O clima está gostoso, o sol está quente, mas não está fazendo muito calor. É início de primavera e tem chovido mais ultimamente. Nick observa as flores desabrochando e o verde das folhas. Sempre gostou da primavera, que antecede sua estação favorita. Sempre gostou do calor e da alegria que o verão trazia. Agora, relembrando de algumas memórias de seu passado, se recorda que foi em um desses verões que o viu pela primeira vez.
Se lembra que estava a caminho do mercado, de bicicleta, quando a corrente estourou. Irritado por não conseguir colocar a corrente no lugar, jogou a bicicleta no chão. Foi então que um rapaz alto, moreno, de cabelos longos, presos em um rabo de cavalo e boné, olhos cor de mel e boca carnuda, parou a sua frente oferecendo ajuda. Ainda se recorda de como ele estava vestido: regata preta com a logo do Metallica estampada, calça jeans surrada e rasgada nos joelhos e uma camisa vermelha xadrez, presa na cintura. Completando seu visual, duas argolas na orelha direita e uma corrente prata no pescoço, com um pingente em forma de palheta. Aquele rapaz era novo na vizinhança e aparentava ter sua idade, um ou dois anos mais velho, talvez.
Max – A corrente estourou?
Nick – Humm. Já é a terceira vez.
Max – Traz aqui, vamos tentar dar um jeito. Dizendo isso, segue até a garagem da casa vizinha e pega uma caixa de ferramentas. – Vamos lá! Prometo que não sou péssimo com ferramentas.
Nick levanta a bicicleta e vai até o rapaz. – Você mora aqui?
Max olha para Nick e sorri – Sim, nos mudamos a pouco tempo. Acho que está fazendo uma semana, talvez?!
Nick observa aquele rapaz e fica encantado pelo sorriso e pelo jeito “descolado” dele. Max pegou algumas ferramentas e passou a consertar a corrente danificada. Após alguns minutos, estava movimentando o pedal e girando a roda traseira. A corrente estava alinhada novamente.
Max – Agora só falta uma coisa. Voltando à caixa de ferramentas, Max pega um pequeno frasco que parece ser óleo lubrificante. Girando a corrente, espalha o óleo por ela, lambuzando-a. – Pronto! Como nova!
Nick – Valeu mesmo cara! Desculpe, sou o Nick a propósito. Nick estende a mão para cumprimentá-lo.
Max – Pode me chamar de Max! Ele olha para a mão estendida de Nick e olha para suas mãos sujas de óleo. Sorrindo, limpa as mãos nas calças e pega a mão do rapaz a sua frente. – Muito prazer!
Nick ri do gesto do rapaz e Max ri junto. – Como posso te pagar?
Max – Relaxa cara, isso não foi nada!
Nick – Venha! Vou te pagar um sorvete.
Max – Prefiro uma cerveja, mas pode ser um sorvete.
Nick ruboriza. Nem passou por sua cabeça que Max já tenha idade para beber. Apesar de ele não ter completado dezoito anos ainda, já bebeu cerveja várias vezes, mas não em público e não durante o dia. – Foi mal cara, ainda não posso beber. Mas pago a cerveja, se você a comprar.
Max ri e segura o ombro do novo amigo. – Passo. Acho que me deu vontade de tomar sorvete de chocolate. Vamos?
Nick balança a cabeça sorrindo e pega a bicicleta. Os dois seguem pela rua, até a sorveteria. Pouco tempo depois, Nick sai empunhando dois picolés, um de chocolate, que oferece a Max e outro de limão, para si. Os rapazes ficam ali, sentados na calçada, conversando e aproveitando os sorvetes. Max conta que ele e sua família se mudaram recentemente por conta do trabalho de seu pai. Também conta que se matriculou para cursar o último ano do secundário no próximo ano.
Max – Por conta das constantes mudanças, por causa do trabalho do meu pai, eu acabei perdendo um ano, quando estava na sétima série. Então, ainda preciso terminar a escola.
