Depois da noite perturbadora no café, dormir era uma missão impossível. As palavras daquela nota — “Eu já te conheço” — giravam na minha mente como uma música sinistra, reverberando em cada canto do meu pensamento. Me virei na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas parecia que algo pesado me pressionava contra o colchão. Sempre que fechava os olhos, o rosto daquele homem voltava como uma lembrança desagradável, e o sono se tornava um espectro inalcançável.
Quando o relógio marcou cinco da manhã, desisti. O céu ainda estava envolto na escuridão, só que com aquele tom azulado que anunciava o amanhecer. Sentei-me à beira da cama, sentindo o peso da exaustão e o frio da manhã, e observei o silêncio que tomava conta do quarto. Tinha decidido: eu precisava voltar ao café. Precisava entender o que diabos estava acontecendo, descobrir se aquela nota era uma brincadeira ou uma ameaça real.
Antes de sair, dei uma boa olhada ao redor, buscando algo que pudesse me dar apoio. Peguei um bloco de notas, uma caneta e, quase sem pensar, o velho gravador de entrevistas. Sentia que estava prestes a mergulhar em um mistério muito maior do que eu imaginava. Esse pressentimento estava ali, pulsando como uma presença inquietante.
A rua estava deserta enquanto eu caminhava em direção ao centro da cidade. O vento frio da madrugada roçava minha pele, e as sombras pareciam se alongar, tornando a cidade um labirinto de silhuetas. Quando finalmente avistei o café, ele parecia ainda mais envelhecido, quase abandonado. Naquela hora da manhã, a fachada empoeirada e as janelas escuras davam ao lugar uma aura estranha, como um cenário de filme de mistério. A sensação de déjà vu crescia a cada passo.
Enquanto esperava a abertura, meus olhos vagaram pelo asfalto, e foi aí que notei um pequeno símbolo desenhado ali, quase invisível à luz pálida do poste. Era uma espiral dentro de um triângulo, cruzada ao meio por uma linha. Aquilo me atingiu com uma força inesperada, uma sensação de algo familiar e, ao mesmo tempo, perturbador. Era como se aquele símbolo estivesse enraizado em algum canto da minha memória, escondido até aquele momento.
Assim que o café abriu, entrei e fui direto ao balcão. O mesmo barista da noite anterior estava lá, e parecia mais cansado do que antes. Ele me olhou com uma expressão que eu já esperava — um misto de curiosidade e desconforto.
— Bom dia, — falei, tentando soar calmo. — Preciso saber... aquele homem de ontem... ele deixou mais alguma coisa além da nota?
O barista hesitou. Ele se inclinou levemente sobre o balcão, como se quisesse manter aquela conversa longe de qualquer ouvido curioso.
— Olha, eu não sei quem ele era. Mas já vi aquele sujeito por aqui. Ele aparece de vez em quando, sempre com aquele olhar, sabe? Como se conhecesse os segredos de todo mundo.
A confissão dele fez minha pele arrepiar. Eu precisava de mais. Então, perguntei sobre o símbolo, aquele desenho estranho que agora estava gravado na minha mente.
Ele lançou um olhar rápido pela janela, como se estivesse preocupado que alguém pudesse nos ouvir, e então respondeu, com a voz levemente trêmula.
— Esse símbolo... já o vi antes, mas não gosto nem de pensar nele. Dizem que pertence a uma sociedade antiga, uma seita talvez. "A Ordem da Espiral". Não sei muito sobre isso, mas toda vez que aquele cara aparece, alguma marca semelhante surge por aqui.
Quando ele terminou, o peso daquelas palavras se acumulou dentro de mim. Eu estava entrando em um território desconhecido, algo muito além do que poderia compreender.
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Atualizado até capítulo 47
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