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NOSSO VERÃO

CAPÍTULO I

Nick – Vamos terminar! Ele está cansado, não fisicamente, mas emocionalmente. Seu relacionamento vem se desgastando já faz um tempo e agora tomou uma decisão.

James – Não precisamos terminar. Venha comigo! Se você se transferir, podemos morar juntos e...

Nick – Não vou pedir transferência. Acabei de me estabelecer aqui e estou com muitos projetos em andamento. Gosto daqui, gosto da minha equipe...

James – Mas e eu? E nós? Eu te amo!

Nick – James, você tomou essa decisão sozinho e agora espera que eu largue toda minha vida aqui para te acompanhar? Não é justo!

James – Mas é uma oportunidade única. Essa bolsa me permitirá realizar o doutorado em uma das melhores instituições do mundo. Eu ia te contar, não esperava que o resultado saísse tão rápido.

Nick – Fico feliz por você, mas não vou largar tudo para seguir o seu sonho.

James – Mas não precisamos terminar. Podemos namorar a distância e quando você tiver um tempo, pode ir me encontrar ou...

Nick – Viu?! Você espera que eu te siga, espera que eu vá até você... Sempre foi assim...

James – Não foi isso que eu quis dizer. Vou ficar preso com a pesquisa e não terei tempo livre...

Nick – Por isso devemos terminar. Assim você pode se dedicar completamente a sua pesquisa...

James – Mas eu te amo!

Nick – Eu também te amo e é melhor terminarmos assim, enquanto ainda há um amor.

James – Nick?!

Nick – Me avisa quando marcar seu voo. Adeus.

Nick sai do apartamento de James. Não quer chorar, mas não consegue evitar. Pensou muito sobre isso. Ele sempre foi assim, sempre tomou decisões sem considerá-lo, fazendo-o se encaixar em seus planos. Foi assim com o apartamento, foi assim com as férias, foi assim com tudo. Nick sempre se encaixou nos planos, mas nunca participou deles. Sabe que essa oportunidade é única para o futuro de James e nunca se imporia a isso, mas ficar sabendo que seu namorado irá se mudar para outro país daqui uma semana, o pegou de surpresa. Ele sai para a rua, que está vazia por conta da chuva que cai. Não se importa de se molhar, acha até bem-vindo, pois mascara suas lágrimas. Andando devagar, perdido em seus pensamentos, Nick esbarra em um homem. Esse o ampara, pois quase cai.

Nick – Desculpe! Nick ergue o olhar para o homem que ainda o segura e se assusta. “Não é possível!” Ele se desvencilha do rapaz rapidamente e sai, primeiro andando, mas depois passa a correr. Depois de uns minutos correndo na chuva, consegue um táxi. O motorista resmunga sobre como ele está encharcado, mas não dá ouvidos, apenas passa o endereço de sua casa. Nick afunda no banco de trás do carro, envolto em um redemoinho de pensamentos e emoções. “Não era ele, não pode ser ele! Mas...” Ele não quer acreditar que acabou de esbarrar em sua primeira paixão. Ainda assim, aquele homem era idêntico a imagem que guardava de Max. “Não era ele, não tem como! Já se passaram o que, dez anos?! Nunca o vi desde então... Nick, você está vendo fantasmas!” Ele balança a cabeça em negativa e passa a olhar para fora. Outra coisa que o incomodava, o apartamento de James é tão longe de sua casa, mas ele o escolheu por ficar mais perto do Campus onde queria estudar... No fim, fica muito mais longe... Em outro país.

Nick chega em casa e entra no banho. Quer “lavar” o frio e os pensamentos. Entra embaixo da água quente, deixando-a cair por alguns minutos. Não consegue esquecer a imagem daquele homem com quem esbarrou mais cedo e as lembranças de sua juventude o estão inundando. “Agora não é hora!” Ele tenta se concentrar apenas no banho e na sensação de conforto que a água quente traz. Após um longo tempo, Nick sai do banho e vai até seu escritório. Abrindo o armário sem pensar, pega o estojo de violão que guardou há tantos anos. Acariciando-o, abre e encontra seu velho violão, ainda intacto, apenas com as marcas daquela época, que Nick fez tanto para esquecer. Olhando para seu antigo tesouro, o gira, encontrando rapidamente a mensagem que não queria mais ver “Para o sempre nós! M.” Nick acaricia as palavras e uma pontada de dor e arrependimento o invade. Ele posiciona o violão em seu colo e dedilha, verificando as velhas cordas. Após uma breve afinação, começa a tocar uma balada suave, que não ouvia há dez anos. Nick fica mais algum tempo assim, brincando com as cordas, relembrando algumas das canções que ajudou a compor. A ferida ainda está lá, ainda dói e hoje é dia de deixá-la doer.

