UMA DECISÃO ARRISCADA

Ela sobressaltou-se, enxugando rapidamente as lágrimas e erguendo o olhar. Seus olhos vermelhos e a expressão vulnerável eram raros e desconcertantes para ele, mas, em vez de mostrar qualquer fraqueza, ela se recompôs rapidamente.

“O que você quer?” Ela falou, sua voz firme apesar do rosto molhado pelas lágrimas. “Veio me lembrar de que sou apenas uma ômega, como todos aqui adoram fazer?”

Kael permaneceu em silêncio por um momento, estudando-a com um olhar impassível, mas algo em sua postura dizia que estava incomodado. “Não precisa de mais alguém para dizer o óbvio,” respondeu, tentando manter o tom frio. Mas ele não desviou o olhar, e havia algo nos olhos dele, uma compreensão inesperada. “Só... quero saber o que aconteceu.”

Ela riu amargamente, cruzando os braços em uma postura defensiva. “Nada que importe para você ou para qualquer um.” Sua voz era áspera. “Estou cansada, Kael. Cansada deste lugar, dessa vida. Eu nunca deveria ter voltado.”

“Então, por que voltou?” Ele estreitou os olhos, a expressão desafiadora. “Você diz que quer ir embora, mas ainda está aqui, ainda volta. Ainda está buscando algo que sabe que não encontrará.”

Ela o encarou, cada palavra dele parecendo um golpe. “Achei que estava buscando um lugar onde pudesse, finalmente, pertencer. Mas você tem razão. Eu vou embora. Voltar para a Alemanha é a única escolha lógica. Lá, eu tenho paz. Não sou lembrada a cada instante do que nunca serei.”

Kael sentiu o peito apertar com aquelas palavras. A ideia de Aliya se distanciando, sumindo para longe, lhe causava uma inquietação desconhecida, mas não se permitiu mostrar isso.

“Então vá,” disse ele, em um tom que quase parecia um desafio, mas havia uma leve hesitação, um brilho que traiu o que realmente sentia.

Sem dizer mais nada, Aliya virou-se, deixando Kael para trás, com a conversa ecoando em sua mente. O Alfa a observou desaparecer pelo jardim, o rosto impassível, mas os punhos cerrados. Ele não queria que ela fosse.

No escritório, Aiden, que tentava concentrar-se na reunião, sentiu-se ainda mais incomodado ao notar a expressão de Kael ao retornar. Algo estava se rompendo entre eles, e ele sabia que era Aliya quem causava essa fissura. O que quer que houvesse entre os três, estava prestes a tornar-se um problema impossível de ignorar.

Após um longo e pesado silêncio, a reunião foi interrompida por um dos assistentes do pai de Aliya, que entrou para oferecer um intervalo. Ele aproveitou para observar os Alfas, notando a tensão evidente nos rostos dos irmãos. Cedrik, ainda curioso, percebeu que algo incomum estava em jogo, mas optou por permanecer em silêncio, permitindo que os Alfas saíssem para conversar.

Os Supremos foram até a varanda da mansão, onde a brisa fria parecia cortar a tensão entre eles.

“E então?” Aiden quebrou o silêncio, a voz firme, mas com um tom de impaciência. “O que aconteceu lá fora, Kael?

Kael, incomodado, lançou um olhar desafiador ao irmão, mas, no fundo, sabia que ambos estavam em terreno desconhecido. “Eu a encontrei no jardim,” admitiu, o rosto impassível. “Ela estava chorando. Disse que quer ir embora... voltar para a Alemanha.”

Aiden sentiu um peso no peito com aquelas palavras. A ideia de Aliya deixando aquele território, desaparecendo para longe, o incomodava de uma maneira que ele não queria admitir. E a frustração apenas aumentou ao ver a expressão de Kael – que, ele sabia, também estava perturbado com a possibilidade.

“Ela... o quê?” Aiden perguntou, com um toque de descrença, tentando manter a voz firme. “Não podemos deixá-la ir, Kael. Isso pode nos afetar mais do que estamos prontos para admitir.”

Kael bufou, tentando manter a postura fria, mas a tensão em seu olhar traía o que ele sentia. “E o que você sugere, Aiden? Que a arrastemos de volta? Se é isso que ela quer...”

Mas, antes que ele terminasse, Aiden interrompeu, com uma ideia que surgiu quase por impulso, como se estivesse sendo guiado por uma força invisível. “Ela não precisa ir embora, se estiver ligada a nós por algo maior... algo que a mantenha por perto.”

Kael o olhou, surpreso. “O que está sugerindo?”

Sem responder diretamente, Aiden respirou fundo e retornou ao escritório onde Cedrik aguardava. Kael hesitou, ainda atordoado, mas o seguiu.

Ao entrar, Aiden caminhou até o pai de Aliya, mantendo a postura firme e autoritária. “Temos uma condição para a continuidade dos negócios,” ele disse, com uma frieza que parecia calculada, mas seus olhos brilhavam com algo além disso.

O homem olhou para eles, surpreso, mas manteve a calma. “Qualquer coisa que precisarem, estou à disposição,” respondeu ele, ligeiramente desconfiado.

Kael manteve-se em silêncio, esperando, enquanto Aiden tomava a frente. “Queremos que Aliya trabalhe conosco diretamente. É uma condição para o acordo.”

Cedrik piscou, chocado, tentando processar a proposta inesperada. “Aliya? Mas... ela não tem nada a ver com os negócios de vocês. E, francamente, não tenho certeza se é do interesse dela.”

“Ela é mais capaz do que parece,” Aiden replicou, em um tom firme. “E é isso que queremos. Não é uma negociação.”

Kael, embora surpreso e ainda incomodado com o rumo daquela conversa, não pôde evitar um leve sorriso, quase imperceptível. No fundo, gostava da ideia de tê-la perto, mesmo que essa presença o deixasse em constante conflito consigo mesmo.

O pai de Aliya olhou de um para o outro, desconcertado, mas percebeu que o tom deles era definitivo. “Eu... posso falar com ela,” disse, hesitante, ainda sem entender totalmente o que movia aqueles Alfas.

“Não,” Kael interrompeu, com uma firmeza quase possessiva. “Não se trata de um pedido. Ela vai trabalhar conosco, e você sabe que é o melhor para todos.”

Ainda processando a situação, o pai de Aliya assentiu, desconfortável. Não ousaria recusar uma exigência dos Supremos, e sabia que, no fundo, eles já haviam decidido o destino da filha.

Quando a reunião foi retomada, Aiden e Kael trocaram um olhar cúmplice e intenso, ambos conscientes de que haviam cruzado uma linha. E, embora uma tensão palpável ainda pairasse entre eles, o fato de manter Aliya próxima era, para ambos, uma vitória que sequer admitiriam.

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