A atmosfera dentro da sala se tornava cada vez mais opressiva, como se as paredes estivessem se aproximando, comprimindo meu espaço pessoal. O cheiro de madeira antiga misturado com o perfume doce e enigmático de Margot ainda pairava no ar. Sentado à mesa, eu continuava a olhar para o livro aberto diante de mim. A caligrafia fluida dos nomes parecia dançar na página, quase como se quisesse me atrair para dentro de suas histórias.
A voz de Margot ainda reverberava na minha mente. A Espiral conhecia você. A ideia era ao mesmo tempo intrigante e aterrorizante. Eu estava ali, a poucos passos de uma verdade que poderia mudar tudo, mas o que exatamente eu estava disposto a descobrir? O que isso significava para Clara? O calor de seu abraço e a suavidade de sua risada vieram à minha mente, mas logo foram ofuscados pela imagem do homem que parecia familiar e pelas perguntas que surgiam como um turbilhão em minha cabeça.
Levantei-me, impulsionado pela curiosidade e pela necessidade de desvendar aquele mistério. Comecei a explorar a sala, passando os dedos pelas prateleiras repletas de livros. A maioria estava empoeirada, mas um ou outro parecia novo, quase vibrante, como se estivesse aguardando a visita de alguém que se interessasse por suas páginas. Ao puxar um desses volumes, uma pequena chave caiu de dentro, atingindo o chão com um som metálico. Era uma chave antiga, coberta por um leve véu de poeira. Olhei ao redor, incerto se deveria pegá-la ou deixá-la onde estava, mas a sensação de que ela poderia ser importante foi mais forte.
Após hesitar por um instante, peguei a chave e examinei-a mais de perto. O metal era frio ao toque e apresentava um símbolo gravado, a mesma espiral que eu vira anteriormente. O que essa chave poderia abrir? Fui tomado pela necessidade de descobrir, mas onde deveria procurar?
O som de passos ecoou no corredor, interrompendo meus pensamentos. O homem de antes surgiu novamente, com uma expressão impassível. Ele não disse nada, mas sua presença trouxe uma onda de inquietação que me deixou em alerta. Era como se ele soubesse que eu tinha encontrado algo, que eu estava prestes a ultrapassar uma linha invisível.
— O que você quer? — perguntei, minha voz mais firme do que eu me sentia. Ele não respondeu de imediato, apenas me observou com aqueles olhos frios e impenetráveis.
Finalmente, ele quebrou o silêncio, sua voz baixa e controlada. — Você não deveria estar aqui. Há segredos que não são para os curiosos.
— E se eu quiser saber? — desafiei, sentindo uma mistura de bravura e apreensão.
Ele ergueu uma sobrancelha, e um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto. — Curiosidade pode ser perigosa, especialmente na Espiral. O que você procura pode não ser o que espera encontrar.
Era uma ameaça disfarçada de aviso, e não pude deixar de sentir que havia mais em sua resposta do que ele estava disposto a revelar. O ambiente em volta parecia pulsar com a tensão. O homem se aproximou, e um cheiro de cigarro e álcool emanou de sua roupa, quase sufocante. Ele olhou para a chave em minha mão, seus olhos se estreitando.
— Você encontrou isso, não foi?
Surpreso, olhei para a chave, depois para ele. — O que é? O que ela abre?
Um silêncio pesado se estabeleceu entre nós, e eu podia sentir a expectativa no ar. O homem parecia ponderar suas palavras, e por um breve momento, percebi um vislumbre de vulnerabilidade em seu olhar. Ele se endireitou, como se tivesse tomado uma decisão.
— Há um lugar. Um antigo compartimento onde muitas das verdades da Espiral são guardadas. Você não deve ir lá, mas se realmente estiver determinado a buscar o que está além do óbvio, você vai precisar da chave.
A adrenalina correu por minhas veias. Se havia um local onde eu poderia encontrar respostas sobre a Espiral e sobre o homem que me fazia sentir tão perdido, eu precisava ir. Mas uma parte de mim hesitava. O que aconteceria se eu abrisse a porta daquele compartimento? O que eu poderia descobrir que mudaria não apenas a minha vida, mas a vida de Clara também?
— O que você tem a ganhar com isso? — perguntei, tentando entender suas intenções.
Ele me observou por um momento antes de responder. — Às vezes, as perguntas são mais importantes que as respostas. E a Espiral tem seus próprios modos de recompensar a curiosidade. Mas você terá que agir com cuidado. Os que buscam muito frequentemente se perdem.
Sem querer parecer inseguro, afirmei. — Eu não tenho medo. Estou aqui por um motivo.
— Medo não é o problema, — ele respondeu, sua voz se tornando mais baixa. — O que você precisa tem um custo, e a Espiral não perdoa aqueles que não estão prontos para pagar.
A tensão entre nós era palpável, e, por um momento, o medo e a determinação se chocaram em um duelo silencioso dentro de mim. Eu não sabia se ele estava tentando me intimidar ou se realmente se importava. Mas eu estava determinado a seguir em frente. Peguei a chave e a segurei firmemente, como se isso me conferisse coragem.
— Então, me mostre onde está esse compartimento, — declarei, mesmo sabendo que estava entrando em um território desconhecido, com riscos que não conseguia prever.
O homem hesitou, mas depois assentiu, girando nos calcanhares e começando a andar em direção ao corredor novamente. Segui-o, o coração batendo forte no peito. As paredes pareciam encerrar segredos que ecoavam através do tempo, e, enquanto caminhávamos, eu sabia que estava prestes a descobrir algo que mudaria não apenas minha compreensão sobre a Espiral, mas também sobre quem eu era e o que eu realmente estava disposto a sacrificar para saber a verdade.
Enquanto seguíamos adiante, a sensação de que estava mergulhando em um abismo de mistério e revelações me envolveu. O passado e o presente se entrelaçavam, formando um emaranhado de caminhos que eu não sabia onde levariam. Mas uma coisa era certa: eu estava decidido a chegar ao fundo disso, não importava o custo.
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Atualizado até capítulo 47
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