A LUNA

Kael apertou a mandíbula, mas assentiu, embora claramente relutante. Aliya manteve o olhar em Aiden, que agora a estudava com uma curiosidade silenciosa, como se tentasse descobrir algum segredo escondido dentro dela.

"Então, Aliya," Aiden finalmente falou, o tom mais suave, quase provocador, "você parece ter opiniões muito... bem formadas sobre quem pertence a este lugar e quem não pertence."

"Eu apenas prefiro estar onde não sou julgada pelo que sou," respondeu, mantendo o tom neutro, mas sabendo que seus olhos desafiadores traíam qualquer tentativa de indiferença.

"Onde você sente que pertence, então?" Aiden perguntou, e o peso daquela pergunta pareceu penetrar mais fundo do que ela esperava. Kael, que a observava em silêncio, inclinou-se ligeiramente, como se quisesse ouvir cada palavra da resposta dela.

Ela respirou fundo, mantendo o controle. "Longe daqui," murmurou, sem quebrar o contato visual. "Entre os humanos. Com eles, minha posição não importa."

Os olhos de Aiden estreitaram-se por um breve instante, mas ele rapidamente retomou a expressão neutra. Aliya teve a sensação de que suas palavras o afetaram, mesmo que ele tentasse disfarçar. Kael, por sua vez, a olhava com uma intensidade que beirava o desconforto, como se tentasse desvendar algo além das palavras dela.

"Entendo," Aiden murmurou, com um sutil toque de sarcasmo. "Mas, talvez, você precise de um pouco mais de compreensão sobre o que significa ser uma loba entre os seus. Não adianta fugir para os humanos, Aliya. Mais cedo ou mais tarde, você sempre será trazida de volta à sua verdadeira natureza."

Aliya ergueu as sobrancelhas, uma provocação silenciosa surgindo em seu sorriso. "Talvez eu prefira uma natureza que não me limite."

Kael sorriu ligeiramente, como se tivesse gostado da resposta dela. "Parece que temos aqui uma loba que não gosta de jaulas," comentou, em um tom quase de aprovação. "Mas, Aliya, a liberdade também exige um preço. E nós, como Alfas, entendemos melhor do que ninguém o que significa carregar o peso das escolhas."

Aliya estreitou o olhar, sentindo uma leve irritação misturada com curiosidade. "Não vejo como alguém que possui tudo poderia entender o que significa liberdade."

O salão estava tão quieto que se podia ouvir a respiração contida dos que observavam a cena. Kael e Aiden trocavam olhares silenciosos, mas havia um entendimento claro entre eles — algo mais profundo e instintivo do que qualquer palavra que pudessem trocar.

"Talvez um dia você entenda, Aliya," Aiden murmurou, a voz baixa, mas carregada de significado. "Ou talvez possamos mostrar a você."

Com isso, ele deu um leve aceno, como um encerramento daquele confronto. Kael ainda a olhava como se quisesse dizer algo mais, mas por fim se conteve, seguindo o irmão enquanto ambos se afastavam, deixando-a ali, no meio de olhares curiosos e sussurros.

Aliya se sentiu estranhamente aliviada quando eles finalmente saíram de seu campo de visão, mas não conseguia evitar a sensação de que algo irreversível havia começado.

...****************...

O evento se arrastava, e a pressão sobre a jovem se intensificava a cada momento. Ela estava cercada por rostos conhecidos, mas a sensação de não pertencer ali a envolvia como um manto pesado. As conversas ao seu redor eram superficiais, e os olhares de desprezo que recebia de alguns membros da família tornavam a situação ainda mais insuportável. Depois de interações vazias e uma noite de sorrisos forçados, ela decidiu que era hora de ir embora.

Caminhando em direção à saída, Aliya se despediu rapidamente da família, ignorando o olhar calculista de sua madrasta e as provocações sussurradas de sua irmã. Assim que atravessou os portões da mansão, a brisa fresca da noite a envolveu, e ela respirou fundo, sentindo a liberdade à espreita.

...****************...

Na vastidão silenciosa da mansão dos Supremos, a madeira escura e o mármore polido refletiam a luz bruxuleante do crepitar das chamas. O ambiente era frio e impassível, uma fortaleza para aqueles que não temiam nada — ou ao menos gostavam de acreditar nisso. Aiden e Kael estavam sentados em poltronas de couro robusto, distantes um do outro, mas com a tensão entre eles tangível, quase palpável.

Aiden segurava um copo de cristal, balançando o whisky âmbar que cintilava à luz do fogo. Seus olhos de aço estavam fixos no líquido, mas seus pensamentos vagavam para muito além da superfície daquela bebida. Ele trazia no semblante a dureza de alguém acostumado a comandar, a nunca baixar a guarda. Um líder nato, inquebrantável, mas naquela noite havia algo diferente; um tumulto interno o atormentava, uma chama difícil de apagar.