Nick se deita, ali no chão do escritório, e coloca o violão de lado. Ainda perdido em pensamentos e lembranças, alcança o celular, que não parou de vibrar desde que saiu da casa de James. Na tela, várias mensagens do namorado, pedindo que reconsidere a decisão. Ele solta o celular e fecha os olhos. “Estou tão cansado!” Nick acorda com o som da campainha. Olha o visor do celular e percebe que adormeceu ali mesmo. Segue até a porta e a abre, após ver que era James, pelo sistema de segurança. O namorado o abraça, mas ele não corresponde, apenas fica ali, parado. Depois de um tempo, James o solta e ele segue até a sala de estar, sendo acompanhado pelo outro. Se jogando no sofá, Nick encara James, que está parado a sua frente, com um olhar triste e culpado.

James – Fiquei preocupado, você não me respondeu.

Nick – Apenas peguei no sono depois de chegar.

James – Eu te amo!

Nick não diz nada, se levanta e vai ao escritório, apanhando o celular. James o segue e ao ver o violão, o pega do chão. Nick está absorto nas mensagens em seu celular e não percebe que o namorado está observando seu antigo instrumento.

James – Quem é M?

Nick olha para James, que está empunhando o violão e aguardando a resposta. Ele pega o violão, guardando-o no estojo e, ainda sem dizer nada, o coloca no armário.

James – Então?! Quem é M?

Nick – O que você quer James?

James – Não fuja da minha pergunta.

Nick – Não estou fugindo. Apenas não respondi. Ele encara o parceiro por um tempo. – É um antigo amigo da época da escola. O que você quer James?

James – Não vou mais! Vou ficar aqui com você. Posso tentar uma vaga novamente aqui.

Nick – Não faça isso!

James – Mas quero ficar com você!

Nick – Por isso mesmo, não faça isso. Você se arrependerá depois. Não quero ser motivo para seu arrependimento.

James – Mas...

Nick – Eu sei, também te amo! E se isso não mudar, estarei aqui quando você voltar. Mas não vou seguir você e não vou deixá-lo desistir por minha causa. Nick segue para a cozinha e pega duas cervejas. Oferece uma para James, se sentando no sofá.

James – Por que você está sendo assim?

Nick – Porque um de nós precisa! Nick se exalta e leva as mãos ao rosto. – Estou cansado James...

James se ajoelha em frente a Nick e retira suas mãos do rosto. – Me desculpe! Desculpe por colocá-lo nessa situação. Fui egoísta.

Nick nega com a cabeça. – Não, você não foi egoísta. É uma oportunidade muito importante para você. É só que... Nick fica em silêncio. Não quer entrar novamente nesse assunto. Já tomou sua decisão e não voltará atrás. Não é como se já não tivesse feito isso antes...

James abraça Nick. Dessa vez Nick retribui. Eles ficam assim por um longo tempo. Nick está mais calmo e acredita que tomou a decisão certa.

Nick – Tem algumas coisas suas que eu acho que você precisará.

James – Não quero! Pode ficar.

Nick – James! Venha, vamos pegar as suas roupas...

James – Por que você quer fazer isso agora?

Nick – Porque será difícil dizer adeus novamente. Nick se levanta e James faz o mesmo, ainda segurando a mão do namorado. Eles seguem até o quarto, onde Nick começa a separar algumas roupas que estão no armário. James o observa, sentado na cama, ainda não acreditando na frieza com que Nick está lidando com o término. Nick coloca as peças separadas em uma pequena mala e entrega para James.

James – Você é tão frio!

Nick – Não sou frio, estou sendo pragmático. Nick se senta ao lado de James. – Eu já te disse, estou cansado. Estamos cansados. Essa situação é difícil, é dolorosa. Por que prolongá-la? Seja hoje ou semana que vem, precisamos fazer isso.

James olha ao redor, como se memorizasse o quarto onde dividiu tantos momentos com o namorado. Na cabeceira, tem uma foto do casal, que sempre gostou, mas não tem a cópia, agora se questiona o “por quê?”. – Posso ficar com a foto?

Nick olha em direção ao olhar de James e vê a foto em sua cabeceira. Eles tiraram essa foto em um dos primeiros encontros que tiveram, em um daqueles passeios que podem pagar para ter a lembrança eternizada. Nick olha com carinho para a imagem e imagina que deve estar sendo tão difícil para James, como está sendo para ele. Ele se levanta e anda até o porta-retrato, pegando-o da mesa. Voltando, entrega para James, que acaricia a imagem.

