UMA DECISÃO

A noite carregava um peso distinto, como se o ar estivesse impregnado de tensões e segredos não ditos. Aquele dia era um dia de festa para os lobos, eles frequentemente se reuniam para debater negócios, fortalecer alianças e confraternizar, todas as famílias estavam presentes, incluindo a família de Aliya.

A jovem caminhava por entre as sombras do evento, tentando a todo custo passar despercebida. Os olhares, as risadas contidas, cada gesto parecia ecoar como uma lembrança cruel de que aquele mundo não era dela. Mantinha distância dos gêmeos, preferindo o isolamento a ter que confrontar os sentimentos confusos que sua presença provocava.

Enquanto Aiden e Kael cumprimentavam os membros da matilha com uma frieza calculada, seus olhares a buscavam discretamente. Aquela atração incontrolável por Aliya os irritava, desafiando seu próprio autocontrole. A cada cumprimento, a cada gesto de aparente indiferença, os dois lutavam contra a intensidade inexplicável que ela despertava neles.

Então, de repente, a voz fria e cortante de Cedrik rompeu o silêncio, fazendo-a estremecer.

“Aliya, será que pode tentar, pelo menos uma vez, não envergonhar a família? Essa expressão derrotada só reflete o peso que você traz.”

Ela se virou, o rosto endurecido, o orgulho ferido. “Pai, eu estou aqui, não estou? Sempre faço tudo o que o senhor exige. O que mais quer de mim? Vai me obrigar a sorrir também?”

A mão de Cedrik ergueu-se, dominada por uma raiva cega. “Insolente!”

Mas, antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, um vulto escuro e ágil se interpôs entre eles. Kael segurou o punho de Cedrik com uma força implacável, seus olhos em chamas. O ar pareceu congelar ao redor, e todos os murmúrios se dissiparam num instante.

“Se ousar levantar a mão para ela outra vez,” Kael sussurrou, a voz repleta de uma ameaça letal, “eu mesmo farei questão de lembrar você do lugar de um beta.”

Cedrik gaguejou, a pressão do aperto de Kael o fazendo tremer. “Eu… peço desculpas, Supremos… eu só perdi o controle…”

“Silêncio,” Aiden interveio, sua voz baixa e cortante, um fio de aço contido em cada sílaba. Ele deu um passo à frente, seus olhos fixos no beta com uma frieza mortal. “Não ouse tocá-la novamente. Se o fizer, eu mesmo arranco sua cabeça.”

Aliya, tomada pela exasperação, com a cabeça latejando de indignação e raiva, interveio, sua voz firme, ainda que trêmula. “Já chega! Basta!” Os olhares ao redor recaíram sobre ela, atônitos por sua audácia.

Antes que qualquer um pudesse responder, ela se afastou rapidamente, agarrando uma garrafa de vinho do aparador antes de sair pela porta. Os supremos trocaram um olhar sombrio, a irritação queimando dentro de ambos. Após ela sair, o evento continuou, Kael soltou o beta de forma brusca e ficou andando pelo salão, nervoso, tentando se controlar enquanto seu irmão fazia o mesmo, todos ao redor não entendiam a atitude dos supremos por defender uma simples ômega.

Aliya saiu do salão em direção ao bosque, encontrando um lugar isolado onde podia finalmente respirar.

Ela olhava para o céu, tomando grandes goles da garrafa, como se o vinho pudesse aliviar a tensão esmagadora que carregava. As estrelas brilhavam acima, mas, para ela, pareciam distantes, inalcançáveis, tal como qualquer sinal de paz em sua vida.

Um tempo depois, os gêmeos já haviam se retirado da festa, dirigindo-se para o carro com a intenção de finalmente deixar o evento para trás. Mas, ao passar pelo bosque, avistaram Aliya. Ela estava encostada em uma árvore, segurando a garrafa. Quando a viram virando o vinho na boca, trocaram um olhar preocupado.

" Essa garota ainda vai nos enlouquecer" murmurou Aiden, exasperado.

Kael lançou um olhar para ela, já preocupado. "Vamos até ela, antes que faça alguma besteira."

Aiden assentiu, e os dois saíram, indo em direção a Aliya. Quando ela percebeu os passos se aproximando, suspirou de irritação.

" Ah, pronto" murmurou, sem sequer olhar para eles. "Até quando quero ficar sozinha, não consigo, estão me seguindo agora?” Aliya perguntou, sua voz carregada de uma exaustão amarga, o tom um misto de resignação e cansaço.

Aiden se aproximou e, sem pedir permissão, tirou a garrafa de suas mãos e tomou um gole, olhando para ela com um sorriso irônico. “Vinho barato, Aliya? Isso é baixo, até para você.”

Ela lançou-lhe um olhar furioso. "Me devolve isso. Não é da conta de vocês.

"Ah, mas agora é" respondeu Aiden, cruzando os braços e observando-a com um ar provocador.

Aiden deu um gole da garrafa e sorriu, sem tirar os olhos dela. "Já que quer beber, vamos fazer isso em um lugar melhor. Algo mais digno do que… isso."

Aliya hesitou, olhando para os dois, incerta se deveria aceitar. Mas qualquer coisa parecia melhor do que voltar para a festa. E, embora os irmãos irritassem e a desafiassem como ninguém, o impulso de escapar de tudo falou mais alto.

"Certo", disse ela, após uma pausa. "Mas que seja longe da minha família."