Kael, do outro lado, observava o irmão em silêncio, os dedos tamborilando sobre o braço da poltrona, em uma inquietude que tentava camuflar. Seus olhos eram uma escuridão perigosa, que escondia promessas de caos. Enquanto trazia o copo aos lábios, o whisky queimou sua garganta, mas não o suficiente para dissipar o que se agitava em seu peito.

" Ela não é como as outras, não é? " Kael finalmente quebrou o silêncio, a voz baixa, um sussurro que mais parecia um trovão no espaço vazio.

Aiden ergueu o olhar, o rosto impenetrável, mas um brilho de entendimento passou por seus olhos. Ele sabia a quem Kael se referia, sabia que estava se referindo a Aliya, aquela jovem ômega que, por algum motivo, conseguia inquietá-los de maneira incomum.

"Não sei do que você está falando, Kael " Aiden respondeu, a voz calma, mas havia uma ponta de provocação ali.

Kael riu, um som abafado e irônico. Ele se recostou, um sorriso cínico dançando em seus lábios. " Não se faça de desentendido, irmão. Eu a senti... de uma forma que nunca senti ninguém."

Aiden apertou o copo, o maxilar rígido. " Não é possível. Uma ômega, Kael? Uma mulher qualquer? Estamos há séculos esperando nossa Luna, e ela definitivamente não é..."

"Então explique, Aiden, porque eu sinto seu cheiro em cada respiração, mesmo a quilômetros de distância " Kael cortou, a voz carregada de frustração e incredulidade. "Está lá, como uma marca, uma chama que não posso apagar. O perfume dela é... avassalador."

Aiden abriu a boca para retrucar, mas hesitou. Ele também a sentia. Desde o instante em que a olhou nos olhos no salão, o perfume de Aliya se cravara em sua mente como uma obsessão, uma marca invisível, que agora não conseguia dissipar.

"Isso é ridículo, Kael. Ela é só uma ômega rebelde e orgulhosa. Por que estamos nos importando com isso?" Aiden resmungou, tentando racionalizar o inexplicável.

Kael franziu o cenho, o olhar sombrio fixo no irmão. "Você também sente, não sente? Não minta para mim, Aiden. Não depois de quatrocentos anos de espera." A voz dele era quase um rosnado. "A ideia de estarmos ligados a uma mesma mulher... Isso é uma afronta aos deuses, uma piada."

Aiden engoliu em seco, a verdade pesando em cada fibra do seu ser. Finalmente, depois de um silêncio torturante, ele admitiu:

"Sim, eu a sinto. E não só o cheiro... os batimentos dela. É como se ecoassem no meu peito, como se fizessem parte de mim. E isso me deixa furioso."

Kael fechou os olhos por um breve segundo, a mandíbula trincada. A constatação de que estavam vivenciando o mesmo tormento era um golpe para ambos.

" Isso não faz sentido " murmurou, a voz rouca. " Somos alfas, supremos. Imortais. Não podemos... dividir uma ômega." As palavras saíram como um veneno, o olhar cheio de raiva e uma vulnerabilidade que ele não gostava de admitir.

Aiden deu um longo gole no whisky, sentindo a bebida arder em sua garganta. Quando voltou a falar, a voz estava carregada de ironia amarga:

"Eu sei. A ideia de sermos ligados a ela é... inaceitável. Como os deuses podem nos impor algo assim? Um trisal?" Ele riu, mas o riso morreu rapidamente em seus lábios. "É ultrajante. Os deuses devem estar se divertindo com nossa desgraça."

Kael se levantou, os olhos brilhando com uma intensidade sombria, a frustração irradiando de cada linha de seu corpo. "Então vamos manter distância dela, Aiden. Não vamos ceder. Eu não vou me curvar a esse destino que querem impor. Aliya não será nossa luna. Ela não será nada para nós."

O irmão o observou, as palavras dele ecoando em sua mente. Ele também não queria ceder, não queria admitir a força daquele laço. Mas uma dúvida o corroía, um receio que, por mais que tentasse, não conseguia dissipar.

" E se... "Aiden começou, hesitante, mas logo sua voz se tornou mais firme "e se resistir for inútil? E se esse laço for mais forte do que imaginamos?"

Kael deu as costas, cerrando os punhos, como se a simples ideia fosse uma afronta. "Prefiro morrer a me render a uma ômega. Prefiro desafiar o destino a aceitar essa ligação."

Aiden assentiu, mas o peso daquela resolução pairava sobre ambos. Eles eram os Supremos, guerreiros invencíveis, imortais... mas, diante da presença de Aliya, havia algo que os desestabilizava de uma maneira inexplicável.

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Comments

Ester

Ester

que idiotas Affff estão a 400 anos esperando a companheira e quando encontram não querem por ser ômega e ser dos dois eles tem mais é que ficar sozinhos mesmo não merecem ela

2025-03-18

1

Jamilly Santos

Jamilly Santos

bora ver quanto tempo isso vai levar 🤣

2025-03-08

1

Mih Batista

Mih Batista

kkkkkkkk Bom pra ela !!! Eita lelê

2025-03-05

2

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