CAPÍTULO XX

Max está atordoado. Nick acabara de dizer que também gostava dele, mas que não ficariam juntos. Ele fica em silêncio, esperando que Nick continue.

Nick – Eu te disse antes que meu relacionamento acabou a poucos dias e que eu ainda o amo. Eu gosto dos dois, eu amo os dois. Isso é demais agora. Nick encara Max, que prefere continuar em silêncio, acredita que Nick tem mais a dizer. – Eu preciso de um tempo para entender melhor esses sentimentos. Eu me sinto culpado. Nick cobre o rosto com as mãos e Max o abraça. Depois de um tempo Nick se afasta, olhando para Max.

Max – Não se preocupe, não o forçarei a nada. Não tenho nenhum direito aqui e não quero que se magoe ainda mais.

Nick – Não estou preocupado. Você sempre foi assim, sempre se importou com os outros.

Max – Vou entender se você me substituir.

Nick – Como assim?

Max – A campanha. Eu entendo se você se sentir mais confortável com outro fotógrafo.

Nick – Ficou maluco?! É capaz de eu apanhar da equipe se te substituir. Nick ri e Max o encara. Ainda sorrindo, Nick acaricia o rosto de Max, que parece muito confuso. – Eu disse que não podemos ficar juntos, mas isso não quer dizer que não podemos nos ver. Eu preciso colocar meus sentimentos no lugar. Preciso lidar com o término do meu namoro e preciso entender o que sinto por você. Então não vamos ficar juntos, mas quero continuar trabalhando com você. Quero poder conversar com você, como antigamente. Quer dizer, isso se você também quiser.

Max não responde e se levanta, ele anda pelo estúdio, tentando organizar seus pensamentos. Nick o observa, mas também não diz nada. Max vai até sua mesa e pega um porta-retrato. Olhando para a foto, volta a se sentar ao lado de Nick.

Max – Foi por causa dessa foto que eu decidi me tornar fotógrafo. Ele entrega a foto para Nick. É uma foto de paisagem, um vale abaixo e o céu acima. Nick observa por um tempo aquela imagem, até reconhecer como o local onde foram acampar. Ele encara Max, que continua. – Essa foi a primeira foto que tirei que realmente tem um significado. Naquela época eu não sabia como me expressar e tinha muito medo de te perder. Não queria deixar de ser seu amigo, de estar ao seu lado. Mas as coisas não saíram como o esperado e nos afastamos. Foi o período mais difícil pra mim, tirando quando você sumiu. Eu não sabia como me aproximar de você, de voltar a sermos o que éramos, depois de ter te magoado. Me afastei porque achei que seria o melhor para você, mesmo que fosse terrível pra mim.

Nick olha a foto. – Não foi sua culpa, foi minha. Eu queria, eu queria tanto você, que quando aconteceu eu me assustei. Fiquei com medo de te perder, por isso recuei. Quando você se afastou, eu aceitei, afinal eu tinha te parado e te machucado. Eu também não soube como me aproximar de você e senti muito sua falta.

Max olha para Nick, que está encarando a foto em suas mãos. – Eu não vou me afastar de você. Quero te ter na minha vida, nem que seja como um colega de trabalho. Só quero te ver bem. Nick o encara. Max está sereno, certo de suas palavras. Sabe que será doloroso não estar com Nick, mas não o ver é mais doloroso.

Nick continua o encarando, algumas lágrimas rolando por seu rosto. – Você não imagina quantas vezes pensei “e se...”. E se eu não tivesse te recusado naquele momento. E se eu tivesse tido coragem e me declarado. E se...

Max enxuga as lágrimas de Nick. – Também tive meus momentos, mas nunca me arrependi, porque você estava lá. Nick o encara. – E agora você está aqui. Tome seu tempo, cuide de suas feridas e não importa a decisão que tomar, eu sempre estarei ao seu lado.

Nick sorri e segura as mãos de Max. – Obrigado! Ele respira fundo e pega a cerveja. Vira a lata de uma vez, fazendo Max rir.

Max – Vou pegar outra pra você.

Nick – Talvez algo mais forte? Max o encara, com um ar de interrogação. – É só eu não tomar meia garrafa de uma vez. Max ri e pega uma dose de whisky para Nick. Esse toma um gole e respira fundo mais uma vez, olhando para o companheiro. – Maya sabe que nos encontramos?

Max ri. – Sabe. Ela ficou puta comigo, por ter fingido não te reconhecer.

Nick ri e o encara. – E tem isso! Por que você fez isso?

Max – Você realmente quer ter essa conversa?

Nick o encara por alguns instantes. – Acho que sim. Vamos tirar o band-aid de uma vez.

Max – Eu te vi um tempo antes daquele dia no escritório. Na verdade, te vi quando mudei meu estúdio pra cá. Te vi com o seu namorado na cafeteria da esquina. Você parecia muito feliz, e isso era o suficiente pra mim. Uns dias depois Luke me contratou para fazer algumas fotos e foi quando te revi. Sempre que ia ao seu escritório, te via a distância e achava que era melhor assim. Naquele dia, pensei que trabalharia novamente com Luke, ele não tinha me avisado que seria você. Quando te vi, entrei em pânico. Você tinha ido embora, achei que seria melhor fingir que não te reconheci, para não te constranger. Por dentro, só queria te abraçar. Nick dá um tapa no braço de Max, que faz uma careta, fingindo que doeu.