Os irmãos trocaram um breve sorriso de vitória antes de guiá-la até o carro. Dirigiram-se para fora da propriedade, o ambiente mudando das luzes da festa para a escuridão calma da estrada, até que finalmente chegaram a um pequeno morro com uma vista impressionante da cidade iluminada.

Aiden saiu primeiro, seguido por Kael, que a ajudou a descer. A brisa era fresca, trazendo um toque de liberdade que a fez respirar mais fundo. Kael entregou a garrafa para ela, e Aliya aceitou, levando-a aos lábios novamente.

"Só cuidado para não desmaiar. Não estamos aqui para carregar você de volta" provocou Aiden.

"Não pedi que me acompanhassem", retrucou ela, olhando para eles com uma mistura de desafio e gratidão silenciosa.

" Já notamos" respondeu Kael, relaxando ao encostar-se no capô do carro. Ele a observou, como se tentasse desvendar o que passava em sua mente. "Você realmente não sabe quando parar, não é?"

"Não," respondeu ela, com uma sinceridade que os surpreendeu. "Não sei. Estou cansada de tudo isso. Da minha família. Das expectativas. E… de vocês."

Aiden sorriu, mas seus olhos mantinham um tom sério. "De nós?"

Ela o encarou, sem medo. "Vocês jogam, testam, provocam… o que ganham com isso? É como se quisessem arrancar algo de mim, mas nunca mostram nada de vocês."

Kael deu uma risada seca. "Talvez porque não há nada para mostrar, Aliya. Ou talvez… ainda não tenhamos encontrado alguém que consiga ver através de nós."

Houve um momento de silêncio tenso. Aliya levou mais um gole da garrafa, dessa vez com um pouco mais de cuidado. Olhando para a cidade abaixo, sentiu-se estranhamente confortável ali, com eles. Por mais que se repelisse e os desprezasse em momentos, havia algo sobre a presença deles que a fazia sentir-se mais… ela mesma.

"Talvez seja por isso que estamos aqui", disse Aiden, finalmente. "Você não sabe o quanto tem em comum conosco, Aliya. Ainda."

Eles sentaram-se ali, no chão, a Jovem, entre os dois, observando a cidade e o céu. Com o passar dos minutos a respiração de Aliya gradualmente se tornava mais calma. Depois de mais um tempo, com a voz quase em um sussurro, ela murmurou, como se falasse mais para as estrelas do que para eles: “Será que um dia… eu vou ser importante para alguém? Vou ser amada de verdade?”

Ela parecia frágil e vulnerável, e o vinho que bebera só tornava suas palavras mais cruas, mais dolorosas. A pergunta pairou no ar, carregada de uma necessidade que os gêmeos não podiam ignorar.

Aiden olhou para ela, o rosto suavizando enquanto sentia o perfume dos cabelos dela balançando com a brisa. “Quem sabe… você já seja importante,” ele murmurou, com uma seriedade surpreendente enquanto deslizava os dedos pelos cabelos dela. “Quem sabe já seja amada, Aliya, mais do que pensa.”

Sem dizer mais nada, ela encostou a cabeça no ombro de Kael, os olhos pesados de cansaço, ela adormeceu, o vinho a derrubou.

Kael permaneceu em silêncio enquanto ela dormia em seu ombro, tão serena quanto ele nunca a tinha visto. O peso dela ali, confiando-se a ele, mesmo que apenas adormecida, despertava nele uma tempestade de emoções. Ele a observava atentamente, notando o jeito com que os cílios dela tocavam a pele delicada, o sutil movimento de sua respiração, tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão intocável. Aiden olhou para o irmão, e o momento de quietude entre eles carregava um entendimento mútuo, uma decisão não dita.

"Então, vamos mesmo fazer isso?" murmurou Aiden, a voz baixa, mas determinada. O olhar dele era de pura intensidade, um brilho possessivo que não precisava ser traduzido em palavras.

Kael passou os dedos pelos cabelos dela, seus olhos fixos na expressão delicada que ela fazia ao dormir. Ele sentia o desejo ardendo nele, não apenas o desejo físico, mas algo mais profundo, algo que o ligava a ela de uma forma irrevogável. Respirou fundo, e quando finalmente levantou o olhar para o irmão, havia em seu semblante uma mistura de aceitação e possessividade.

" Ela é nossa, Aiden. Sempre foi." Respondeu, a voz baixa e rouca, carregada de um sentimento que ele nem sabia que possuía até aquele momento. "Ela pertence a nós, e nós... a ela. É o destino dos deuses, e estamos prontos para isso."

Aiden observou o irmão por um momento antes de concordar com um leve aceno de cabeça, um sorriso pequeno e satisfeito surgindo em seu rosto. O vínculo que sentiam por Aliya era algo que desafiava toda lógica, uma força que os puxava para ela sem piedade. Com cuidado, Aiden se inclinou e pegou Aliya nos braços, cuidando para não acordá-la. Ela suspirou e se aconchegou contra ele, e naquele instante, Aiden soube que eles fariam de tudo para protegê-la, ainda que o mundo deles fosse complexo e cheio de obstáculos.

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Comments

Ivania Ferreira da Silva

Ivania Ferreira da Silva

será que agora é sério?

2025-02-28

2

Andressa Silva

Andressa Silva

😘😘😘😘

2025-02-24

1

Ana Lúcia De Oliveira

Ana Lúcia De Oliveira

Aidem é mais carinhoso

2025-02-14

1

Ver todos

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