CONFLITO E PRESSÃO

A manhã trouxe uma fina garoa e um céu cinzento, prenunciando o que seria um dia difícil. Aliya chegou ao escritório com a sensação de que estava prestes a enfrentar uma batalha. Ao entrar, notou que a atmosfera estava ainda mais pesada que no dia anterior, e os olhares rápidos dos funcionários não passaram despercebidos.

Ela subiu ao andar dos Supremos, e, ao chegar à sala de reuniões, encontrou Aiden e Kael já de pé, olhando mapas e gráficos digitais. O semblante de ambos era sério e impenetrável.

“Bom dia,” cumprimentou Aliya, tentando manter a compostura.

Aiden apenas ergueu o olhar, com um toque de ironia. “Ah, você chegou. Pensei que talvez tivesse desistido antes mesmo de começar.”

Aliya retribuiu com um sorriso frio. “Se quer me provocar, vai ter que se esforçar mais, Aiden.”

Kael, que analisava algo em um tablet, ergueu a cabeça e soltou um suspiro impaciente. “Chega de brincadeiras. Temos problemas de verdade.”

“Quais problemas?” perguntou Aliya, inclinando-se para ver a tela, que exibia um alerta vermelho.

“A carga principal não chegou ao porto,” Kael respondeu, a voz tensa. “Produtos perecíveis. E não temos ideia de onde o caminhão está.”

Aliya sentiu o peso das palavras. Cargas desaparecidas eram o pior pesadelo de qualquer operação logística. “Já tentaram contato com a transportadora?”

Aiden bufou. “Claro. E eles nos disseram que o caminhão sofreu um ‘pequeno atraso’. Como se isso resolvesse alguma coisa.”

Kael se aproximou dela, os olhos cravados nos dela com intensidade. “Precisamos agir agora. A questão é como vamos resolver isso rápido o suficiente para não perder clientes.”

Aliya respirou fundo. “Temos algum plano de contingência?”

Aiden cruzou os braços, o olhar desafiador. “Para isso você está aqui, não está? Me mostre o que sabe.”

Ela cerrou os lábios, mantendo a calma. “Precisamos rastrear a carga. Vou ligar para a transportadora e exigir um relatório imediato. E enquanto isso, é melhor que comecemos a contatar fornecedores locais para um possível plano de substituição.”

Kael deu um leve aceno de aprovação, mas não sorriu. “Isso é o básico. Melhor você correr, porque o tempo está contra nós.”

Aliya ignorou o tom ríspido e se dirigiu ao telefone, discando o número da transportadora. A ligação foi tensa e recheada de desculpas, mas ela conseguiu arrancar uma informação valiosa: o caminhão havia sido interceptado em uma rodovia próxima. A notícia fez seu estômago afundar.

Ela voltou para a sala, a expressão séria. “O caminhão foi interceptado. Não temos garantia de que a carga será recuperada.”

Aiden bateu o punho na mesa. “Ótimo. Então estamos completamente expostos.” Ele olhou para Kael, e os dois trocaram um olhar sombrio.

Aliya deu um passo à frente, determinada a manter o controle. “Não estamos totalmente expostos se agirmos rápido. Consegui um acordo preliminar com alguns fornecedores locais ontem, se precisar substituir algo. Com a permissão de vocês, posso confirmar.”

Kael a encarou, avaliando. “Faça isso. Mas saiba que se algo der errado, quem vai lidar com a reação dos clientes é você.”

A tensão era palpável. Aliya assentiu e saiu da sala, se dirigindo ao setor de compras para finalizar os contratos emergenciais. O processo foi desgastante e cheio de burocracia, mas ela conseguiu garantir a entrega de uma nova carga até o fim do dia.

Quando retornou, Kael estava debruçado sobre um novo relatório e não desviou os olhos quando ela entrou. “A carga substituta vai chegar hoje?”

“Sim, já está confirmada,” respondeu Aliya, com firmeza.

Aiden, que até então parecia distante, se aproximou dela, os olhos cintilando com um toque de provocação. “Vamos ver se você realmente está pronta para lidar com essa confusão. Qualquer erro, e o problema é seu.”

Aliya estreitou o olhar. “Eu estou lidando. E qualquer erro no caminho, talvez vocês também possam ser mais claros sobre os recursos que temos. Transparência seria útil.”

Aiden soltou uma risada seca. “Cuidado com o que pede, Aliya. Você pode não gostar de ver o lado mais sombrio desse negócio.”

Kael interveio, a voz baixa e dura. “Basta. Precisamos que tudo saia perfeitamente. Falhas não são uma opção.”

Aliya assentiu, sentindo o peso da responsabilidade. “Não vai haver falhas. E se tiverem algo a dizer, vão ter que esperar o resultado final.”

Os gêmeos a observaram por um instante, como se quisessem ver se ela realmente aguentaria a pressão. Finalmente, Aiden deu um passo para trás e assentiu, ainda com o semblante fechado.

Horas se passaram. Aliya dedicou cada segundo para garantir que as cargas substitutas chegassem no tempo certo e com a qualidade exigida. Sentia-se drenada, mas não havia espaço para hesitação. Ela sabia que qualquer erro — mesmo o mais simples — seria usado contra ela pelos alfas, e seu orgulho lhe dizia que jamais daria a eles essa satisfação.

No fim do expediente, já escurecendo, ela recebeu uma mensagem do supervisor da doca: a nova carga estava sendo descarregada e os produtos estavam em perfeitas condições. Aliya respirou aliviada, mas apenas por um segundo. Sabia que os gêmeos não esperariam menos que isso.

Subiu para dar a notícia. Ao entrar na sala, encontrou Aiden e Kael em uma conversa séria, ambos com expressões endurecidas. Quando a viram, pararam e esperaram que ela falasse.

"A carga foi descarregada," disse Aliya, com a voz firme. "Dentro do prazo. Tudo conforme o planejado."

Kael assentiu, mas não demonstrou satisfação. "É o mínimo que esperávamos."

Aiden, com um sorriso provocador, acrescentou, “Esperava mais esforço de você, Aliya. Passou o dia inteiro nisso, e tudo o que conseguiu foi uma solução razoável.”

Ela o encarou, contendo a vontade de reagir de forma mais intensa. “Razoável ou não, foi feito. Se tivessem algo melhor em mente, poderiam ter me avisado antes.”

Kael franziu o cenho, cruzando os braços. “Você realmente acredita que tem o direito de nos cobrar alguma coisa? Está aqui porque decidimos. Não se esqueça.”

Aliya sentiu o sangue subir ao rosto, mas se manteve firme. “Acredito que tenho o direito de apontar o que ajuda a resolver problemas. Ou, ao menos, vocês não teriam me dado essa responsabilidade, certo?”

Aiden estreitou os olhos. “Cuidado com o tom, Aliya. Está começando a se esquecer de onde está.”

Ela deu um passo à frente, enfrentando o olhar dele. “Acreditem, eu sei exatamente onde estou. Vocês me testaram hoje, mas eu também percebi algumas coisas. Há problemas aqui que não dependem só de mim, e talvez seja melhor focarmos em resolver isso juntos.”

Um silêncio pesado caiu entre os três. Eles estavam em constante conflito, não só externo mas também interno. Ela mexia com as emoções dos supremos assim como eles mexiam com as emoções dela.

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