James – Fomos felizes, né?!

Nick pega a mão de James, que o encara. – Humm. Fomos felizes e, por isso, não quero que nosso futuro seja triste. Quero que você seja feliz, estudando, fazendo o que gosta. Depois disso, você saberá onde me encontrar.

James se levanta e o abraça mais uma vez. Pegando a mala e o porta-retrato, James sai, sem dizer mais nada. Nick se joga na cama, exausto demais, para qualquer coisa, até mesmo chorar.

CAPÍTULO II

Nick acorda e se prepara para ir ao escritório. Ainda está abalado pelo término, mas quer focar no trabalho, assim será mais fácil. Desde aquele dia, não falou mais com James, nem por mensagem. O fim de semana foi torturante, mas precisava lidar com as coisas que seu namorado deixou para traz. “Foi melhor assim. Arrancar o band-aid de uma vez!” Empacotou tudo que era de James e algumas coisas que o lembravam, guardando no closet. “Talvez um dia eu devolva.” Um tempo depois, chega ao escritório e é recebido por Kate, que o avisa sobre a presença do freelancer de fotografia.

Kate – O fotógrafo freelancer para a campanha de perfumes já chegou. Ele está aguardando na sala de reuniões.

Nick – Tudo bem. Só vou passar no meu escritório antes, para pegar o portfólio do projeto. Verifique se ele precisa de algo e sirva água e café, por favor.

Kate – Ok.

A assistente segue para a copa e Nick entra em seu escritório. Não esperava se atrasar tanto, mas acabou saindo mais tarde de casa e pegou trânsito no trajeto “deveria ter aprendido a andar de moto”.  Alcança o portfólio em sua mesa e dá uma folheada. “Estamos com tantas campanhas que foi preciso contratar um fotógrafo de fora. Espero que a indicação do Luke seja boa!” Luke é um designer do escritório e amigo de Nick. Ele indicou o fotógrafo, com quem já trabalhou em outras oportunidades. Nick havia aprovado algumas fotos que o amigo lhe mostrou e pediu que esse agendasse a reunião.

Chegando à porta da sala onde o fotógrafo o aguardava, encontra Kate conversando e rindo com um homem, que estava de costas. À primeira vista, ele aparentava ser jovem, com o corpo bem torneado, visto por trás. Estava trajando calças jeans e uma jaqueta preta de motoqueiro, o cabelo negro e longo, parte preso em um coque estilo samurai, parte solto, caindo em suaves ondas pelas costas. Quando o rapaz se mexeu, pôde ver parte de uma tatuagem em seu antebraço. Nick entra na sala e caminha até a dupla. Kate o saúda, sorrindo e o homem se vira para cumprimentá-lo. Nick se choca ao encarar o rapaz, Max está ali, parado a sua frente. Depois de dez anos, ele não mudou nada, a não ser pelo cabelo mais comprido e as tatuagens. Max estende a mão para Nick.

Max – Olá! Sou Max. Luke me indicou como fotógrafo.

“O quê?! Ele não me reconheceu? Mudei tanto assim?” – Prazer, Nicholas. Pode me chamar de Nick. Vamos nos sentar. Kate, por favor, anote os recados e direcione as ligações urgentes para a Rafa.  Kate assente e retira-se, se despedindo do rapaz. Encarando o homem a sua frente por alguns momentos, ainda não acreditando que ele não o reconheceu, Nick lhe oferece o portfólio. “Melhor assim!”

Nick – Esse é o portfólio da campanha, temos a história e alguns esboços do que pensamos para as imagens. Gostaríamos de tomadas internas e externas.

Max pega a pasta e passa a observá-la, sem olhar para Nick. Após um tempo folheando o portfólio e se inteirando das informações do projeto ele olha para Nick. – Qual o prazo?

Nick – Estamos com uma certa urgência, esse projeto é especial. Duas semanas.

Max – Apertado. Nick o observa, enquanto Max folheia mais uma vez as páginas em suas mãos. – Mas dá pra fazer. Vou encaixar na minha agenda.

Nick – Obrigado! Quanto aos modelos e à locação, já está tudo preparado, só aguardando a confirmação da data.

Max – Podemos marcar ainda para essa semana. Olhando o celular, Max sorri e olha para Nick. – Que tal iniciarmos com as sessões internas na quinta? Podemos marcar as 09:00 horas?

