faz o mesmo, ainda segurando a mão do namorado. Eles seguem até o quarto, onde Nick começa a separar algumas roupas que estão no armário. James o observa, sentado na cama, ainda não acreditando na frieza com que Nick está lidando com o término. Nick coloca as peças separadas em uma pequena mala e entrega para James.
James – Você é tão frio!
Nick – Não sou frio, estou sendo pragmático. Nick se senta ao lado de James. – Eu já te disse, estou cansado. Estamos cansados. Essa situação é difícil, é dolorosa. Por que prolongá-la? Seja hoje ou semana que vem, precisamos fazer isso.
James olha ao redor, como se memorizasse o quarto onde dividiu tantos momentos com o namorado. Na cabeceira, tem uma foto do casal, que sempre gostou, mas não tem a cópia, agora se questiona o “por quê?”. – Posso ficar com a foto?
Nick olha em direção ao olhar de James e vê a foto em sua cabeceira. Eles tiraram essa foto em um dos primeiros encontros que tiveram, em um daqueles passeios que podem pagar para ter a lembrança eternizada. Nick olha com carinho para a imagem e imagina que deve estar sendo tão difícil para James, como está sendo para ele. Ele se levanta e anda até o porta-retrato, pegando-o da mesa. Voltando, entrega para James, que acaricia a imagem.
James – Fomos felizes, né?!
Nick pega a mão de James, que o encara. – Humm. Fomos felizes e, por isso, não quero que nosso futuro seja triste. Quero que você seja feliz, estudando, fazendo o que gosta. Depois disso, você saberá onde me encontrar.
James se levanta e o abraça mais uma vez. Pegando a mala e o porta-retrato, James sai, sem dizer mais nada. Nick se joga na cama, exausto demais, para qualquer coisa, até mesmo chorar.
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Atualizado até capítulo 41
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