Aliya estava na piscina de sua casa, mergulhada até a cintura na água morna. A noite estava quieta, e as luzes do jardim projetavam um brilho suave na superfície da água. Sentia-se finalmente à vontade depois do dia intenso que tivera. O ar ali fora parecia mais leve, e estar longe da família e daquele ambiente opressivo ajudava a aliviar o peso que carregava nos ombros.
Ela segurava o celular próximo ao ouvido, conversando com um velho amigo, Luca, um humano alemão que conhecera durante seus anos de estudos na Europa. A voz familiar do outro lado da linha trazia uma sensação de conforto e normalidade que ela tanto precisava naquele momento.
"Então, como está sobrevivendo de volta ao seu mundo de lobos?” perguntou ele em um tom divertido, com aquele sotaque característico. Aliya sorriu, balançando a cabeça.
"Ah, você nem imagina, Luca. Aqui as coisas são bem… complicadas," respondeu ela, a voz soando cansada. “Mal cheguei e já me sinto fora de lugar. As formalidades, o jeito como eles tratam qualquer um que não seja um Alfa... É como se o meu próprio povo fosse mais uma jaula do que uma família.”
Luca riu do outro lado, mas havia uma nota de preocupação em sua voz. “Eu ainda acho que você deveria ter ficado na Alemanha. Aqui as pessoas respeitam você pelo que é, não por títulos ou… linhagens. Sabe que há sempre um lugar para você aqui, Aliya.”
Ela suspirou, o olhar perdido na superfície da água. “Eu sei. Às vezes, sinto que realmente pertenço mais ao mundo humano do que a este. Mas tem uma parte de mim que ainda… se sente ligada às minhas origens. É complicado.”
“Complicado é eufemismo para isso, não acha?” Ele riu, tentando aliviar o peso da conversa. “E esses lobos que mandam em tudo? Ouvi dizer que são imponentes, quase como... como reis.”
Aliya mordeu o lábio, a lembrança dos Supremos ainda viva em sua mente. A presença deles, a intensidade de seus olhares... Era como se a marcassem sem precisar dizer uma palavra.
“Imponentes é pouco,” respondeu ela em um tom que mesclava ironia e sinceridade. “Eles são intimidadores. Não são só Alfas. São... algo além disso. E o pior é que, de alguma forma, parece que não consigo sair da órbita deles.”
Luca fez uma pausa, e ela pôde imaginar a expressão preocupada dele. “Você está falando sério? Como assim, Aliya?”
Ela hesitou, tentando encontrar palavras para descrever a sensação perturbadora que aqueles dois homens causavam nela. “É difícil de explicar. Só… sinto que, toda vez que estou por perto, é como se o ar mudasse. Não sei o que é, mas tem algo nos olhares deles, como se eles… me conhecessem de uma maneira que eu mesma não entendo.”
Luca ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder. “Aliya, isso soa perigoso. Não quero que você se envolva em algo que a machuque. Você sabe que, para eles, você é apenas uma...”
“Eu sei,” interrompeu ela, o tom mais firme. “Para eles, sou apenas uma ômega. E isso já é motivo suficiente para me manter à distância.”
Aliya passou a mão pela superfície da água, pensativa. “Mas, ao mesmo tempo, tem algo mais. Como se houvesse uma força que nos ligasse de uma forma que eu não consigo explicar.”
“Isso é um sinal para sair daí,” sugeriu o amigo, a voz levemente brincalhona, mas com um fundo de preocupação real. “Você pertence ao mundo, Aliya, não a uma prisão de regras e poder. E se você voltar pra cá, tem uma vida toda esperando.”
Ela sorriu, tocada pela sinceridade dele. “Eu sei. Mas por enquanto… vou ficar e tentar entender o que está acontecendo. Tem algo em tudo isso que eu preciso descobrir. É quase como se fosse um chamado.”
O amigo suspirou do outro lado da linha. “Bem, só me prometa que vai se cuidar. Qualquer coisa, você sabe como me encontrar.”
“Prometo,” ela respondeu, sentindo uma ponta de saudade.
Eles se despediram, e Aliya colocou o celular de lado, inclinando-se na borda da piscina. Seu olhar se perdeu nas estrelas, a mente em uma confusão de sentimentos e pensamentos. Sabia que a presença dos Supremos a perturbava profundamente, mas não sabia exatamente o motivo. Era como se os deuses tivessem marcado seu destino com eles, um destino do qual ela queria desesperadamente escapar, mas ao mesmo tempo, não conseguia deixar de encarar.