Nick – Que ideia foi essa? Sabe como fiquei puto por você não ter me reconhecido? Eu te reconheci na hora que te vi, naquele dia na chuva.

Max ri. – Até que foi divertido fingir que não te reconheci. Você ficou puto algumas vezes. Teve uma vez que achei que você fosse me confrontar.

Nick – No dia da sessão no estúdio. Eu estava muito puto. Se não fosse a Kate ter chegado eu ia te confrontar mesmo. Max ri novamente e Nick ri junto. Eles ficam um tempo em silêncio, apreciando suas bebidas.

Max – Maya sente muito sua falta. Andie também. Elas ficaram muito mal quando você se mudou.

Nick encara o copo e suspira. – Só posso imaginar. Eu senti tanta falta delas, ainda sinto. No show, quando eu vi a Maya subindo no palco, minha vontade era de correr até lá e abraçá-la.

Max – Ela também te viu. Mas achou melhor esperar que você vá até ela.  Ela quis respeitar seu tempo.

Nick – Ela deve ter ficado puta quando você decidiu tocar aquela canção.

Max gargalha. – Quase apanhei no backstage. Ela sabia que ia te magoar. Max olha para Nick. – Me desculpa! Não foi minha intenção te machucar com a música.

Nick sorri. – Não é que me machucou, mas foi um choque muito grande. Foi um pouco demais e eu estava muito sensível. Nick abaixa o olhar para o copo em suas mãos. – Acho que ainda estou. Max coloca a mão no ombro do amigo. – Fica em paz, não é sua culpa. Nick acaricia a mão de Max que está em seu ombro.

Max – Se te deixa feliz, a Andie disse que vai me dar uma surra quando voltar.

Nick ri. – Onde ela está?

Max – Viajou a trabalho, volta na sexta.

Nick – Elas...

Max assente com a cabeça. – Elas estão juntas desde aquela época. Acho que vão fazer doze anos de relacionamento.

Nick – Sempre tive inveja delas. Eu queria ter o que elas tinham. Max o encara e ele sorri. – A nostalgia complica as coisas. Nick ri e toma o restante do whisky no copo.

Max – Quer mais um pouco. Nick assente.

Max busca a garrafa no bar. Ele está tentando se controlar, controlar seus sentimentos e seus desejos. Sua vontade é continuar daquele dia, um dia antes de Nick sumir. Mas sabe que é melhor assim. Eles precisam lidar com os sentimentos deles. Ele retorna ao sofá e serve outra dose para Nick. Ele observa o amigo e sorri, sentiu falta desses momentos com ele, de poder falar com ele.

Nick – Fala com a Maya. Diz que estou com saudades e, se estiver tudo bem pra ela, quero vê-la. Quero vê-las, as duas. Andie também.

Max assente. – Quer o contato delas?

Nick – Prefiro que elas me passem. Elas têm o direito de se recusarem a me ver.

Max – Parece que você não as conhece. Elas nunca se recusariam em te ver.

Nick sorri para Max e volta a olhar ao redor. Pega mais uma vez a foto do vale. – Quando você se tornou fotógrafo?

Max – Depois do terceiro ano da faculdade. Fiz um workshop na faculdade e me apaixonei. Aí comprei uma câmera e troquei o curso.

Nick sorri. – Você sempre foi decidido.

Max – Nem sempre. Ele sorri e serve uma dose para si.

Nick – Você é muito bom sabia? A Rafa quer que você seja contratado para nossa equipe.

Max ri. – É tentador, mas gosto de ser freelancer. Posso atuar em várias esferas e fazer o que eu gosto.

Nick – Assim você vai quebrar dois corações da minha equipe. Max levanta uma sobrancelha e Nick ri. – Estou falando da Rafa e da Kate.

Max – Ahh! Que pena. Nick dá um tapa no braço de Max que ri. – Você sempre gostou de me bater, cheguei a pensar que você era fã de BDSM. Nick encara Max, que cai na gargalhada com a cara de espanto do amigo. – Não sou contra. Já tive curiosidade em experimentar.

Nick balança a cabeça em negação. – Você não mudou em nada.

Max o encara sério. – Não. Realmente tem muita coisa que não mudou.

Nick fica corado. – Acho melhor eu ir. Tenho uma reunião com cliente na parte da manhã.

Max – Eu te levo.

Nick – De jeito nenhum. Max o encara. Nick aponta para o copo na mão de Max. – Você bebeu. Vou chamar um carro.

Max – Vou te ver amanhã?

Nick – Provavelmente sim. Minha intenção é acompanhar a sessão na parte da tarde, até mesmo para liberar a Rafa.

Max sorri. – Ok.

Nick pega o celular e chama um carro. – É ruim conseguir um carro a essa hora, ainda mais com a distância.

Max – Você não mora aqui perto?

Nick – Não. Na verdade, moro um pouco longe daqui. Nick sorri.

Max o observa. Como sentiu falta desse sorriso. Como sentiu falta dessa pessoa. Os momentos em que passavam conversando por horas a fio, sobre qualquer coisa. É o que mais sente falta. Max sorri e dá um gole em seu whisky. Poucos minutos depois, está se despedindo de Nick no portão.

Max – Te vejo amanhã!

Nick – Se cuida! Até amanhã.

Max entra no estúdio e se joga no sofá. A sensação de ter seu amigo de volta é estranha ao mesmo tempo que familiar. Ele quer mais, não quer ser só um amigo, mas isso, essa conversa, essa presença, já é o suficiente. Pelo menos, por enquanto.

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