CAPÍTULO IV

Em casa, Nick tenta se concentrar na campanha do perfume. Debruçado no portfólio e no storytelling, passa a esboçar mais algumas ideias para o vídeo. Seu telefone vibra com alerta de mensagem. Ele respira fundo e encara a tela de seu celular. Acabara de receber uma mensagem de James.

“Eu tentei, de verdade tentei mesmo manter distância, mas agora que realmente está chegando a hora, não consigo parar de pensar em você, em nós! Sonhei com você essa noite, sonhei com o dia em que tiramos aquela foto. Eu andei pensando muito sobre nosso relacionamento e acho que entendo o que você quis me dizer, eu não te dava escolhas. Me desculpe pelas vezes que te machuquei e te fiz sofrer, não foi minha intenção, mesmo assim aconteceu. Quero que saiba que sempre te amei e te amo. E tudo que quero é, que quando eu voltar, possa te encontrar e te conquistar novamente. Sei que não tenho direito de te pedir, mas queria te ver mais uma vez, podemos? Te amo!”

Nick lê a mensagem e não consegue segurar as lágrimas. Sua relação tem mais de três anos e terminar assim, é muito doloroso. Ele não consegue responder, não sabe como responder. Também quer rever James, também quer mais um momento, mas tem medo de ceder, de voltar atrás com sua decisão e ele não pode fazer isso.

Nick não consegue retomar o trabalho. “Desisto!” Vai a geladeira e pega uma cerveja. Olhando a lata, desiste da ideia, “preciso de algo mais forte!”. Lembra-se da garrafa de whisky que deixaram em sua casa, depois da última “social”. Ainda tem mais da metade. Não gosta tanto desse tipo de bebida, mas é exatamente do que precisa. Pega a garrafa e serve uma pequena dose. Vira o copo de uma vez, sentindo sua garganta queimar, serve outra dose e antes de beber, se joga em seu sofá. Resolveu tirar o resto da tarde para afogar suas mágoas. Virando novamente o copo, respira fundo, tentando afastar todos os pensamentos que estão lhe atormentando. “Talvez dê certo mantermos o relacionamento a distância. Podemos nos encontrar a cada três meses, assim não ficamos muito tempo sem nos vermos.” Nick balança a cabeça negativamente, pois sabe que ele que teria que se deslocar para encontrar o namorado e fazer esse relacionamento a distância funcionar.

Ele vira mais uma dose do líquido dourado. Agora está começando a se acostumar com a queimação em sua garganta e até gostar. Olhando a garrafa de whisky, tentando ler o rótulo, vem a sua mente a imagem de Max naquela manhã. “Envelhecido por 10 anos”. Nick ri, mas continua pensando em como sua primeira paixão continua lindo e seu sorriso permanece o mesmo, “eu até poderia me apaixonar novamente”. Nick ri amarguradamente com essa ideia, pois no momento, tudo que mais quer, é não amar ninguém. Nick continua largado em seu sofá, bebendo e “brigando” com seus sentimentos. Algum tempo depois, ele está olhando para a garrafa vazia em suas mãos. “Quem diria que eu conseguiria acabar com essa garrafa de whisky”. Rindo de sua façanha, tira uma foto, mandando uma mensagem para Luke, convidando o amigo para beber. “Cara, meu whisky acabou, quer vir aqui? Aproveita e traz mais uma garrafa!” Seu telefone toca e ele atende, sem mesmo ver quem é.

Luke – Nick, o que aconteceu?

Nick – Nada! Só tirei a tarde pra beber. Meu whisky acabou, traz outro quando vir.

Luke – Estou no escritório. Você bebeu uma garrafa de whisky sozinho?

Nick – Nããooo... Acho que... a metade?!

Luke – Nick você está bem? Só vou finalizar algumas coisas e vou pra sua casa.

Nick – Agora estou bem. O fantasma não está me incomodando mais e o ex já foi.

Luke – Você não está fazendo sentido. Daqui a pouco chego aí. Não beba mais.

Nick – Isso, meu whisky acabou traz mais uma garrafa. Tchau! Nick desliga e se joga no sofá. “Acho que estou começando a ficar bêbado.” Começa a rir, sem saber o porquê. Depois de um tempo remoendo o “fantasma” e o “ex”, se levanta e pega uma cerveja na geladeira. Indo ao escritório, pega o estojo do violão e vai para a sala. Tirando o violão do estojo e lendo a mensagem de Max, começa a esfregar a ponta da camiseta sobre a mensagem. “Por que você não apaga? Por que você não sai? Por que você voltou? Justo agora, justo no momento que estou uma bagunça, você aparece?” Nick coloca o violão de lado e chorando, cobre o rosto com as mãos. “O que eu faço? O que eu vou fazer?” Ainda chorando, pega a cerveja e toma de uma vez, tudo que ele quer é apagar. Ele acorda com seu amigo o sacudindo.

Nick – O que é??? Sonolento e ainda embriagado, Nick resmunga por ter sido acordado e se vira, voltando a dormir.

Luke – Acorda!!! Cara você tá uma bagunça. Luke olha ao redor, recolhendo algumas latas de cerveja do chão e a garrafa de whisky. Ainda tentando acordar o amigo sem sucesso, pega o violão e guarda no estojo que está no chão. Ele vai até a cozinha e pega um copo de água. Sua vontade é jogar a água em Nick, mas ele coloca o copo na mesa. Sentando-se próximo ao amigo, levanta esse e o sacode com delicadeza, para que acorde.

