O ambiente da sala era opressivo, como se as paredes estivessem se fechando sobre nós. O ar estava carregado de tensão, e a cena à nossa frente congelou no tempo. Clara, que até então havia sido apenas uma lembrança, estava ali, mas não como a amiga que conhecíamos. Seus olhos, geralmente tão cheios de vida, estavam agora opacos e perdidos, e a expressão em seu rosto era uma mistura de medo e desespero.
Em um canto, um grupo de pessoas observava, suas risadas se transformando em murmúrios nervosos ao perceber nossa entrada. Um homem alto e magro, com um sorriso sinistro que lembrava um predador, estava próximo a Clara. Ele a segurava pelo braço, como se ela fosse um troféu, e eu sentia que o pânico tomava conta de mim.
— Clara! — gritei, a palavra escapando da minha boca como um grito de socorro. — O que está acontecendo?
Ela virou a cabeça em nossa direção, e por um breve momento, o brilho da esperança passou por seu olhar. Contudo, a realidade logo a fez desviar o olhar, como se a força da situação a mantivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia escapar.
— Você não deveria estar aqui, — Clara murmurou, sua voz quase um sussurro. — É perigoso.
— O que você quer dizer? — perguntei, me aproximando cautelosamente. — Nós viemos te buscar. Precisamos sair daqui!
O homem que a segurava, percebendo a tensão crescente, riu com desdém. — Vocês realmente acham que podem levar Clara embora? Este é o lar dela agora.
As palavras dele eram como lâminas afiadas, cortando o tecido da esperança que começara a se formar. Meu coração disparou, e o instinto de proteção se acendeu. Não podíamos deixar que isso acontecesse.
Isabel deu um passo à frente, seu rosto determinado. — Clara, nós não vamos te deixar aqui. Este lugar não é seguro.
O homem soltou um riso baixo, quase zombeteiro. — Segura, vocês dizem? Mas ela está tão feliz aqui. É tudo o que ela sempre quis, não é, Clara?
As palavras dele ressoavam, e a confusão em Clara se intensificou. Ela olhou para o chão, como se a terra sob seus pés tivesse se tornado um abismo que a engolia. A sala começou a girar ao meu redor, e uma onda de frustração me atingiu. Precisávamos de respostas, e eu não podia permitir que essa situação continuasse.
— Clara, escute! — chamei novamente, minha voz firme. — Você não pertence a este lugar. Nós somos suas amigas, e estamos aqui para te ajudar!
Nesse momento, a tensão na sala era palpável. As risadas e conversas ao redor diminuíram, e todos os olhos se voltaram para nós. Senti que o tempo se arrastava enquanto esperava pela reação de Clara.
Ela finalmente levantou a cabeça, e havia uma nova determinação em seu olhar. — Eu… eu não sei o que aconteceu comigo. O que eu fiz. Estava tudo tão confuso…
O homem a interrompeu, seus olhos escurecendo de raiva. — Você não precisa se preocupar com elas, Clara. Elas não entendem. Você é mais do que elas podem imaginar.
— Mas eu quero entender! — Clara gritou, a voz quebrando em meio à emoção. — O que aconteceu comigo? O que eu estou fazendo aqui?
A revelação que eu temia estava prestes a se desdobrar, e a sala se encheu de uma tensão palpável. O homem hesitou, como se estivesse ponderando suas palavras.
— Você está aqui porque escolheu. Esta é a sua verdadeira família agora. — Ele olhou para nós com desprezo. — E se vocês não saírem, pode acabar muito mal para vocês.
Isabel apertou minha mão, sua preocupação refletindo a minha. O homem estava tentando nos intimidar, mas a coragem de Clara estava crescendo.
— Eu não escolhi nada, — ela insistiu, e suas palavras eram firmes. — Eu quero sair daqui.
O homem riu novamente, mas desta vez, a risada soou vazia. — Você não sabe o que está dizendo. O que você tem aqui é um poder que nunca soube que possuía. Eles não podem te proteger como nós.
— O que você quer dizer com “poder”? — perguntei, a curiosidade misturada ao medo. — O que está acontecendo com você, Clara?
As luzes começaram a piscar, como se a atmosfera estivesse respondendo à tensão crescente. Clara parecia estar lutando contra algo dentro de si, uma batalha que nem ela compreendia completamente.
— Eu… não sei, — ela admitiu, lágrimas escorrendo por seu rosto. — Eu só queria escapar de tudo…
O homem deu um passo à frente, suas intenções cada vez mais ameaçadoras. — E você acha que elas vão te ajudar a escapar? Elas não sabem nada sobre o que realmente está acontecendo.
— O que é isso? O que você está tentando nos esconder? — perguntei, o desespero se transformando em determinação. — Clara merece saber a verdade!
A tensão na sala atingiu um ponto de ruptura. Clara olhou para nós, e pela primeira vez, parecia enxergar além da névoa que a cercava.
— Eu quero saber a verdade, — ela disse, e sua voz estava cheia de coragem.
O homem hesitou, e uma centelha de dúvida passou por seu olhar. Ele sabia que havia cruzado uma linha. A luta pela liberdade de Clara estava prestes a começar, e a decisão dela poderia mudar tudo.
De repente, as luzes começaram a piscar de forma mais intensa, e um som estrondoso ecoou pela sala, como se algo estivesse prestes a desmoronar. A cena que se desenrolava diante de nós era um redemoinho de emoções e decisões, e cada segundo contava. O destino de Clara e o nosso estavam entrelaçados, e era hora de enfrentarmos a verdade que estava prestes a ser revelada.
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Atualizado até capítulo 47
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