Nick – Pode ser que sejamos colegas de classe. Vou cursar o último ano também.
Max – Seria bom! Max encara Nick. Esse cora, com a intensidade do olhar do colega. Max desvia o olhar, continuando a contar sobre ele. – Agora estou atrás de pessoas para montar minha banda. Já tenho a baterista. Estamos conversando com uma garota que toca baixo e aí já está quase montada. Mas ainda estou atrás do vocal.
Nick – Você não é o vocalista?
Max – Eu até canto, mas sou o guitarrista. Quero encontrar alguém que assuma os vocais. Não acho minha voz boa o suficiente.
Nick – Qual o estilo?
Max sorri – Rock. Basicamente hardcore, mas posso tocar outras coisas. O que eu quero mesmo é ter a oportunidade de compor e tocar minhas próprias músicas.
Nick está cada vez mais interessado naquele rapaz. Quer saber mais sobre ele. – Tudo bem para seus pais, você ter uma banda?
Max – Sim. Na verdade, eles me incentivam. Meu pai me deu meu primeiro violão aos oito anos e minha primeira guitarra quando eu tinha onze. Desde então não parei de tocar.
Nick – Sempre quis aprender a tocar violão. Mas nunca fui disciplinado o suficiente.
Max – Posso te ensinar.
Nick – Sério mesmo?
Max– Claro! Vamos aproveitar que estamos de férias. Será mais fácil. Venha pra minha casa amanhã à tarde. A Maya vai aparecer para ensaiarmos, assim você acompanha nosso ensaio e eu te ensino depois. O que acha?
Nick – Cara, sério mesmo? Posso ir?
Max ri da reação do amigo. – Vou te esperar. A Maya vai chegar por volta das duas da tarde. Então aparece lá por volta desse horário.
Nick – Aqui! Me passa seu número. Max pega o celular da mão de Nick e anota seu telefone.
Max – Eu preciso ir agora. Tenho que ajudar meu pai a montar alguns móveis que faltam.
Nick fica desapontado. – Ah claro! Obrigado pela ajuda com a bike.
Max acena positivamente com a cabeça e se vira, voltando pelo caminho que fizeram. Nick vai ao mercado, como tinha programado antes e retorna para casa. No caminho de volta dá uma espiada na casa de Max, mas não o vê. “Amanhã eu volto.”
No dia seguinte, Nick caça em suas coisas, sua antiga camisa do Queen, faz tempo que não a usa. Depois de achá-la no fundo de uma das gavetas, a veste, completando seu “look rockeiro” com uma calça jeans e seu All Star preto. Ajeitando o cabelo para trás, pega seu violão e sai para sala. Sua mãe pergunta aonde ele vai tão arrumado e ele explica que começará a ter aulas de violão.
Mãe – Pensei que tinha desistido de aprender.
Nick – Fiz um amigo que tem uma banda. Ele toca guitarra e violão e vai me dar aulas agora nas férias.
Sua mãe assente e volta para cozinha. Ele se despede, dizendo que não tem hora para voltar. Segue para a casa de Max, mas está apreensivo. “Será que não vou atrapalhar? Acho que ele só estava sendo legal.” Nick pensa em voltar e mandar uma mensagem com alguma desculpa, mas encontra Max, que estava voltando para casa.
Max – Aí está você. Foi bom te encontrar, assim você me ajuda a montar a bateria.
Nick acompanha Max até a garagem dele, onde encontram várias peças de uma bateria no chão. Além da bateria, havia duas guitarras, um violão e alguns amplificadores no local. A garagem foi adaptada em um pequeno estúdio. Ele posiciona seu violão perto dos outros instrumentos e passa a olhar as peças no chão.
Max – Pronto para me ajudar?
Nick – Nunca fiz isso.
