Chapter 16

Genevieve Ashford

A manhã seguinte chegou com um silêncio incomum. Não o silêncio natural de um domingo preguiçoso, mas um silêncio carregado, como se o mundo inteiro estivesse aguardando algo. Ou talvez eu fosse apenas eu mesma, me sentindo incomodada por uma inquietação que não parecia querer me deixar. Era como se todos os sinais, todos os presságios, estivessem se acumulando, preparando o palco para algo que eu não podia evitar.

Eu ainda estava pensando na conversa com minha mãe. Na verdade, nem mesmo o simples ato de acordar conseguia me tirar dessa sensação de que algo estava prestes a acontecer. Eu sabia que minha mãe tinha razão, de certa forma. Eu estava começando a me perder nas teias que Edward Blackwell havia tecido, e isso me assustava mais do que eu gostaria de admitir. Mas, ao mesmo tempo, havia algo irresistível nele, algo que me atraía e me fazia querer mais, apesar da minha racionalidade me dizendo que aquilo não era algo a ser desejado.

Eu estava sentada à mesa do café da manhã, mexendo distraidamente na xícara de chá quando uma das criadas entrou na sala com uma carta nas mãos. A carta parecia simples, sem grandes adornos, mas o selo de cera com a insígnia do duque fez meu coração bater mais rápido. Eu a reconheceria em qualquer lugar, mesmo que tentasse ignorá-la. Edward, novamente.

A criada entregou a carta com um olhar curioso, mas eu a agarrei rapidamente, ignorando o gesto. Abrindo-a com mãos que tremiam ligeiramente, eu li as palavras que estavam ali, simples, mas potentes, como uma adaga certeira.

..."Genevieve,...

...Eu sei que tudo isso tem sido difícil para você, mas as circunstâncias exigem que nós dois tomemos um passo para o que quer que seja que está acontecendo entre nós. O que nos liga é mais forte do que qualquer conveniência ou aparências que possamos tentar manter. Eu espero que entenda a seriedade da situação."...

A carta era direta e, ao mesmo tempo, provocante. Edward sempre soubera como fazer isso, como misturar o desdém com o desejo, a seriedade com o deboche. Aquelas palavras me deixaram tensa e, ao mesmo tempo, meu estômago se revirou, como se algo muito errado estivesse prestes a acontecer.

Eu me recusei a olhar para o conteúdo novamente, fechando os olhos por um momento. Mas, ao fazer isso, a última frase da carta se repetiu em minha mente: "Eu espero que entenda a seriedade da situação." Não estava claro o que isso significava exatamente, mas, de alguma forma, eu sabia que ele estava se referindo àquilo que eu temia. O escândalo. O inevitável.

De repente, ouvi os passos apressados de meu pai no corredor, seguidos de um leve batido à porta.

— Genevieve! — A voz dele estava carregada de urgência, e eu sabia que algo não estava certo. Quando ele entrou no meu quarto, seu semblante grave me fez levantar imediatamente. — Temos um problema, minha filha.

Eu não sabia o que ele queria dizer com isso, mas já havia algo em seu tom que me fez imaginar o pior. Aquele tipo de situação, em que a simples fala de um problema se transforma em algo mais perigoso do que eu poderia compreender.

— O que aconteceu, pai? — Perguntei, tentando manter a calma, mesmo que as palavras estivessem me sufocando. Não havia tempo para rodeios. Eu precisava entender, entender logo o que estava acontecendo.

Ele não respondeu de imediato, apenas me lançou um olhar pesado e deu um passo à frente, se aproximando de mim. Seus olhos estavam tensos, e eu sabia que a situação era muito mais séria do que qualquer coisa que eu poderia imaginar.

— Eu fui informado de que há rumores circulando por Londres, Genevieve. Rumores sobre o duque de Blackwell. — Ele fez uma pausa, como se a simples menção do nome já fosse suficiente para desencadear uma avalanche de problemas. — E sobre você.

Eu senti um gelo percorrer minha espinha. Rumores. Eu deveria ter esperado por isso, mas, ao mesmo tempo, a ideia de que algo tão público, tão devastador, fosse se tornar realidade me deixou sem ar. Eu sabia o que isso significava. Sabia que, com a magnitude do nome de Edward, qualquer coisa que envolvesse ele e eu teria um peso insustentável. Meu pai, como sempre, teve as palavras duras, mas precisas.

— Não posso permitir que isso continue, Genevieve. A pressão da sociedade, a especulação, tudo isso pode destruir nossa posição, nossa reputação. Você sabe o que a cidade fala. Sabe que não podemos deixar que isso se espalhe ainda mais. — Ele respirou fundo, o que me indicava que ele já havia tomado uma decisão que afetaria a todos nós.

— O que você quer que eu faça? — Perguntei, minha voz mais baixa do que eu gostaria. Eu sabia, de alguma forma, que a única coisa que restava agora era seguir em frente com aquilo. Não havia mais volta.

Ele me olhou por um momento, e então, com um suspiro pesado, disse:

— A única coisa que podemos fazer agora, Genevieve, é colocar um fim nisso. Vamos forçar as coisas. Você e o duque. Não há outra opção.

Foi como se o mundo parasse. Eu olhei para ele, incrédula, tentando entender o que ele acabara de dizer. Ele estava falando sério? Um casamento? Um casamento forçado com Edward Blackwell?

Eu estava tão atordoada que quase não consegui processar as palavras. Mas, mesmo assim, eu sabia que ele estava certo, de uma maneira dolorosa. O escândalo estava prestes a se concretizar, e a única maneira de afastá-lo seria fazer o que fosse necessário para acalmar a sociedade. E esse "fazer o que fosse necessário" envolvia casar-me com Edward.

As palavras que eu queria gritar ficaram presas na garganta. Eu sabia que nada do que eu dissesse agora mudaria o curso dos acontecimentos. O que começara com provocações e jogos de poder entre Edward e eu estava se transformando em uma realidade que eu não podia mais evitar.

E, assim, o plano foi traçado. O casamento, com ou sem o meu consentimento, seria a única maneira de salvar nossa honra e nossa posição na sociedade. E, com isso, o mais irônico de tudo: Edward Blackwell seria meu salvador. Meu inimigo. Meu futuro marido.

A ideia me deixou completamente paralisada, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim sabia que, de algum jeito, este era o começo de uma nova fase em nossas vidas. E, como tudo o que envolvia Edward, seria imprevisível.

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