Lembranças Esquecidas

A capela diante de mim parecia ainda mais sombria do que antes. As paredes, cobertas de musgo e lembranças esquecidas, pareciam sussurrar segredos enquanto nos aproximávamos. Isabel estava ao meu lado, seus olhos determinados refletindo a mesma inquietação que eu sentia. Cada passo em direção à porta me lembrava da vulnerabilidade de Clara e do mistério que cercava aquele homem.

Assim que cruzamos o limiar, um cheiro de madeira envelhecida e umidade nos envolveu. O interior era quase despojado, exceto por algumas velas apagadas e o altar que se erguia à nossa frente, um símbolo de esperança em meio ao desespero. Mas não era a espiritualidade que eu buscava. Meu foco estava em algo muito mais sombrio.

— Precisamos ser cuidadosas, — sussurrei para Isabel, enquanto nossos olhos se ajustavam à penumbra. — Ele pode estar aqui a qualquer momento.

Isabel acenou, mantendo o olhar fixo na entrada. O silêncio que nos cercava era opressor, e uma sensação de que algo estava prestes a acontecer pairava no ar. O tempo parecia se arrastar enquanto esperávamos, mas minha mente estava em constante movimento. As peças do quebra-cabeça estavam começando a se encaixar, mas havia um espaço vazio que me deixava ansiosa.

— O que você acha que Clara descobriu? — perguntou Isabel, quebrando o silêncio.

— Eu não sei, mas sinto que é algo profundo. Algo que pode mudar tudo. — Minha voz estava tingida de nervosismo. — O que quer que esteja acontecendo aqui, não é apenas sobre ela. É sobre todos nós.

Neste momento, uma sombra se moveu à minha esquerda. Um arrepio percorreu minha espinha, e meus instintos dispararam. O homem que eu temia estava ali, parado sob a luz fraca que filtrava pelas janelas empoeiradas. Seus olhos, um tom profundo de azul, refletiam uma sabedoria inquietante, mas havia algo mais que me fazia sentir que ele não era totalmente desconhecido.

— O que vocês estão fazendo aqui? — sua voz soou como um eco distante, reverberando nas paredes da capela.

— Nós viemos falar com você, — respondi, tentando esconder o tremor na minha voz. Isabel permaneceu em silêncio, mas eu podia sentir sua presença firme ao meu lado.

— Falar? — Ele arqueou uma sobrancelha, um sorriso quase sardônico se espalhando por seu rosto. — Falar é o que todos fazem antes que a verdade os encontre.

Uma onda de raiva e confusão me atingiu. A audácia dele em menosprezar nossa determinação me deixou ainda mais decidida.

— Nós sabemos que você está envolvido no que aconteceu com Clara, — declarei, a coragem crescendo dentro de mim. — Precisamos de respostas.

— Respostas? — ele riu, um som frio que ecoou pelas paredes vazias. — E o que faz vocês acharem que eu sou a pessoa certa para isso?

A tensão na sala aumentou, e eu sentia o olhar de Isabel em mim, esperando por uma resposta.

— Porque você está aqui. Porque você sabe mais do que deixa transparecer. — A confiança em minha voz era como um manto, me envolvendo e me protegendo de sua frieza.

Ele caminhou lentamente em nossa direção, e o espaço entre nós parecia se encurtar, o ar pesado de expectativas e segredos.

— Você realmente acha que pode entender tudo isso? Que conhece o jogo em que está se metendo?

A maneira como ele falou, como se eu fosse uma marionete em um teatro, me irritou.

— Não sou uma peça de xadrez. — A resposta saiu como um golpe. — Eu sou a jogadora. E estou aqui para ganhar.

— Então, vamos jogar. — Ele sorriu, mas havia uma tensão nas suas palavras que deixava claro que esse jogo não era para os fracos.

Um silêncio pesado caiu sobre nós, e por um breve momento, eu pensei em Clara. O que ela pensaria se estivesse aqui? O que ela diria?

— Você pode achar que isso é um jogo, mas estamos falando da vida dela. — A voz de Isabel cortou o ar, e eu me voltei para ela, admirando sua coragem.

— Vida? Ou apenas uma nova forma de controle? — O homem respondeu, suas palavras saturadas de desprezo.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei, tentando decifrar seu olhar penetrante.

— Há coisas que você não sabe, coisas que Clara não sabe. Ela é uma peça importante nesse tabuleiro, mas não a única. — A forma como ele falava me deixava inquieta.

— E você está controlando o jogo? — desafiei, sentindo a adrenalina percorrer meu corpo.

Ele riu novamente, mas não era um riso alegre. Era uma risada que parecia se alimentar do medo que pairava no ar.

— O jogo controla a todos nós. E vocês estão prestes a aprender uma lição importante sobre os limites da curiosidade.

As palavras dele eram um aviso, e uma sensação de desespero começou a se infiltrar em meu peito. Eu sabia que ele estava se referindo a algo muito mais sombrio do que imaginávamos.

— Não vamos desistir, — respondi com determinação, sentindo que precisava reafirmar meu lugar nesse jogo. — Se você tem alguma informação sobre Clara, precisa nos dizer.

— Não sou seu informante, — disse ele, a frieza de sua voz cortante como vidro. — Mas estou disposto a jogar. E a pergunta é: você está pronta para as consequências?

Neste momento, um tremor percorreu meu corpo. O que quer que estivesse prestes a acontecer mudaria tudo. Estávamos na beira de algo muito maior do que eu poderia compreender, e a única certeza que eu tinha era de que a busca por Clara estava apenas começando.

Enquanto as sombras dançavam ao nosso redor, percebi que o verdadeiro jogo estava prestes a começar. E, com a vida de Clara em risco, eu não poderia falhar.

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