Nick – Eu quero dormir, me deixa dormir, assim ele não vem.

Luke – Nick acorda, bebe um pouco de água. Quem é que você não quer que venha?

Nick – Shhhh! Deixa ele lá, não quero que ele me veja assim.

Luke – Nick Acorda! Venha, vou te colocar embaixo do chuveiro. Se esforçando para levantar Nick, Luke apoia o amigo em seu ombro e segue para o banheiro. De roupa e tudo, o coloca no box e liga o chuveiro na água fria.

Nick – Hey!!! Essa água tá fria!

Luke – Ótimo! Assim corta a bebedeira.

Nick escorrega pela parede do box e se senta. Luke sai do banheiro dizendo que irá buscar a toalha e roupas limpas. A água fria cai sobre Nick, que está despertando. Ele começa a esfregar o rosto e se lembrar que estava bebendo e da mensagem. “Droga!” Ele se levanta e começa a retirar suas roupas. Altera a temperatura do chuveiro e deixa a água quente cair sobre seu corpo, então volta a chorar. Depois de um longo tempo no chuveiro, Nick sai do banheiro e segue para a sala, sentando-se de frente para o amigo, que estava mexendo no celular.

Luke – Melhor?

Nick assente com a cabeça. – Obrigado!

Luke – O que aconteceu?

Nick procura seu celular e o encontra embaixo de uma almofada no sofá, olhando ao redor, vê o estojo do violão recostado na poltrona. Abre a mensagem de James e entrega o celular para o amigo.

Luke – O que você vai fazer?

Nick esboça um sorriso, que saiu mais como uma careta. – Já fiz! Faz um gesto como se estivesse bebendo.

Luke – E isso vai resolver?

Nick – Não sei, mas me ajudou a esquecer, pelo menos, por alguns instantes.

Luke – Esse não é o caminho. Você tem certeza de que não quer vê-lo antes dele embarcar?

Nick – Melhor não! A despedida já foi dolorosa, está sendo dolorosa. Não quero piorar ainda mais.

Luke – Você não considera tentar a distância? Pode ser que dê certo.

Nick – Não. Se namorarmos a distância, eu terei que ir até ele, eu terei que me esforçar para dar certo, eu que terei que fazer dar certo. Já estava assim na verdade. Estou cansado. Pode até parecer que estou sendo egoísta, mas acho que tomei a melhor decisão. Nick esfrega o rosto com as duas mãos e se joga no sofá. – É melhor assim.

Luke observa o amigo, mas não diz mais nada. Eles se conhecem desde a faculdade e se tornaram grandes amigos. O silêncio entre eles é reconfortante, então deixa Nick com seus pensamentos. Andando até a poltrona, pega o estojo e retira o violão de dentro. Passa a estudar o instrumento em suas mãos e encontra a mensagem que Max deixou gravada. – Esse violão é seu? Nick apenas assente. – É da época da escola? Mais uma vez Nick assente, sem olhar para o amigo. Luke dedilha algumas notas e sorri. – Ainda está afinado.

Nick – Eu afinei esses dias.

Luke – Nunca te vi tocando.

Nick – Eu havia parado. São muitas recordações.

Luke – Ahh! É “daquela” época. Então “M” é seu primeiro amor?! Nick não responde, apenas fica parado, olhando para o teto. – Agora eu entendi o que você estava dizendo, o “fantasma” e o “ex”.

Nick fecha os olhos e respira fundo. Está lutando com as lágrimas que querem voltar. Ainda sem responder o amigo, se senta e passa a encará-lo, enquanto Luke toca uma balada. “Parece familiar”. – O que você está tocando?

Luke – Ahh! É uma canção que eu ouvi. Tirei de ouvido, porque gosto da melodia... Humm... Ah, é da banda que eu te falei, da banda que o Max faz parte.

“É por isso que é familiar, é uma das composições dele.” Nick se levanta e puxa o violão das mãos do amigo. Colocando no estojo, leva para o escritório e o guarda no armário, batendo as portas.

Luke – Desculpe cara! Não queria te aborrecer... Eu só lembrei dessa balada. É uma das poucas que sei tocar.

 Nick não responde. Ele está confuso com todos aqueles pensamentos, sentimentos e lembranças. “Por que isso está me afetando tanto? Por que ele não sai dos meus pensamentos?” – Desculpa Luke, fui estúpido com você. É só que me trouxe lembranças que quero esquecer.

Luke – Foi mal. Venha, vamos comer alguma coisa.

Nick – Não estou com fome.

Luke – Mas você bebeu demais e, se te conheço, não comeu ainda. Vamos! Vou pedir alguma coisa. Luke pede comida e faz companhia para o amigo. Eles não conversam, apenas ficam ali, aproveitando o silêncio. Após o jantar, Nick diz que está muito cansado e que dormirá cedo, pois tem compromisso amanhã, logo pela manhã.

Nick – Obrigado por ter vindo me ver! Desculpe, não fui um bom anfitrião.

Luke – Relaxa! Descanse e beba água para não ter ressaca. Te vejo amanhã no escritório. Se despedindo, Luke sai e Nick vai para a cama. “Só quero esquecer”.

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Comments

Marcia Emerich

Marcia Emerich

É querendo esquecer que mais me lembro de você.....

2025-02-23

2

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

quanto mais a gente quer esquecer... ai é que a gente lembra Nick 🥺🥺🥺

2025-02-24

2

Ver todos

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