Nick sentiu uma pontada de dor e saudade quando o viu sorrindo. O mesmo sorriso de sua juventude, que tantas vezes o fez perder o ar. Nick se recompõe rapidamente e sustenta o olhar de Max. – Podemos fazer. Saindo daqui, vou programar tudo. É possível que minha colega acompanhe o set, pois tenho um compromisso com um de meus clientes nessa quinta. “O que foi isso? Ele pareceu... desapontado?”

Max volta a sorrir e assente com a cabeça.  – Tudo bem! Já liberei minha agenda. Acredito que finalizamos no dia as tomadas internas, se pudermos estender um pouco o horário, caso seja necessário. Quanto as tomadas externas, podemos iniciar na segunda? Vou liberar minha agenda a semana toda, assim não corremos o risco em relação ao tempo e podemos corrigir algo, se necessário.

Nick – Ótimo! Obrigado pela ajuda.

Max – Serei bem pago! Max ri e dá uma piscada. Mais uma pontada funda em Nick. “Por que está me afetando tanto? Deve ser por que estou sensível.”

Nick – Vou providenciar tudo.

Max – Mas... Em relação aos locais externos, vendo seu storytelling, tenho algumas sugestões que podemos incluir. Acho que tenho algumas fotos inclusive.

Nick – Você pode me encaminhar os endereços e as fotos. Todas as sugestões são bem-vindas e seu olhar pode ser um diferencial. Obrigado!

Max sorri e se levanta. – Bem, preciso ir, tenho outro compromisso em seguida.

Nick – Claro! Mais uma vez obrigado. Kate te encaminhará o contrato e as confirmações sobre as datas e locais. Vou te acompanhar até a saída. Fazendo um gesto para que Max vá na frente, Nick o segue, até o elevador. – Até mais. Max acena e sorri, entrando no elevador.

Nick volta imediatamente para sua sala, sem responder a Luke que o chamava. Se joga em sua cadeira e fecha os olhos. O amigo o segue, entrando em seguida.

Luke – Nick, você não me ouviu te chamando?

Nick – O quê?! Afastando seus pensamentos, Nick olha para o amigo. – Desculpe, não ouvi.

Luke – O que está acontecendo com você hoje? Você está com cara de quem viu um fantasma.

Nick – E vi.

Luke – Hãmm?!

Nick – Nada. O que você quer?

Luke – Preciso que você dê uma olhada nas fotos dessa campanha. Precisamos aprovar para seguir com o lançamento. Ele entrega uma pasta para Nick, que a coloca na mesa. – Cara, o que foi? Você está muito estranho.

Nick – Não foi nada. Daqui a pouco dou uma olhada. Só preciso de alguns minutos.

Luke – falou com James?

Nick – Não.

Luke – Ele viaja amanhã, né? Nick assente com a cabeça. – Você vai até o aeroporto se despedir?

Nick – Não. Já nos despedimos. Nick está sentado em sua cadeira, com os olhos fechados e a cabeça apoiada. Luke observa o amigo e percebe que não é o momento. Sem dizer mais nada, sai da sala, fechando a porta atrás dele.

“Pelo menos ele se tocou!” Nick se levanta e vai até a janela. “O que está acontecendo? Por que ele foi aparecer logo agora? James está indo embora e Max reaparece. Vou enlouquecer!” Balançando a cabeça em negação, tentando dissipar aqueles pensamentos, ele volta à mesa e pega a pasta que Luke trouxe a pouco. “O remédio é trabalhar!” Passa a analisar as fotos da campanha do amigo. “Isso ficou bom. Essas fotos ficaram muito boas.” Nick se levanta e vai a sala de seu amigo, com as fotos na mão.

Luke – O quê?

Nick – Ficaram muito boas! Foi a Elle quem tirou?

Luke sorri para o entusiasmo do amigo. – Não, foi o Max, aquele fotógrafo que te recomendei. Por falar nisso, ele veio? Como foi a reunião?

Nick – Correu tudo bem. Ele vai me passar algumas ideias de locação externa e iniciar na quinta com as internas.

Luke – Sabia que vocês se dariam bem. Ele é excelente profissional e um cara ótimo. Sabia que além da fotografia, ele também toca em uma banda? Já assisti alguns shows dele, é ótimo. Além dos covers, eles tocam músicas próprias também. Você deveria me acompanhar na próxima vez.

Nick está chocado com o fato de que Max continua tocando. Mas lembrando da paixão dele pela música, não seria diferente. – Vamos marcar. Aqui! Acho que você deve seguir com essas fotos. Nick dá um breve aceno para o colega e sai de sua sala. De volta ao seu escritório, ele passa a trabalhar na campanha da linha de perfume. Com a fotografia resolvida, precisa agora desenvolver a parte do marketing em vídeo. Kate entra no escritório e Nick aproveita para questionar se ela conseguiu agendar as filmagens.

