A madrugada era fria e envolta em um silêncio que, para Aliya, finalmente trazia a promessa de um descanso merecido. Ela deixou-se cair sobre a cama, exausta pelo peso daquela noite, a viagem, os olhares ardentes dos supremos, o rancor de sua família. Sentiu os olhos pesarem e, por um breve instante, acreditou que o sono a tomaria sem resistência.
Mas o bater urgente e pesado na porta a trouxe de volta à realidade com um sobressalto. Antes mesmo que pudesse responder, a porta foi aberta com um estrondo. Lá estava seu pai, os olhos estreitos e fulminantes, a expressão carregada de raiva.
"Então é assim que você pretende se portar, Aliya?" ele disparou, cruzando o quarto com passos firmes. "Você causa essa… essa cena humilhante em pleno salão, na frente de todos, e acha que pode simplesmente ir dormir como se nada tivesse acontecido?"
Ela endireitou-se, sentindo o incômodo da presença dele invadir o ambiente pequeno e seguro de seu quarto. "Não me lembro de ter feito nada de errado," disse com um tom de voz mais calmo do que realmente sentia. "Eu apenas… respondi."
Ele riu, uma risada vazia e fria. "Responder? Uma ômega que responde de volta aos supremos? Uma bastarda que nem deveria estar entre nós?"
O golpe de suas palavras era afiado, e Aliya o sentiu profundamente. Mas não deixou que seu pai visse qualquer fraqueza. Manteve o queixo erguido, recusando-se a desviar o olhar.
"Talvez eu não pertença aqui, mas estou tão envolvida nesta família quanto qualquer um dos seus preciosos filhos legítimos. E isso, por mais que tente, o senhor não pode mudar."
"Não seja insolente, garota!" Ele estreitou os olhos, claramente frustrado por ela manter a calma diante de sua fúria. "Eu lhe dei uma casa, comida, um lugar para viver. E como você me retribui? Envergonhando-nos a todos, especialmente diante de alfas tão importantes."
"Retribuir?" Ela riu, com uma amargura incontida. "O senhor me deu as migalhas da sua compaixão, e eu tive que aceitar. Mas não confunda isso com gratidão."
O rosto de Cedrik se fechou, e ele respirou fundo, como se tentasse conter um rompante de raiva. "Acredite, eu não ficarei de braços cruzados enquanto você destrói a imagem de nossa família. Amanhã, você vai se portar com a dignidade que espera-se de uma… uma ômega como você, entendeu?"
Aliya apenas assentiu, cansada de prolongar o confronto. Com um último olhar de desaprovação, ele saiu, fechando a porta com força. O silêncio finalmente voltou, mas o peso das palavras dele se mantinha, latejando em sua mente. Ela se encolheu na cama, fechando os olhos, mas o sono vinha pesado e desconfortável, manchado pela fúria contida e a dor de mais uma lembrança amarga.
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Na manhã seguinte, Aliya despertou com uma leve dor de cabeça. A noite mal dormida parecia cravar-lhe garras na mente, e a primeira sensação ao acordar foi o desconforto da realidade ao seu redor. Sabia que o café da manhã seria outra prova de resistência, mas não tinha escolha.
Arrumou-se rapidamente e desceu, tentando se preparar mentalmente para enfrentar sua família. Quando entrou na sala de jantar, encontrou Laena e Lyanna conversando, ambas parando de falar assim que a viram.
"Oh, olha quem decidiu nos agraciar com sua presença," Laena murmurou, um sorriso falso cruzando seus lábios. "Imaginei que talvez, depois do show que deu ontem à noite, você preferisse se esconder."
Aliya manteve o rosto impassível. "Não tenho nada a esconder," respondeu, sentando-se e pegando uma maçã.
Lyanna sorriu de lado, o olhar carregado de escárnio. "Certo… Você gosta de agir como se fosse parte importante aqui. É engraçado, para ser honesta."
"Ou talvez patético," Laena completou, em um tom que parecia calculado para atingir Aliya onde doía. "Uma ômega bastarda tentando se colocar entre os lobos de verdade."
A jovem sentiu a raiva crescer, mas se conteve. Sabia que responder só daria a elas a satisfação de vê-la perder o controle. Manteve-se em silêncio, ignorando os olhares reprovadores e os comentários venenosos que ecoavam pela mesa. A manhã se arrastou, mas logo encontrou uma desculpa para escapar daquela situação e sair de casa.