Max – Não se preocupe, eu sou um ótimo professor. Dizendo isso, Max sorri maliciosamente e pega os pedestais. Nick cora com a malícia de Max, com um breve pensamento que não era sobre instrumentos. Voltando a se concentrar, ele presta atenção às instruções do amigo, auxiliando na montagem da bateria. Em pouco tempo eles terminam e Max testa o instrumento. – Parece ok, vamos ver o que a Maya acha. Max então pega uma de suas guitarras e dedilha por alguns instantes, passando a afiná-la. Nick se senta em uma poltrona que está no canto da garagem, assistindo os movimentos do amigo. Max parecia ainda mais incrível, naquele jeans rasgado, camisa da Janis e a guitarra em seu colo. Ele percebe que está sendo observado e sorri, passando a mão pelos cabelos, que estão soltos hoje. Nick perde o fôlego por alguns instantes “ele é lindo!”. Se recompondo rapidamente, Nick passa a olhar os amplificadores que estão próximos de onde Max está sentado, mas não olha para esse.
Max – Quer tomar alguma coisa enquanto esperamos a Maya chegar?
Maya – Acabei de ouvir meu nome? Maya abraça Max e dá um beijo estalado em sua bochecha. – Você já montou meu bebê!
Max – Já! Deixamos ela pronta pra você. Faz o teste, vê se está bom assim?
Maya corre para sua bateria e começa a tocá-la. Após um breve solo, ela larga as baquetas e Max ri. Nick não se contém e bate palmas, fazendo os dois rirem.
Max – Gostou tanto assim?
Nick – Ela é foda!
Max – Você não viu nada!
Maya voltando-se para Max – Gostei dele!
Max – Maya esse é o Nick, um novo amigo e meu pupilo. Nick essa é a nossa baterista maravilhosa, Maya.
Nick – Prazer em te conhecer.
Maya – O prazer é meu. Se aproximando do rapaz, Maya toca no símbolo de sua camiseta. – Bom gosto. Nick olha para baixo, onde a mão de Maya está tocando. Max se aproxima e retira a mão de Maya do abdômen de Nick, não sem antes tocá-lo com as pontas dos dedos. Nick sente esquentar onde Max tocou e mais uma vez ruboriza. Escondendo-se, passa a observar a outra guitarra do amigo.
Max – Você não tem jeito Maya. Rindo, puxa a amiga e entrega algumas partituras para ela. – Nick, você acabou sendo interrompido pela chegada estrondosa da Maya, quer algo para beber?
Nick – Pode ser!
Maya – Traz algumas cervejas!
Max – Nada de cerveja antes do ensaio terminar. Ainda não me esqueci da última vez. Maya se abaixa e ergue os braços em tom de rendimento.
Maya – Foi mal.
Max ri. – Já volto.
Maya se aproxima de Nick. – Então como foi que você conheceu nosso guitarrista mal-humorado?
Nick – Ele me ajudou com a corrente da minha bicicleta, que havia quebrado aqui perto. Começamos a conversar e ele se ofereceu para me ensinar a tocar violão.
Maya sorriu. – Você está em boas mãos. Ele é um bom professor e toca muito bem. Nick sorri para Maya. Max retorna com uma garrafa de refrigerante, copos e gelo.
Max – Aqui, sirvam-se. Maya, vamos começar?
Maya – Bora! Ahh, a Andie vai passar aqui amanhã, para fazer um teste.
Max – A baixista? Maya assentiu com a cabeça, tomando um gole do refrigerante. – Boa! Max levanta a mão e Maya bate, rindo.
Maya – Vamos começar!
A dupla se posiciona e começa a tocar. Eles começam por “Wanted Dead Or Alive” do Bon Jovi e logo Nick começa a cantarolar, acompanhando a batida. A dupla se entreolha e continua com a canção, observando Nick cantando. Assim que começa a segunda parte da música, Nick se empolga e aumenta o tom da voz, agora acompanhando os acordes da guitarra. Ao fim da música, Max e Maya soltam um grito e Nick se assusta, sem entender nada.