Kate – Sim. Conseguimos uma brecha na agenda do diretor e as filmagens estão previstas para iniciarem no final da semana que vem.

Nick – Teremos que reagendar. Max concordou em fotografar a campanha e conseguiu reservar a semana que vem em sua agenda. Como as fotos são a prioridade, vamos

reagendar as filmagens para que iniciem na semana seguinte.

Kate – Tudo bem. Já temos a reserva das próximas duas semanas para a filmagem, de qualquer forma.

Nick – Ótimo. Por gentileza, envie o contrato de trabalho para o Max, Luke já deve ter um pronto, pois já trabalhou com ele. Assim será mais fácil para você redigir. Também encaminhe os dados dos modelos e os endereços das locações. Ele ficou de encaminhar algumas fotos e endereços de algumas locações que possam nos interessar. Assim que receber, me encaminhe, por favor.

Kate anota as ordens de Nick e assente. – Bonitão esse fotógrafo né?! Amei o visual dele, meio motoqueiro, meio rock 'n' roll. Kate suspira.

Nick – Ele é tudo isso.

Kate – Como assim?

Nick percebe que falou em voz alta. – Parece que ele toca em uma banda, pelo que Luke me disse. Além disso, a jaqueta dele era de motoqueiro, provavelmente por isso, você associou.

Kate – Ahh! Que demais!

Nick observa sua assistente sonhando acordada, pensando em sua antiga paixão. Uma pontada de ciúmes invade ele, como sempre acontecia no passado. Fica incomodado, não sentia isso há muito tempo. “Estou muito emotivo. A nostalgia está me fazendo confundir as coisas. Não tenho por que sentir ciúmes, como antigamente.” Nick olha mais uma vez para sua assistente, que ainda está sorrindo. – Parece que você gostou mesmo do que viu. Kate ruboriza com o comentário de Nick.

Kate – Não é isso, é que ele parece diferente. Estou acostumada a ver mulheres e homens lindos o tempo todo desfilando por aqui, mas ele parece ter algo a mais.

“Você nem imagina!” Nick sorri para aquele pensamento. – Tem alguma coisa na minha agenda agora a tarde?

Kate – Reservei sua tarde para a mostra do figurino dessa campanha. No mais, está livre.

Nick – Por favor, remarque a apresentação do figurino, se conseguir, pode ser amanhã. Surgiu um compromisso agora e vou trabalhar o resto do dia na minha casa. Se precisar de qualquer coisa, me ligue.

Kate – Ok. Vou remarcar e te confirmo. Precisa de ajuda com mais alguma coisa?

Nick – Não. E não quero que você fique até mais tarde. Dando seu horário, vá pra casa.

Kate assente e se retira. Nick está sem condições de trabalhar. Quer dar uma volta e esfriar a cabeça. “Quem sabe assim consigo me concentrar mais tarde?!” Ele pega suas coisas e sai, aproveitando o tempo bom para pegar um pouco de ar fresco.

CAPÍTULO III

O clima está gostoso, o sol está quente, mas não está fazendo muito calor. É início de primavera e tem chovido mais ultimamente. Nick observa as flores desabrochando e o verde das folhas. Sempre gostou da primavera, que antecede sua estação favorita. Sempre gostou do calor e da alegria que o verão trazia. Agora, relembrando de algumas memórias de seu passado, se recorda que foi em um desses verões que o viu pela primeira vez.

Se lembra que estava a caminho do mercado, de bicicleta, quando a corrente estourou. Irritado por não conseguir colocar a corrente no lugar, jogou a bicicleta no chão. Foi então que um rapaz alto, moreno, de cabelos longos, presos em um rabo de cavalo e boné, olhos cor de mel e boca carnuda, parou a sua frente oferecendo ajuda. Ainda se recorda de como ele estava vestido: regata preta com a logo do Metallica estampada, calça jeans surrada e rasgada nos joelhos e uma camisa vermelha xadrez, presa na cintura. Completando seu visual, duas argolas na orelha direita e uma corrente prata no pescoço, com um pingente em forma de palheta.  Aquele rapaz era novo na vizinhança e aparentava ter sua idade, um ou dois anos mais velho, talvez.

Max – A corrente estourou?

Nick – Humm. Já é a terceira vez.

Max – Traz aqui, vamos tentar dar um jeito. Dizendo isso, segue até a garagem da casa vizinha e pega uma caixa de ferramentas. – Vamos lá! Prometo que não sou péssimo com ferramentas.

