Um Lugar de Sombras

A noite se aproximava, e a cidade, que antes era um mar de luzes, agora se tornava um lugar de sombras. As ruas estavam desertas, e um frio arrepiante se instalava no ar, tornando o ambiente ainda mais sombrio. Com o mapa segurado firmemente em minhas mãos, a ansiedade pulsava dentro de mim, como um tambor ressoando em um silêncio profundo. O caminho até o local do ritual estava marcado, e eu precisava seguir as instruções com precisão.

— Onde fica exatamente esse lugar? — perguntei ao homem, que caminhava ao meu lado, seus passos firmes ecoando nas calçadas de pedra. Seu olhar estava fixo à frente, como se ele já soubesse o que nos aguardava.

— Nos arredores da cidade, — ele respondeu, sua voz grave e controlada. — É uma antiga capela, agora esquecida pelo tempo. A maioria das pessoas nem sabe que ela existe.

As árvores ao longo da estrada estavam desprovidas de folhas, suas silhuetas pareciam garras esqueléticas se estendendo em direção ao céu. A atmosfera carregava um peso de expectativa, e a cada passo que dávamos, sentia que algo se aproximava, algo que estava além de minha compreensão.

Conforme avançávamos, os contornos da capela começaram a surgir entre as árvores, como um fantasma do passado. Suas paredes eram cobertas por heras, e a entrada estava parcialmente bloqueada por destroços, dando a impressão de que o lugar tinha sido abandonado há muito tempo. Um calafrio percorreu minha espinha enquanto eu olhava para a estrutura, uma mistura de medo e curiosidade me consumindo.

— Este é o lugar, — disse o homem, interrompendo meus pensamentos. Ele hesitou, observando a capela como se estivesse relembrando uma história que preferiria esquecer. — O ritual acontece aqui, mas não se esqueça do que eu disse. A Espiral não perdoa aqueles que não estão prontos para enfrentar suas verdades.

— Estou pronta, — respondi, mas a dúvida se infiltrava em meu coração. O que eu realmente sabia sobre estar “pronta”? Minhas memórias de Clara, da investigação e da dor estavam entrelaçadas como fios em uma tapeçaria, e eu não tinha certeza se conseguiria lidar com as revelações que estavam prestes a acontecer.

Adentrei a capela, e o ar frio me envolveu como um manto. O interior era escuro e úmido, e a luz da lua filtrava-se pelas janelas quebradas, criando um efeito etéreo no chão coberto de folhas secas. O som da água pingando ecoava suavemente, e cada gota parecia sussurrar segredos antigos.

No centro da capela, um altar de pedra se erguia, coberto de velas ainda acesas, suas chamas dançando de forma frenética. Ao redor do altar, havia círculos de pedras dispostas meticulosamente, formando uma espiral que parecia pulsar com energia. Senti um arrepio percorrer meu corpo, como se o próprio espaço estivesse vivo, pronto para revelar suas verdades.

— O que fazemos agora? — perguntei, observando o homem, que já estava se movendo em direção ao altar.

— Precisamos acender as velas e formar um círculo ao redor do altar, — ele instruiu, sua voz soando decidida. — É assim que o ritual começa.

Enquanto ele falava, comecei a ajudar, pegando uma das velas e acendendo-a com uma das chamas que dançavam em cima do altar. O fogo crepitou suavemente, e uma onda de calor se espalhou pela sala. À medida que mais velas eram acesas, a escuridão foi se dissipando, revelando o simbolismo do espaço.

Quando todas as velas estavam acesas e o círculo formado, o homem se posicionou ao meu lado, olhando para mim com uma intensidade que me fez sentir vulnerável.

— Agora, precisamos nos concentrar — ele disse. — Feche os olhos e respire profundamente. Deixe que a energia da Espiral flua através de você. Esteja aberta para o que vier.

Segui suas instruções, fechando os olhos e respirando profundamente. Tentei esvaziar a mente, mas os pensamentos sobre Clara, o assassinato e o homem familiar continuavam a assolar minha consciência. As sombras atrás das pálpebras pareciam ganhar vida, e uma sensação de vertigem tomou conta de mim.

De repente, um sussurro ecoou, suave e distante. Era como se os próprios espíritos da capela estivessem tentando se comunicar. As imagens começaram a surgir em minha mente — flashes de memórias, fragmentos de uma história que estava interligada ao meu presente.

A imagem de Clara, sorrindo, mas com uma expressão de preocupação. A cena do crime, o homem que parecia tão familiar e, então, a Espiral se desdobrando diante de mim, revelando um caminho obscuro que eu não estava pronta para trilhar. A conexão estava ali, evidente, e a verdade ameaçava me engolir.

— Concentre-se no que você está vendo — a voz do homem interrompeu meus pensamentos. — O que você sente? O que isso significa?

— Sinto... um medo profundo. E uma conexão, — eu respondi, ainda imersa nas visões. — É como se tudo estivesse ligado de alguma forma.

— Exatamente, — ele confirmou. — A Espiral revela verdades que estão entrelaçadas no tempo. Você precisa seguir esses sentimentos e descobrir o que eles significam para você.

Tentei me ater às visões, mas uma sensação de pânico começou a surgir. As imagens se tornavam cada vez mais intensas, e a energia da capela parecia se intensificar. A conexão estava se tornando mais forte, e eu percebi que estava prestes a descobrir algo que mudaria tudo.

Em um último impulso, respirei fundo e me deixei levar. A Espiral estava me chamando, e eu estava prestes a entrar em um reino de verdades ocultas que prometiam desvelar não apenas os segredos do passado, mas também o futuro que estava por vir.

E assim, no coração da capela, cercada pelas chamas dançantes e pela energia pulsante, eu estava prestes a descobrir o que realmente significava ser parte da Espiral. As verdades que estavam entrelaçadas entre nós estavam prestes a ser reveladas, e não havia como voltar atrás.

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