Maya – Achamos! Max concorda com a cabeça, indo até Nick.
Max – Você sabe outras canções dessa lista? Max mostra o checklist de canções que eles vão ensaiar.
Nick – Praticamente todas. Minha mãe sempre ouviu rock dos anos 70 e anos 80 em casa. Cresci ouvindo essas músicas.
Max agarra os braços de Nick e dá um beijo em sua bochecha. Automaticamente Nick sente seu rosto esquentar e encara o amigo sem entender nada.
Max – Venha, cante com a gente.
Nick – Mas eu não sei cantar.
Maya – É só fazer o que acabou de fazer. A letra que você não conhecer, avisa que a gente pula.
Nick fica tímido, mas assente com a cabeça. – Posso ficar aqui mesmo?
Max olha para Maya e confirma com a cabeça. – Claro! Fique onde se sentir mais confortável. Aqui, eu tenho as letras. Nick pega as folhas da mão de Max e dá uma olhada, então assente mais uma vez. – Vamos começar!
Eles começam a tocar a próxima música e Nick acompanha, fazendo o vocal como acha que tem que ser. Ele está com vergonha, mas não quis negar o pedido de Max. Depois de umas três músicas, eles fazem uma pausa.
Max – Cara você canta muito! Você tem que ser nosso vocalista!
Nick – Para com isso! Tenho certeza de que vocês vão encontrar alguém certo.
Maya – Já encontramos. Só ensaia com a gente, por favor! Eu te ajudo com as letras, se precisar.
Max – Eu também.
Nick – Mas eu não quero atrapalhar vocês.
Max – Não vai. Vamos fazer assim, você ensaia com a gente em troca das aulas de violão.
Nick bebe mais um pouco de refrigerante, enquanto seus novos amigos o encaram, aguardando a resposta. Nick vê no olhar de Max que ele realmente quer isso. – Tá bom! Eu ensaio com vocês. Só me passa a lista das músicas antes de começar os ensaios.
Max e Maya comemoram e assentem com a cabeça. Então eles voltam as suas posições, para continuarem com o ensaio. A tarde passa rápido, entre uma música e outra. Nick acabou se divertindo, bancando o vocalista e se soltou, sendo acompanhado por Max em alguns duetos. Ao fim do ensaio, Maya dá um abraço em Nick e se despede de Max. Max guarda sua guitarra e os amplificadores.
Max – Vamos! Agora é a hora da sua aula.
Nick – Você não está cansado? Podemos deixar pra outro dia.
Max – Que nada! Max pega o estojo de violão de Nick e sua mão. – Venha, vai ser mais confortável no meu quarto.
Nick retorna da viagem ao seu passado, quando seu telefone toca. Olha para a tela e vê que Kate está te ligando. Ele suspira e atende o telefone. – Oii!
Kate – Nick, eu já finalizei as demandas do dia, inclusive já te encaminhei as fotos que Max enviou. Surgiu um imprevisto em casa e queria saber se você pode me liberar mais cedo hoje.
Nick – Claro, pode ir!
Kate – Ahh, consegui remarcar a prova do figurino para amanhã às nove. Obrigada! Eu vou indo então.
Nick – Ok! Obrigado. Nick encerra a ligação e suspira mais uma vez. “Por que fui lembrar dessas coisas?” Sacudindo a cabeça em negação, para afastar esses pensamentos, chama um carro. “Vamos pra casa que é o melhor a se fazer.”
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Diva
Viajei junto.
Lembrei de It's my life, lendo e vendo o clipe bem na parte que o boy sai correndo do quarto, vê a mãe...
GEEEEENTE QUE MASSAAAAAAA!
2025-02-04
1
Da Silva Lopes Clinger
por isso prefiro deixar o passado lá no passado
2025-02-25
1
Clesiane Paulino
é Nick ... lembranças sempre nos deixam vulneráveis 😥😥
2025-02-24
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