Ela fechou os olhos, tentando afastar aquelas sensações. Sabia que enfrentar o próprio destino era inevitável, mas não queria admitir que talvez, apenas talvez, ele estivesse mais próximo do que pensava.
...****************...
Na manhã seguinte, a imponente mansão dos Moreau recebia seus visitantes ilustres. Os Alfas chegaram para uma reunião de negócios com Cedrik, seus passos firmes ecoando pelo mármore impecável do hall. O ambiente, embora grandioso, tinha uma atmosfera de tensão. Algo que os irmãos rapidamente perceberam.
Enquanto o pai de Aliya os conduzia para o escritório, no andar de cima, ela estava no quarto, presa em uma conversa amarga com a madrasta.
“Por que insiste em agir como se fosse parte desta família, Aliya?” a mulher disparou, com um olhar de desdém. “Você é uma ômega, uma bastarda, e é apenas uma sombra aqui. Suas tentativas de se encaixar só fazem tudo pior.”
Aliya respirou fundo, tentando não reagir. Mas as palavras da madrasta eram afiadas, atingindo-a em um ponto frágil que, secretamente, sempre carregou. "Eu não estou tentando me encaixar. Só estou aqui porque esta é minha família."
“Família?” A madrasta riu, sem esconder o desprezo. “Você é uma intrusa, Aliya. A única coisa que trouxe foi vergonha. E ainda tem a ousadia de voltar, como se realmente fosse parte disso. Acho que está na hora de parar de se iludir.”
As palavras atingiram Aliya com uma força inesperada. Ela piscou, tentando controlar as lágrimas, mas a dor era inevitável. “Não me preocupo com o que você acha,” disse ela em voz baixa, mas a firmeza que pretendia soar vacilava. “Eu voltei para minha família, mesmo que você nunca vá aceitar isso.”
“Isso, Aliya, é o problema. Você insiste em chamar de ‘família’ algo que nunca será seu,” a mulher disparou, cruelmente. “Volte para onde estava, para o mundo que escolheu com os humanos. Você nunca pertenceu a este lugar.”
O coração de Aliya apertou-se, e dessa vez ela não conseguiu esconder as lágrimas. Não respondendo mais, saiu rapidamente do quarto, descendo os degraus enquanto os olhos úmidos nublavam sua visão. Precisava de ar, de um espaço onde aquela dor pudesse sair sem que ninguém a visse.
Lá fora, no jardim, ela deixou que as lágrimas caíssem livremente, tentando entender por que ainda se importava. O pensamento de voltar para a Alemanha era reconfortante, uma ideia de liberdade de tudo aquilo que a aprisionava.
No entanto, no escritório, os gêmeos sentiram um desconforto estranho. Algo no peito deles apertou, como se uma dor surda lhes alcançasse o coração. Ambos pararam brevemente, o incômodo se manifestando como uma fisgada.
Kael, incapaz de controlar o impulso, olhou para a porta do escritório, como se algo o estivesse puxando para fora. Ele não queria admitir, mas sabia o que era – a dor de Aliya. Por mais que lutasse contra aquele laço, parecia impossível resistir.
“Eu volto logo,” murmurou para Aiden, sem esperar resposta, deixando o irmão e o pai de Aliya em meio à reunião. Aiden, por sua vez, apenas o observou sair, mas o incômodo no peito continuava, e o fato de Kael agir impulsivamente o irritava mais ainda.
Kael caminhou rapidamente pelo corredor até avistar a figura solitária de Aliya no jardim. Ela estava de costas, os ombros ligeiramente curvados, e o som abafado de um soluço escapou por entre as mãos que cobriam o rosto. Ele se aproximou lentamente, como se tentasse não espantar uma criatura ferida.
“Aliya,” sua voz ressoou pelo jardim, grave, mas com uma ponta de cautela.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 48
Comments
Julia Santos
a deixado ser burra não sabe que nao gostam de vc
vai viver a sua vida
2025-03-11
1
Ester
como que são destinados e ela não sabe
2025-03-18
0
Rosa Vermelha
eu acho o texto muito longo
2025-01-29
0