Ela vagava pelos arredores, procurando um lugar onde pudesse sentir-se sozinha, onde pudesse respirar. Em meio a seus próprios pensamentos, foi quando viu Kael. Ele estava no limite da floresta, ao longe, mas os olhos dele rapidamente a encontraram, como se tivessem sido atraídos pelo cheiro dela, pela presença.
Kael estreitou os olhos ao vê-la, hesitando por um momento antes de caminhar em sua direção. Quando finalmente parou a poucos passos dela, a jovem loba sentiu a tensão pulsar entre eles.
"Está aproveitando sua liberdade?" ele perguntou, com uma pontada de ironia na voz.
Aliya ergueu o queixo, não permitindo que ele a intimidasse. "Aproveito o que posso, quando posso," respondeu, com um leve toque de desafio no olhar. "Por que se importa?"
Kael respirou fundo, como se a pergunta dela o provocasse de alguma forma. "Você parece fugir muito fácil. É isso que faz lá fora, entre os humanos? Foge de sua natureza?"
"Não fujo de quem sou. Apenas prefiro estar onde não me limitam pelo que sou."
"Não percebe que ser quem você é — uma loba — traz força? Você nega algo que poderia usar a seu favor."
"Prefiro escolher o que quero ser," ela disse, com firmeza, "em vez de ser moldada pelos desejos dos outros."
Kael ficou em silêncio, o olhar dele a estudando de maneira que a fazia sentir cada batida do próprio coração. Ele parecia querer dizer algo, mas segurou-se, mantendo uma expressão contida, os olhos levemente perturbados, como se ele próprio não entendesse o que o atraía para aquela conversa, para aquela presença.
Mas o momento foi abruptamente interrompido por um som distante, um chamado urgente. O supremo se voltou para a floresta, e Aliya viu uma expressão séria tomar conta de seu rosto. Ela mal teve tempo de pensar no que poderia estar acontecendo antes que ele desse um último olhar em sua direção.
"Tenho coisas a resolver," ele murmurou, antes de se afastar, deixando-a sozinha.
Kael alcançou Aiden rapidamente, e os irmãos se juntaram ao grupo que aguardava nas bordas da floresta. A missão diante deles era uma que envolvia mais do que diplomacia; exigia ação, e os dois sabiam que os riscos eram altos. O inimigo que aguardava estava envolto em sombras, uma ameaça que não podia ser ignorada.
Os irmãos trocaram um olhar e, em silêncio, avançaram juntos. A selva ao redor era densa, mas os sentidos dos alfas estavam alertas, prontos para qualquer movimento. Quando o alvo apareceu, houve um momento de silêncio mortal, uma pausa que precedeu o inevitável.
Aiden foi o primeiro a atacar, movendo-se com uma precisão brutal, enquanto Kael se posicionava ao lado dele, a guarda perfeita, os movimentos afiados e calculados. Era um confronto intenso e impiedoso, onde os dois mostraram a verdadeira força e brutalidade que possuíam como Supremos. Cada golpe, cada movimento, era feito com uma sincronia feroz, uma coreografia letal.
O oponente tentou revidar, mas não era páreo para a fúria implacável dos alfas. No final, Aiden o derrubou, imobilizando-o enquanto Kael proferia as palavras finais, selando o destino do inimigo com um olhar frio e definitivo. Eles sabiam que essa era apenas uma pequena vitória em uma guerra que ia além das forças físicas; algo mais profundo estava em jogo, algo que, para ambos, ainda era incerto.
E com o pôr do sol tingindo o céu de vermelho, os irmãos voltaram à alcateia, carregando o peso de mais uma vitória e o pressentimento de que desafios maiores ainda estavam por vir.
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Atualizado até capítulo 48
Comments
Magna Figueiredo
Engraçado q eles traem,geram os filhos...e depois jogam toda a culpa na criança q não pediu pra vir ao mundo...hipocrisia demais viu /Skull//Skull//Skull//Hammer//Hammer//Hammer/
2025-02-28
5
Andressa Silva
uma verdadeira cobra essa duas
2025-02-24
2
Ester
que porra de pai é esse
2025-03-18
0