Nick levanta a bicicleta e vai até o rapaz. – Você mora aqui?

Max olha para Nick e sorri – Sim, nos mudamos a pouco tempo. Acho que está fazendo uma semana, talvez?!

Nick observa aquele rapaz e fica encantado pelo sorriso e pelo jeito “descolado” dele. Max pegou algumas ferramentas e passou a consertar a corrente danificada. Após alguns minutos, estava movimentando o pedal e girando a roda traseira. A corrente estava alinhada novamente.

Max – Agora só falta uma coisa. Voltando à caixa de ferramentas, Max pega um pequeno frasco que parece ser óleo lubrificante. Girando a corrente, espalha o óleo por ela, lambuzando-a. – Pronto! Como nova!

Nick – Valeu mesmo cara! Desculpe, sou o Nick a propósito. Nick estende a mão para cumprimentá-lo.

Max – Pode me chamar de Max! Ele olha para a mão estendida de Nick e olha para suas mãos sujas de óleo. Sorrindo, limpa as mãos nas calças e pega a mão do rapaz a sua frente. – Muito prazer!

Nick ri do gesto do rapaz e Max ri junto. – Como posso te pagar?

Max – Relaxa cara, isso não foi nada!

Nick – Venha! Vou te pagar um sorvete.

Max – Prefiro uma cerveja, mas pode ser um sorvete.

Nick ruboriza. Nem passou por sua cabeça que Max já tenha idade para beber. Apesar de ele não ter completado dezoito anos ainda, já bebeu cerveja várias vezes, mas não em público e não durante o dia. – Foi mal cara, ainda não posso beber. Mas pago a cerveja, se você a comprar.

Max ri e segura o ombro do novo amigo. – Passo. Acho que me deu vontade de tomar sorvete de chocolate. Vamos?

Nick balança a cabeça sorrindo e pega a bicicleta. Os dois seguem pela rua, até a sorveteria. Pouco tempo depois, Nick sai empunhando dois picolés, um de chocolate, que oferece a Max e outro de limão, para si. Os rapazes ficam ali, sentados na calçada, conversando e aproveitando os sorvetes. Max conta que ele e sua família se mudaram recentemente por conta do trabalho de seu pai. Também conta que se matriculou para cursar o último ano do secundário no próximo ano.

Max – Por conta das constantes mudanças, por causa do trabalho do meu pai, eu acabei perdendo um ano, quando estava na sétima série. Então, ainda preciso terminar a escola.

Nick – Pode ser que sejamos colegas de classe. Vou cursar o último ano também.

Max – Seria bom! Max encara Nick. Esse cora, com a intensidade do olhar do colega.  Max desvia o olhar, continuando a contar sobre ele. – Agora estou atrás de pessoas para montar minha banda. Já tenho a baterista. Estamos conversando com uma garota que toca baixo e aí já está quase montada. Mas ainda estou atrás do vocal.

Nick – Você não é o vocalista?

Max – Eu até canto, mas sou o guitarrista. Quero encontrar alguém que assuma os vocais. Não acho minha voz boa o suficiente.

Nick – Qual o estilo?

Max sorri – Rock. Basicamente hardcore, mas posso tocar outras coisas. O que eu quero mesmo é ter a oportunidade de compor e tocar minhas próprias músicas.

Nick está cada vez mais interessado naquele rapaz. Quer saber mais sobre ele. – Tudo bem para seus pais, você ter uma banda?

Max – Sim. Na verdade, eles me incentivam. Meu pai me deu meu primeiro violão aos oito anos e minha primeira guitarra quando eu tinha onze. Desde então não parei de tocar.

Nick – Sempre quis aprender a tocar violão. Mas nunca fui disciplinado o suficiente.

Max – Posso te ensinar.

Nick – Sério mesmo?

Max– Claro! Vamos aproveitar que estamos de férias. Será mais fácil. Venha pra minha casa amanhã à tarde. A Maya vai aparecer para ensaiarmos, assim você acompanha nosso ensaio e eu te ensino depois. O que acha?

Nick – Cara, sério mesmo? Posso ir?

Max ri da reação do amigo. – Vou te esperar. A Maya vai chegar por volta das duas da tarde. Então aparece lá por volta desse horário.

Nick – Aqui! Me passa seu número. Max pega o celular da mão de Nick e anota seu telefone.

Max – Eu preciso ir agora. Tenho que ajudar meu pai a montar alguns móveis que faltam.

Nick fica desapontado. – Ah claro! Obrigado pela ajuda com a bike.

