A escuridão os envolveu por um momento, e quando Fagner e Gabriel abriram os olhos, tudo parecia diferente. A sala subterrânea, o altar, o Guardião — tudo havia desaparecido. Eles se encontravam agora no centro da cidade de Conak, mas algo estava profundamente alterado.
Conak não era mais a mesma. As ruas, normalmente agitadas, estavam desertas, e um silêncio profundo pairava no ar. As construções, antes robustas e cheias de vida, agora pareciam desmoronadas, suas formas desbotadas, como se fossem reminiscências de um passado esquecido. A cidade, que um dia fora vibrante e cheia de energia sobrenatural, agora se sentia pesada, como se algo estivesse drenando a vitalidade do lugar.
— O que aconteceu? — Gabriel perguntou, sua voz soando estranha em meio à quietude. Ele olhou ao redor, tentando compreender o que estava diante de seus olhos. Não era apenas a cidade que estava diferente; ele e Fagner também estavam diferentes. Algo dentro deles havia mudado de forma irreversível.
Fagner olhou para o irmão, seus olhos penetrando naquilo que antes parecia familiar, agora estranho e distante. Ele sentia uma conexão com a cidade de uma maneira que não conseguia explicar. A energia da cidade parecia vibrar em suas veias, como se fosse parte dele, mas ao mesmo tempo, havia uma sensação de perda, como se uma parte crucial de sua identidade tivesse sido apagada.
— Eu… não sei. Mas sinto que não estamos sozinhos. — Fagner respondeu, os olhos fixos no horizonte. Algo estava se movendo nas sombras, como se a própria cidade estivesse viva, observando-os, esperando algo deles.
Ambos irmãos sentiram a presença de várias entidades ao redor. Não eram os mesmos seres que antes habitavam a cidade. Agora, as sombras eram mais densas, mais palpáveis, e as criaturas que se moviam dentro delas pareciam mais poderosas, mais malignas. Vampiros, lobisomens, bruxas, anjos e demônios – todos estavam em seus próprios territórios, mas o equilíbrio entre eles havia sido alterado. As linhas que dividiam as forças haviam se apagado, e agora, tudo parecia imerso em uma luta silenciosa pela supremacia.
Foi então que eles ouviram a voz. Não uma voz física, mas uma presença que parecia ecoar dentro de suas mentes.
— Vocês não entendem o que fizeram. — A voz era feminina, etérea, mas carregada com uma autoridade inegável. Era a voz da entidade que se revelara na última explosão de luz. — A cidade foi restaurada, mas ao custo de mais do que imaginem. Conak agora carrega o peso de todas as suas escolhas, e vocês… são a chave para o novo ciclo.
Fagner e Gabriel olharam um para o outro, atônitos. A presença que falava em suas mentes agora parecia se tornar mais concreta, uma figura que começava a se manifestar à distância, emergindo das sombras que envolviam as ruas da cidade.
Lentamente, a figura se materializou. Era uma mulher de aparência etérea, envolta por uma capa feita de luz e escuridão, como se fosse a personificação do próprio Conak. Seus olhos eram negros como a noite, mas com uma profundidade que parecia refletir todos os segredos da cidade. Ela flutuava, sem tocar o solo, com uma aura de poder incontrolável.
— Quem… quem é você? — Gabriel perguntou, sentindo um frio na espinha ao encarar a entidade. Ele sabia que ela estava profundamente conectada a tudo o que havia acontecido, mas não conseguia entender qual era seu papel no novo equilíbrio que agora pairava sobre Conak.
— Eu sou a Guardiã da Verdade, — ela respondeu, sua voz ecoando novamente em suas mentes, como se não precisasse mais de palavras para se comunicar. — Eu sou a essência de Conak, a força que mantém seus mundos em equilíbrio. Mas agora, com o sacrifício de vocês, a cidade foi transformada. Vocês são parte de mim agora, e o que restou de vocês é uma sombra do que eram.
Fagner sentiu uma onda de angústia, como se sua própria identidade estivesse se desintegrando a cada palavra que a Guardiã proferia. Ele não conseguia mais sentir as mesmas emoções, não conseguia mais se conectar com o que antes o definia. Ele e Gabriel eram agora parte de algo maior, mas isso os tornava fragmentos de si mesmos.
— O que isso significa para nós? — Fagner questionou, a voz firme, mas cheia de uma tristeza profunda. — O que acontecerá conosco? Somos parte de Conak, mas… o que isso significa para nossas almas?
A Guardiã flutuou mais perto, sua presença envolvente e esmagadora.
— O que vocês eram… não existe mais. Vocês são as sombras que restam de quem eram, conectados à cidade de uma maneira que jamais imaginaram. E agora, Conak precisa de vocês, de suas novas formas, para enfrentar os novos inimigos que estão chegando. O equilíbrio foi restaurado, mas ele está instável, e algo mais escuro está prestes a invadir este mundo.
Fagner e Gabriel se entreolharam novamente, agora mais conscientes do sacrifício que haviam feito. Não era apenas a cidade que estava mudada. Eles próprios estavam em uma nova realidade, sem um caminho claro à frente. Mas a ameaça mencionada pela Guardiã os fazia perceber que suas ações haviam desatado algo ainda mais perigoso.
— Precisamos impedir que o caos se instale novamente. — Gabriel disse, agora com uma determinação renovada. Ele sentia que, mesmo que estivessem mudados, o trabalho deles não havia acabado. Eles eram os guardiões, agora, mas precisavam aprender a controlar essa nova realidade para proteger o que restava de Conak.
A Guardiã os observou, sua expressão impassível.
— Vocês têm o poder para lutar, mas o preço será sempre alto. As forças que agora controlam Conak estão crescendo. As sombras que vocês tanto temiam não são nada comparadas ao que virá.
Com um movimento de suas mãos, ela fez com que as sombras ao redor se movessem, revelando uma figura ao longe, uma criatura imensa que se aproximava da cidade. Seus olhos brilham com uma energia negra, e sua forma era monstruosa, como uma mistura de todas as criaturas que habitavam os mundos conectados a Conak. Era um demônio, mas não como qualquer outro, algo mais antigo, mais poderoso, que havia sido despertado pela restauração do equilíbrio.
— Este é apenas o começo — a Guardiã disse, sua voz agora carregada de urgência. — Vocês terão que escolher mais uma vez, irmãos. O que irão fazer com o poder que têm agora? Com a cidade que carrega a alma de vocês?
As palavras ecoaram na mente dos irmãos enquanto a criatura se aproximava com passos pesados. Eles sabiam que sua luta estava apenas começando.
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No próximo capítulo, Fagner e Gabriel confrontam a primeira ameaça real da nova Conak e enfrentam o peso das escolhas feitas, tentando entender a profundidade do poder que agora carregam.
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Atualizado até capítulo 100
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