Max acena positivamente com a cabeça e se vira, voltando pelo caminho que fizeram. Nick vai ao mercado, como tinha programado antes e retorna para casa. No caminho de volta dá uma espiada na casa de Max, mas não o vê. “Amanhã eu volto.”

No dia seguinte, Nick caça em suas coisas, sua antiga camisa do Queen, faz tempo que não a usa. Depois de achá-la no fundo de uma das gavetas, a veste, completando seu “look rockeiro” com uma calça jeans e seu All Star preto. Ajeitando o cabelo para trás, pega seu violão e sai para sala. Sua mãe pergunta aonde ele vai tão arrumado e ele explica que começará a ter aulas de violão.

Mãe – Pensei que tinha desistido de aprender.

Nick – Fiz um amigo que tem uma banda. Ele toca guitarra e violão e vai me dar aulas agora nas férias.

Sua mãe assente e volta para cozinha. Ele se despede, dizendo que não tem hora para voltar. Segue para a casa de Max, mas está apreensivo. “Será que não vou atrapalhar? Acho que ele só estava sendo legal.” Nick pensa em voltar e mandar uma mensagem com alguma desculpa, mas encontra Max, que estava voltando para casa.

Max – Aí está você. Foi bom te encontrar, assim você me ajuda a montar a bateria.

Nick acompanha Max até a garagem dele, onde encontram várias peças de uma bateria no chão. Além da bateria, havia duas guitarras, um violão e alguns amplificadores no local. A garagem foi adaptada em um pequeno estúdio. Ele posiciona seu violão perto dos outros instrumentos e passa a olhar as peças no chão.

Max – Pronto para me ajudar?

Nick – Nunca fiz isso.

Max – Não se preocupe, eu sou um ótimo professor. Dizendo isso, Max sorri maliciosamente e pega os pedestais. Nick cora com a malícia de Max, com um breve pensamento que não era sobre instrumentos. Voltando a se concentrar, ele presta atenção às instruções do amigo, auxiliando na montagem da bateria. Em pouco tempo eles terminam e Max testa o instrumento. – Parece ok, vamos ver o que a Maya acha. Max então pega uma de suas guitarras e dedilha por alguns instantes, passando a afiná-la. Nick se senta em uma poltrona que está no canto da garagem, assistindo os movimentos do amigo. Max parecia ainda mais incrível, naquele jeans rasgado, camisa da Janis e a guitarra em seu colo. Ele percebe que está sendo observado e sorri, passando a mão pelos cabelos, que estão soltos hoje. Nick perde o fôlego por alguns instantes “ele é lindo!”. Se recompondo rapidamente, Nick passa a olhar os amplificadores que estão próximos de onde Max está sentado, mas não olha para esse.

Max – Quer tomar alguma coisa enquanto esperamos a Maya chegar?

Maya – Acabei de ouvir meu nome? Maya abraça Max e dá um beijo estalado em sua bochecha. – Você já montou meu bebê!

Max – Já! Deixamos ela pronta pra você. Faz o teste, vê se está bom assim?

Maya corre para sua bateria e começa a tocá-la. Após um breve solo, ela larga as baquetas e Max ri. Nick não se contém e bate palmas, fazendo os dois rirem.

Max – Gostou tanto assim?

Nick – Ela é foda!

Max – Você não viu nada!

Maya voltando-se para Max – Gostei dele!

Max – Maya esse é o Nick, um novo amigo e meu pupilo. Nick essa é a nossa baterista maravilhosa, Maya.

Nick – Prazer em te conhecer.

Maya – O prazer é meu. Se aproximando do rapaz, Maya toca no símbolo de sua camiseta. – Bom gosto. Nick olha para baixo, onde a mão de Maya está tocando. Max se aproxima e retira a mão de Maya do abdômen de Nick, não sem antes tocá-lo com as pontas dos dedos. Nick sente esquentar onde Max tocou e mais uma vez ruboriza. Escondendo-se, passa a observar a outra guitarra do amigo.

Max – Você não tem jeito Maya. Rindo, puxa a amiga e entrega algumas partituras para ela. – Nick, você acabou sendo interrompido pela chegada estrondosa da Maya, quer algo para beber?

Nick – Pode ser!

Maya – Traz algumas cervejas!

Max – Nada de cerveja antes do ensaio terminar. Ainda não me esqueci da última vez. Maya se abaixa e ergue os braços em tom de rendimento.

Maya – Foi mal.

Max ri. – Já volto.

Maya se aproxima de Nick. – Então como foi que você conheceu nosso guitarrista mal-humorado?

Nick – Ele me ajudou com a corrente da minha bicicleta, que havia quebrado aqui perto. Começamos a conversar e ele se ofereceu para me ensinar a tocar violão.

Maya sorriu. – Você está em boas mãos. Ele é um bom professor e toca muito bem. Nick sorri para Maya. Max retorna com uma garrafa de refrigerante, copos e gelo.

Max – Aqui, sirvam-se. Maya, vamos começar?

Maya – Bora! Ahh, a Andie vai passar aqui amanhã, para fazer um teste.

Max – A baixista? Maya assentiu com a cabeça, tomando um gole do refrigerante. – Boa! Max levanta a mão e Maya bate, rindo.

Maya – Vamos começar!

A dupla se posiciona e começa a tocar. Eles começam por “Wanted Dead Or Alive” do Bon Jovi e logo Nick começa a cantarolar, acompanhando a batida. A dupla se entreolha e continua com a canção, observando Nick cantando. Assim que começa a segunda parte da música, Nick se empolga e aumenta o tom da voz, agora acompanhando os acordes da guitarra. Ao fim da música, Max e Maya soltam um grito e Nick se assusta, sem entender nada.

Maya – Achamos! Max concorda com a cabeça, indo até Nick.

Max – Você sabe outras canções dessa lista? Max mostra o checklist de canções que eles vão ensaiar.

Nick – Praticamente todas. Minha mãe sempre ouviu rock dos anos 70 e anos 80 em casa. Cresci ouvindo essas músicas.

Max agarra os braços de Nick e dá um beijo em sua bochecha. Automaticamente Nick sente seu rosto esquentar e encara o amigo sem entender nada.

Max – Venha, cante com a gente.

Nick – Mas eu não sei cantar.

Maya – É só fazer o que acabou de fazer. A letra que você não conhecer, avisa que a gente pula.

Nick fica tímido, mas assente com a cabeça. – Posso ficar aqui mesmo?

Max olha para Maya e confirma com a cabeça. – Claro! Fique onde se sentir mais confortável. Aqui, eu tenho as letras. Nick pega as folhas da mão de Max e dá uma olhada, então assente mais uma vez. – Vamos começar!

Eles começam a tocar a próxima música e Nick acompanha, fazendo o vocal como acha que tem que ser.  Ele está com vergonha, mas não quis negar o pedido de Max. Depois de umas três músicas, eles fazem uma pausa.

Max – Cara você canta muito! Você tem que ser nosso vocalista!

Nick – Para com isso! Tenho certeza de que vocês vão encontrar alguém certo.

Maya – Já encontramos. Só ensaia com a gente, por favor! Eu te ajudo com as letras, se precisar.

Max – Eu também.

Nick – Mas eu não quero atrapalhar vocês.

Max – Não vai. Vamos fazer assim, você ensaia com a gente em troca das aulas de violão.

Nick bebe mais um pouco de refrigerante, enquanto seus novos amigos o encaram, aguardando a resposta. Nick vê no olhar de Max que ele realmente quer isso. – Tá bom! Eu ensaio com vocês. Só me passa a lista das músicas antes de começar os ensaios.

Max e Maya comemoram e assentem com a cabeça. Então eles voltam as suas posições, para continuarem com o ensaio. A tarde passa rápido, entre uma música e outra. Nick acabou se divertindo, bancando o vocalista e se soltou, sendo acompanhado por Max em alguns duetos. Ao fim do ensaio, Maya dá um abraço em Nick e se despede de Max. Max guarda sua guitarra e os amplificadores.

Max – Vamos! Agora é a hora da sua aula.

Nick – Você não está cansado? Podemos deixar pra outro dia.

Max – Que nada! Max pega o estojo de violão de Nick e sua mão. – Venha, vai ser mais confortável no meu quarto.

Nick retorna da viagem ao seu passado, quando seu telefone toca. Olha para a tela e vê que Kate está te ligando. Ele suspira e atende o telefone. – Oii!

Kate – Nick, eu já finalizei as demandas do dia, inclusive já te encaminhei as fotos que Max enviou. Surgiu um imprevisto em casa e queria saber se você pode me liberar mais cedo hoje.

Nick – Claro, pode ir!

Kate – Ahh, consegui remarcar a prova do figurino para amanhã às nove. Obrigada! Eu vou indo então.

Nick – Ok! Obrigado. Nick encerra a ligação e suspira mais uma vez. “Por que fui lembrar dessas coisas?” Sacudindo a cabeça em negação, para afastar esses pensamentos, chama um carro. “Vamos pra casa que é o melhor a se fazer.”

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